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Se fosse dado a comparações mais dramáticas, diria que este foi um confronto digno do clássico Onda Choc vs. Ministars. Mas, não. As coisas pelo mundo da literatura infanto-juvenil são mais moderadas e mais civilizadas.

 

O certo é que havia diferenças — mas eu lia isto tudo, fosse lá como fosse.

 

Uma Aventura eram livros mais leves, um pouco estranhos na forma como aqueles miúdos nunca tinham namoradas, amores, desamores ou outros problemas desses — que, como todos sabemos, não são nada típicos das idades. Estou a ser injusto: os livros não podem ser tudo ao mesmo tempo e estes eram livros de aventura — como o título da colecção não se cansa de dizer, já vai para mais de 50 livros... 

 

E acho que houve um olhar mais lascivo da Teresa para um rapazinho qualquer n'Uma Aventura em Paris. Acho.

 

(Depois, a acusação típica: como é que aqueles miúdos têm tantas férias, vão a tantos sítios, acontece-lhes tanta coisa? Se formos literais nas contagens, já devem ter tido umas boas 25 férias de Natal e já deviam ter acabado o doutoramento. Bem, a resposta é: isto são livros de ficção...)

 

Gostei sempre muito de os ler e aprendi muito — viajei a Paris, subi à Torre dos Clérigos, andei pelos moinhos de marés da margem sul, fiz tanta coisa pelas mãos destas gémeas, deste Pedro, deste Chico e deste João. 

 

Ainda por cima, na altura em que comecei a ler estes livros, tinha duas grandes amigas (isto lá pelo ciclo preparatório) que eram gémeas e tinham nomes parecidos com as gémeas dos livros. Depois, tinha na minha turma outro par de gémeas, com outros nomes, mas fisicamente indistinguíveis das gémeas que apareciam na parte de trás dos livros: louras, com o cabelo exactamente assim. E havia as típicas discussões no meio de turmas de adolescentes. Portanto, quanto a enredos de faca e alguidar, tinha a minha turma, com as personagens lá inseridas. Para as aventuras, tinha os livros. E eu era, claro, o Pedro. Aliás, acho que sofria o síndroma "para-Pedro-só-me-falta-o-nome", porque tanto Uma Aventura como o Clube das Chaves tinham Pedros assim a dar para o intelectual. Só me faltava o despacho dos ditos cujos, mas se calhar eu, enquanto personagem, fosse um pouco mais realista como representante dos Pedros deste país. 

 

Muitos anos depois, entrei num elevador duma faculdade de Lisboa e quem tinha à frente? A ministra da Educação. Mas não me lembrei que era a ministra da Educação, porque o que interessa isso quando se é uma das autoras dos livros da nossa infância?

 

 

Já o Clube das Chaves era uma colecção bem mais adulta, se quiserem. E mais real. Os miúdos cresciam. Tinham amores, andavam pelas ruas de Lisboa, zangavam-se, tinham opositores que não eram "maus" (eram o Vasco)... Houve um momento qualquer em que tinha uma verdadeira pancada por aquela trupe. Um dia estava a chegar a Lisboa, vindo do Algarve (e estava a chegar para continuar, porque não vivia em Lisboa) e olhei para a cidade e pensei: "esta é a cidade destes livros" e nesse momento tornou-se, um pouco mais, a minha cidade — que já sabia ser, nessa altura, apesar de ainda não viver por cá. Lembro-me especialmente bem de ver o Pedro a descer uma rua perto do Aqueduto, de mãos dadas com a primeira namorada. Vivia aquilo como se fosse eu.

 

O Clube das Chaves não tem personagens tão conhecidas, se quiserem, mas dá-nos um sabor bem mais nítido do que é a literatura. Nunca mais me esqueci das chaves do avô Cosme...

 

Se um dia as personagens destes livros se encontrassem todos, é provável que as gémeas, o João, o Chico e o Pedro Aventura fossem famosos, mas o Clube das Chaves seríamos nós, anónimos lisboetas que gostam de sonhar com aventuras, mas têm os pés bem assentes na terra.

 


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