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Nunca li a Guerra e Paz, mas uma vez comprei um exemplar em inglês, da Penguin (da famosa colecção de que já vos falei) só porque me pareceu ter a melhor relação quantidade de palavras / preço possível numa loja em Portugal...
E, pronto, agora é uma questão de ler. Também comprei há pouco tempo: foi só há 15 anos...
Ainda vos hei-de contar mais histórias de como o meu irmão foi para Inglaterra e as peripécias das nossas viagens por lá e as grandes discussões que tinha e tenho com o meu irmão por tudo e por nada, daquelas discussões épicas e deliciosas que davam um blog só por si.
Mas vou-vos contar um pequeno episódio sobre, what else?, livros.
Nas nossas viagens por Inglaterra, em que ou alugámos carros ou fomos com uma carrinha bem portuguesa até lá, um dos meus prazeres era encontrar aquelas livrarias de segunda mão onde encontrava livros a preços incríveis: £1, £2, 50p, 5p (!) e outros preços que fazem confusão aos olhos de leitor português.
A minha família já se ria do meu entusiasmo e das sacadas de livros que levava dos vários sítios pelo preço dum livro numa loja portuguesa.
As razões económicas ou fiscais por trás desta predilecção inglesa por vender livros ao preço do ar escapam-me, mas isso agora não interessa nada.
O que interessa é que estava eu muito bem numa rua de Newmarket (perto de Cambridge), a passear por entre lojas, com a minha família a rondar aquela rua descontraidamente, quando a minha irmã vem a correr pela rua fora: "Anda cá depressa! Depressa!"
http://www.newmarket.org.uk/
Ainda pensei que fosse alguma desgraça... Mas, não.
Ela tinha encontrado o negócio do século para qualquer tarado dos livros.
Puxou-me pela mão e lá cheguei ao pé duma livraria daquelas tipo Oxfam ou lá o que é e ali estava um móvel, com a indicação absurda: "100 books: 1 pound".
Ainda fui perguntar se aquilo seria erro, mas não. Eram mesmo os 100 livros todos pelo preço de 1 só libra. Cada livro ficava a 1p, que para os mais distraídos é para aí 1 cêntimo e meio.
Estava em choque.
A minha irmã, que queria ficar com a honra de me ter encontrado o negócio do milénio em termos de livros, estava contentíssima.
Mas, claro, os livros eram todos, como hei-de dizer isto sem ofender? Eram todos uma porcaria. Coisas que nem sei bem o que eram.
Entre eles, alguns livros aproveitáveis, mas que já tinha.
E entre eles uma edição portuguesa de A Morgadinha dos Canaviais (!).
Enfim, ainda pensei em trazer uns cinco, que mesmo assim seriam baratíssimos, mas o senhor da loja queria vender todos.
Por pouco não lhe perguntei: "e não me faz um desconto?..."
A minha irmã ficou triste. Mas não havia sequer condições logísticas para trazer a biblioteca mais barata do planeta para Portugal, muito menos só pela graça, que pelos livros não valia mesmo a pena.
E pronto, sou viciado em livros, mas não sou o sucateiro dos livros — e assim perdi 100 livros por uma libra.
P.S. Já agora, para os interessados nos aspectos económicos do negócio da Oxfam, que não são assim tão meritório, pelo menos vistos pelos olhos da concorrência, pode ser este artigo, donde tirei a foto.
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