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Meus amigos: agora chegou a moda de gritar contra quem diz o suposto disparate "espaço de tempo". Ora, considerar o tempo um espaço é uma metáfora muito normal. É natural devido à forma como a nossa mente está construída. Podem ler How the mind works de Steven Pinker para perceber isso. A língua é assim: tem metáforas, tem inovações, tem formas diferentes de dizer a mesma coisa. Ainda bem!
É verdade: as hipóteses de cada um de nós ser assassinado ou morrer numa guerra são hoje muito menores do que há 50 anos, do que há 100 anos, do que há 500 anos.
Se não acreditam, leiam:
Para quem não tem tempo para 800 páginas, têm aqui um artigo do mesmo autor.
Para quem objecções à partida ("a violência hoje é de outro tipo!"), leia as perguntas e respostas.
Andei a falar de Steven Pinker por aqui — e eis que ele está à venda, bem embrulhado, na Fnac do Colombo.
Aproveitem!
Já agora, a Visão também achou por bem falar dele e dos palavrões que por aqui já abordámos — mas chamou ao linguista Arthur Pinker. Ele, de facto, também é Arthur, mas ninguém o chama assim...
Já agora, vou explicar-vos como conheci Steven Pinker, de quem vos falei há bocado. Não no sentido de já ter falado com ele, mas no sentido de ter encontrado o primeiro livro dele.
Ora bem, tudo começou quando o meu irmão foi convidado para uma entrevista de emprego em Inglaterra. Isto em 2008…
Antes disso, tinha ido à Inglaterra uma única vez, no ano anterior, na lua-de-mel. Antes que ponham as mãos na cabeça (“mas quem é que vai de lua de mel para a Inglaterra, por amor dos santinhos e da minha rica praia?”), digo-vos já que antes disso fomos de lua-de-mel para outro lado, mais quentinho. Mas disso falo depois. Antes disso, Inglaterra...
Portanto, só lá tinha ido uma vez, o que era estranho, porque sempre fora um apaixonado pelo país (ou países, aliás). Aliás, estudei a cultura e a língua na faculdade — mas ir lá, mesmo, só aos 27 anos (se descontarmos duas idas a Gibraltar, que é uma espécie de Reino Unido concentrado, empacotado e enviado para o sul de Espanha).
Nesse tal ano de 2008 o meu irmão é convidado a ir a uma entrevista numa grande empresa e fica contentíssimo — e algo nervoso. Acabei por ir com ele, não só para ele não ir sozinho, como para servir de treino para uma entrevista em inglês.
A entrevista era em Cambridge. Lá fomos, de avião, campos ingleses a aparecer lá em baixo, aterragem magnífica, comboios para a frente e para trás, telefonemas para a minha mulher, que tinha ficado com o trabalho entre mãos (e, confesso, não estávamos — e não estamos — habituados a estar longe um do outro)——
Espera lá. Eu já vos falei disto. Aqui. Vão lá ler e depois voltem, se faz favor.
Bem, estávamos em Cambridge. A entrevista era à tarde. O meu irmão lá foi, às três da tarde e eu fiquei a vaguear pelas ruas.
Ora bem, o que acontece por volta das três e meia duma tarde de Novembro, em Inglaterra?
Pois, fica de noite.
Tantos anos a estudar o país, e ninguém me tinha dito que ficava de noite às três da tarde! Isso teria explicado tanta coisa…
Bem, lá vaguei por essa noite profunda, apaixonado pela cidade, que se não conhecem deviam conhecer.
Não conhecia quase nada e hoje, que já conheço bastante melhor, depois de várias oportunidades para vaguear, conduzir, correr e andar por lá, sei que nessa tarde percorri aquela vila toda — e quando digo vila, estou a ser irónico, porque a população é comparável à do Porto.
