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Este livro é um objecto fantástico...
Tanto é assim, que até merece uma ligação à empresa que criou este design.
Só mesmo folheando o livro se percebe o efeito da capa.
Mas, adiante. O livro é uma colecção de crónicas de Nick Hornby sobre livros. São crónicas mensais, escritas para a revista The Believer.
As crónicas são leves, sobre os livros que leu e gostou, os livros que leu e não gostou (cujos títulos e autores não aparecem, porque assim são as regras da revista), os livros que comprou e não leu — e tudo o mais que anda à volta dos livros e da leitura.
Acho que qualquer pessoa que goste deste blog irá gostar deste livro (irá gostar mais ainda, claro, porque Hornby escreve mil vezes melhor do que eu, claro).
(Já agora, Hornby estabelece uma separação marcada entre ficção literária e ficção não literária — e parece que considera a sua própria escrita como não literária. I beg to disagree.)
É tão fácil cair na tentação de bater na ciência. A Sábado publicou um artigo quase humorístico sobre estudos científicos que defendem teses opostas (Sábado, n.º 486, pp. 70-72). Ou seja, a jornalista pega numa ideia comum muito difundida ("os cientistas hoje dizem uma coisa, amanhã outra — logo, não podemos confiar na ciência") e quer confirmá-la, divertindo os leitores à custa dos doidos dos cientistas. Estes, para quem lê o artigo, parecem baratas-tontas à procura de respostas, sem nunca as encontrar (o que até tem um fundo de verdade, mas não da forma que a jornalista pensa). Bater na ciência é fácil, porque a ignorância científica fica reconfortada ("afinal, não sou ignorante; estes cientistas é que não percebem nada").
Sim, é verdade que é possível encontrar estudos para todos os gostos. Por isso é que a verdadeira ciência obriga a estudos replicáveis, nunca se baseia num só estudo para chegar a conclusões, exige uma série de estudos de confirmação para que uma nova teoria seja aceite pela comunidade científica, sabe que há sempre estudos atípicos, há estudos bem-feitos e estudos mal-feitos, e por aí fora.
O que um jornalista poderia fazer era pegar num dos tópicos referidos neste artigo e analisar os vários estudos, perceber quais são os melhores, que meta-análises se fizeram, quais são as conclusões mais sólidas a que podemos chegar neste momento (se as houver), o que diz a comunidade científica sobre o assunto, quais as razões para estes resultados díspares, terá havido problemas nas experiências contraditórias, etc.
Podia até escrever um artigo semelhante, com estes exemplos, mas que explicasse por que razão estes resultados contraditórios aparecem e que métodos usa a ciência para progredir neste emaranhado. Porque a ciência consegue progredir. Quem a ignora (e faz gala disso) é que não sabe o que perde.
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