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Bolas, fiquei a sentir-me um bocado mal com o post anterior. Não quero que pensem que me andei a armar em chico-esperto com um senhor de 70 anos. Sim, às vezes ficava irritado com as opiniões dos meus avós, mas quem não fica? É normal. Eles também não parecem gostar por aí além de algumas opiniões "de agora". É mais do que natural.
O facto de ter um avô que me perguntava coisas só mostra a inteligência do avô, e diz pouco da esperteza do neto. Afinal, é melhor fazer boas perguntas do que balbuciar umas respostas mal amanhadas.
E o meu avô lá ia fazendo boas perguntas: porque não caem os astronautas cá em baixo, porque não falamos todos a mesma língua, etc. e tal. O que só mostra como era inadequada a educação "de antigamente" para responder à curiosidade dos alunos — e como essa curiosidade não morre mesmo 70 anos depois.
Ora, o meu avô, se faz perguntas, também conta imensas histórias. Já pensei, aliás, fazer um blog só com as histórias que o meu avô conta. Como não há tempo para tudo (nem para o que já se faz), vou aproveitando este canto dos livros para isso.
Uma das histórias mais deliciosas é esta (espero não estar a acrescentar muitos pontos — e espero ainda mais não estar a retirar muitas vírgulas):
Durante a II Guerra Mundial (sim, quando ouvimos os avós, até parece que estamos a mergulhar num filme), caíam por vezes alguns aviões americanos na costa portuguesa. Ora, numa dessas quedas, o piloto safou-se e foi resgatado pela população da freguesia do meu avô, que tem umas quantas praias. Levaram o americano, assustado (e provavelmente molhado) ao café mais próximo, para que pudesse comer.
Parece-me tipicamente português: o que se faz a um piloto americano que aparece numa praia? Leva-se para o café. Pode ser que até goste de dominó.
Enfim, dominó não jogaram, mas perguntaram-lhe o que queria. Imagino a cara do americano com um círculo de portugueses dos anos 40 a perguntarem-lhe: "mas o que é que o senhor quer?" "Apetece-lhe o quê?" "Vai um bagacinho?" "Isso o homem quer é um bife!" — e por aí fora.
Foram-lhe oferecendo coisas, que o americano, por uma razão ou outra, ia recusando. Não queria nada. Nem vinho, nem bife, nem água.
Até que aparece o doido da terra e diz: "o homem quer é um galão."
Todos se calam, o dono do café tira um galão, e o americano olha-o com olhos de agradecimento profundo, bebendo o leite com café bem quente como se fosse o maior desejo da vida dele.
É isto.
Pronto, o meu avô conta isto melhor do que eu.
Mas já perceberam o que se ganha em conversar muitas vezes com os nossos avós...
E agora, uma imagem para ilustrar o post.
O problema é que não encontrei uma imagem dum avião americano despenhado numa praia portuguesa durante a II Guerra Mundial.
Pela internet fora, só um avião alemão... Enfim, é melhor do que nada. Aqui fica:
Fonte: http://diasquevoam.blogspot.pt/2006/01/praias-e-guerra.html
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