A certa altura vi-me num relvado imenso, à noite, com bicicletas a passar, os edifícios neo-góticos ao fundo, o ar inglês de tudo aquilo a fazer-me crer num livro ou num filme ou na minha imaginação de anos antes. Lembro-me de ter pensado no Clube dos Poetas Mortos — e, sim, eu sei que o filme se passava nos Estados Unidos, mas por algum motivo a região se chama Nova Inglaterra.
Foi uma tarde magnífica, de delicioso frio e chuva bem ingleses. Pois, chuva (isto ainda antes da neve que contei no outro post). Começa a chover. E eu sem guarda-chuva. Na zona da Quay, a olhar para os barcos. Estudantes a passar, em animadas conversas. Eu maravilhado — mas à chuva!
Onde posso abrigar-me?
Obviamente que numa livraria, ou não fosse eu o viciado que sou.
Na Waterstone’s, que para um inglês parecerá tão massificada e pouco tradicional como a nós nos parecem as Fnacs, mas para mim era uma livraria inglesa deliciosa, quentinha e cheia de livros.
Entrei e fiquei maravilhado. Nem vou conseguir explicar bem porquê, mas sair duma rua onde passavam guarda-chuvas e bicicletas e estudantes a caminho dos pubs, tudo encharcado de chuva, para entrar numa luminosa livraria com livros em inglês ficou-me marcado como um especial momento de felicidade.
Ora, o primeiro livro que encontrei e que quis levar de imediato foi este:
Peguei nele, vaguei durante muito tempo, sem pressas nem ninguém à minha espera, pelos quatro ou cinco andares daquele monstro de livraria, fui beber um chocolate quente ao Costa Caffé do último andar...
...e acabei a comprar o livro, numa dessas interacções sem grandes palavras, em que o rapaz da caixa, num inglês muito sumido, me pergunta se quero o cartão de fidelização da Waterstone’s e eu por pouco não digo que sim, só para sentir que iria ali muito mais vezes.
E a verdade é que fui, mas isso são outras histórias.
Lembro-me de estar a ler o livro no resto da viagem, de estar a ler no avião para cá, de estar a ler em casa e de estar a ler em casa dos meus sogros. Não parei até acabar. E o livro é divertidíssimo, principalmente a parte em que Steven Pinker explica porque existem palavrões e quais os mecanismos cerebrais que estão por trás dessas palavras malandras.
Já agora, querem saber se o meu irmão ficou por lá? Hei-de vos contar, mas é fácil de adivinhar, se vos disser que hão-de aparecer mais posts sobre Inglaterra, muito em breve.
(Continua, portanto...)
Fontes das fotos:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Magdalene_College_Cambridge_night.JPG
http://www.jesus.cam.ac.uk/about-jesus-college/college-images/
http://www.librarything.com/venue/25853/Waterstones-Cambridge
Bem, já que andamos numa de línguas por este blog, proponho-vos este livro de Steven Pinker. Para quem tem das línguas e da linguagem humana uma visão convencional, este livro dá uma volta à cabeça parecida com a volta à cabeça de quem achava, há uns séculos, que a Terra era o centro do universo e, depois, vai-se a ver e descobre que não é bem assim.
A linguística — disciplina de que gosto especialmente, para horror de muitos meus amigos, que acham que mais valia dedicar-me às drogas duras — é encarada por muitos como uma heresia no espaço sagrado das Letras e muitos intelectuais acham-na tão perigosa como essa coisa da ciência no tempo da Inquisição. Mas vemos isso depois.
Pinker mostra como a linguística é uma ciência muito interessante. Ele próprio explica o seu estilo de escrita:
O que o livro faz é mostrar como muitas das ideias que as pessoas com educação avançada têm sobre a linguagem humana estão, simplesmente, erradas:
(...)
Já agora, se quiserem, tenham uma "pequena" aula sobre todos estes assuntos. Se não tiverem tempo, ficam pelo menos a saber qual o aspecto de Steven Pinker:
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