Isto não tem lógica nenhuma. A sério. Não nasci em Lisboa. Venho cá desde que sou pequeno, algumas das minhas primeiras memórias são em Lisboa ou perto (na Estefânia e em Birre, para ser exacto) — mas esta recordação não pode ser minha. Talvez venha dum livro, dum filme, dum documentário, duma reportagem que vi quando era muito novo. Não faço ideia. Tanto quanto sei, pode ser doutra pessoa.
Enfim, gosto desta memória como se fosse minha, mas tenho a sensação não completamente desagradável de estar a lembrar-me doutra vida. No fundo, é como ler: apanhamos mais vidas do que aquela a que temos direito. É, talvez, perigoso — mas é muito bom.
Se alguém tiver perdido uma memória à Graça, já sabe onde a encontrar.
Referência do quadro: Maluda | Lisboa L | Óleo sobre tela, 73×92cm, 1996 | Colecção particular, Lisboa | Número atribuído: 232 | Fonte: http://maludablog.umnomundo.eu/wp-content/uploads/2008/06/232_lisboa_l.jpg