Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Às vezes (não devia, mas pronto) vou pequeno-almoçar perto do escritório, em vez do saudável pequeno-almoço matinal em casa, antes de sair. Mas não interessa. O problema é quando, por vezes, saio de casa com um livro e levo-o para o tal pequeno-almoço. Estou com a minha mulher à frente, mas todos sabem que um casamento saudável implica alguns momentos de silêncio comum, um folhear de revista ali, uma leitura acolá, um olhar para o telemóvel aqui, sob o olhar muito crítico de senhoras com um balão de pensamento por cima da cabeça onde vemos escrito "ai, estes jovens, sempre a olhar para o telemóvel". Portanto, estou com a minha mulher à frente, mas começo a folhear um livro (isto passou-se ontem).
Neste caso, o livro é o que vai abaixo, não nesta edição, mas sim noutra, de papelaria, que li há muitos anos.
Começo a ler vagamente, e de repente, é como se tivesse caído num precipício. Endireito-me na cadeira, atento mais na página, começo a ler com atenção.
O raio do livro é mesmo muito bom. De repente, estou a sorrir perante as invectivas contra a "cidade branca" que um distraído cineasta julgou ver em Lisboa, estou a sorrir ainda mais com o tigre inexistência da Mauritânia, estou deliciado a percorrer as apertadas ruas resvés o caminho-de-ferro de Entrecampos, a olhar para um edifício duma fundação habituada a engenharias fiscais, com uma sede pós-modernista que muito deu que falar na Lisboa da altura, tudo salpicado com muita ironia e apartes que não me deixavam largar o livro.
Deixo o pequeno-almoço para trás. A minha mulher termina e olha para mim. Eu continuo a ler. Ela levanta-se e paga. Eu continuo a ler. Ela olha para mim com cara de preocupação.
Lá tenho de cortar com o vício e levantar-me. Há que trabalhar. E custa tanto, com o livro ali ao lado, a chamar por mim.
Por isso, amigos, vão por mim: não levem livros para o trabalho. A bem da produtividade nacional!
Como não tenho mesmo tempo para tudo, acabei de programar não a semana inteira, mas uns quantos posts para amanhã. Assim, garanto que tenho a cabeça bem concentrada no trabalho, que se avizinha muito e complicado, como quase sempre à segunda-feira.
Desta forma, sei o que vai ser o dia de amanhã. Isto nem o vosso melhor astrólogo consegue!
Preparem-se para ouvir falar da Guerra e Paz e de como era possível comprar 1300 páginas por 410$00 no final do século passado (esta forma de representar o dinheiro já parece tão antiga, e no entanto vivemos tantos anos com ela...). Vamos visitar Conímbriga. Vamos falar da Bíblia — e ainda das conversas com o meu avô, do sistema educativo do Estado Novo e ainda de aviões americanos despenhados nas praias de Portugal durante a II Guerra Mundial.
Espero que gostem. Vou agora deixar-vos sozinhos com o blog, vejam lá se levam a passear, que um dia inteiro sem o dono ainda é capaz de o deixar desorientado. Obrigado!
(E, agora, ao trabalho.)
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.