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Ninguém consegue ler tudo o que gostaria. Pelo menos, ninguém que goste de ler muito.

 

Mas a verdade é que, perante a necessidade de escolher, há quem se imponha critérios que podem ser um limite demasiado apertado à sua curiosidade. 

 

O que quero dizer com isto?

 

Por exemplo, há pessoas de letras que dizem recusar liminarmente ler ciência. Ora, há tantos livros interessantes na ciência que é uma pena que essas pessoas nunca molhem os pés no mar imenso da literatura científica. Ficam com uma imagem parcial e provavelmente errada do que é a Ciência.

 

(Haverá também gente da Ciência que se recusa a ler literatura? Menos do que pensamos. Recusam, talvez, leituras académicas da área da literatura. Mas a literatura em si, ui, há muitos cientistas que lêem e lêem muito.)

 

Noutros campos, há quem se recuse a ler policiais. Não sabem o que perdem. Uma vez por outra, faz bem à cabeça, digo-vos eu.

 

Há ainda quem se recuse a ler autores mais recentes. Há quem se recuse a ler escritores brasileiros. Há quem se recuse a ler isto ou aquilo. Tudo limitações a mais. 

 

Sim, temos de escolher. Mas dizer «nunca» e matar partes imensas da nossa curiosidade só faz mal. Experimentemos sair das zonas de conforto, de vez em quando. Custa um pouco, mas é um risco que devemos correr para sermos surpreendidos e ter uma visão do mundo um pouco mais completa.

 

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publicado às 17:52

O policial é um género que dá para tudo: pode descer aos infernos do cliché e da má literatura, mas nas mãos de um bom escritor, pode dar origem a livros inesquecíveis. E, quase sempre, muito viciantes. (Há ainda os policiais que gozam com o próprio género do policial. Fica para outro dia.)

 

Pois, nem todos concordarão, mas acho a JK Rowling uma boa escritora, muito para lá dos pequenos feiticeiros e feiticeiras com que inundou a imaginação das gerações que vieram a seguir à minha (e que eu acompanhei, já armado em adulto, mas a despachar volumes em noites de directa sempre que saía um novo Harry Potter).

 

A prova está nos três livros sobre os casos de Cormoron Strike, escritos sob o pseudónimo de Robert Galbraith.

 

Mandei vir o último da Amazon ainda não tinha sequer sido publicado e lá chegou, no dia certo.

 

Agora, uma confissão: os livros atropelam-se. Resultado: ainda nem sequer comecei a ler, porque tenho outros a chamar a atenção por motivos de obrigação académica. 

 

Mas ele ali está, à minha espera, um calhamaço de capa dura como são os livros quando acabam de ser editados, a deixar-me água na boca com a sua capa negra e título sugestivo...

 

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Digo-vos: as descrições de Londres são deliciosas, as histórias conseguem mesmo surpreender e as personagens são simpáticas, interessantes e levam-nos a virar página como quem tem um Harry Potter na mão. Quem diria! 

 

(Já agora, ficam a saber que quando digo «ali está» estou a referir-me a uma das estantes, já com muitos livros em segunda fila, com que tenho inundado a minha sala. A minha mulher bem queria mais espaço livre de parede, mas não dá. Idealmente, devia ter um escritório com biblioteca, mas fica como sonho para um futuro longínquo. Também não o posso ter à cabeceira, que já lá estão muitos. Os livros invadem a casa como quem não quer a coisa. Será doença?)

publicado às 17:56

(...and then run for cover.)

 

Gostei do primeiro, mal posso esperar pelo segundo.

publicado às 17:47

Sim, confesso: às vezes peço à minha mulher para levar o livro que estou a ler na mala dela quando saímos de casa. E confesso também que raramente saio de casa sem um (ou mais) livros. Assola-me o terror de ficar mais do que cinco minutos parado, à espera de alguém ou numa fila ou em qualquer sítio aborrecido e encontrar-me sem livros — perdendo assim esses cinco minutos de leitura. Sim, isto é uma doença grave.

Mas, dizia eu, peço muitas vezes à ----- para me levar um livro na mala. E ela aceita, quase sempre. Afinal, conhece bem o bicho com quem casou.

 

Aceita quase sempre.

 

Quando lhe aparece um calhamaço destes à frente, a coisa pia mais fino:



(Ainda por cima em francês, que é língua que ela não gosta nem para carregar na mala.) 

Isto explica que haja livros que leio de forma muito vagarosa, mesmo que tenha vontade de os ler a todo o momento. E este é um caso desses. Tanto assim é que, mesmo depois de ter comprado o dito calhamaço, procurei afincadamente a versão electrónica, pela qual pagaria, se a encontrasse. Mas presumo que o autor seja um ebookofóbico — e se o autor não autoriza, quem sou eu para descarregar uma qualquer versão electrónica dum livro?

E assim se percebe porque que estou ainda no início deste romance policial (La Verité sur l'Affaire Henry Quebert), cujo narrador é um jovem escritor americano, que se vê envolvido num caso de polícia, porque o seu melhor amigo, um escritor consagrado, se vê acusado de assassinar uma menor, 30 anos antes — isto quando o corpo da rapariga é encontrado no quintal do acusado, com o manuscrito da sua obra-prima entre os ossos.

Policial, livros, editores, manuscritos, amores proibidos... Tem tudo para ser um vício para um livrólico como eu. (Ou será bibliólico? Ou anglosaxonicamente bookalólico?)
 
E, sim, armado aos cágados, estou a ler em francês. Há uma tradução em português, mas gosto de, por vezes, treinar o músculo do francês — e, por alguma razão, não me custa nada ler policiais nessa língua (por intercessão de São Simenon, talvez).

Curiosamente, acabo por ter um certo prazer perverso em ler livros franceses com alguma relação com os EUA. É uma perversão intelectual minha, se quiserem. Estes dois povos, parte do trio fundador da democracia como a conhecemos hoje, gostam tanto um do outro como os portugueses gostam dos míticos castelhanos de Aljubarrota. E, no entanto, a relação franco-americana parece ser uma relação de amor-ódio ou talvez de ex-namorados… Afinal, se bem se lembram, no começo de vida dos Estados Unidos, a França era a namoradinha e o Reino Unido era o mau da fita. A França, qual amante enlevada, mandava estátuas da liberdade… Hoje, os franceses acham os americanos a origem de todo o mal cultural e político, uns parolos optimistas que andam aos tiros pelo mundo fora, num massacre cultural chamado de “mondalisation”, enquanto os americanos acham os franceses uns cobardes armados ao intelectual (1), fechados numa cultura decadente e imoral. Ai, que isto são dois simplismos. Mas não somos todos simplistas ao extremo ao olhar para os povos que consideramos estrangeiros? 

 

. . . . . . . . 

 

Alto e pára o baile. Reparo agora que este último parágrafo se baseia num erro de palmatória. Afinal, o autor do romance acima fotografado com amor e carinho não é francês. É suiço. Caraças, o parágrafo estava tão giro, o homem tinha mesmo de ter a nacionalidade errada. Portanto, agora posso apagar o parágrafo, ou continuar para bingo como se nada fosse.

 

Ponho o parágrafo em itálico e adiante.

 

Continuemos, pois. Outro livro em francês sobre os EUA que li há uns tempos (confesso: não o li na totalidade, nem sei se cheguei a metade, mas não interessa) é American Vertigo, de BHL:


 

Sobre este, não vou dizer grande coisa para já. Pode ser que volte um dia, quando já tiver dado outras voltas aqui às minhas estantes e tiver tempo de o ler até ao fim. O que me apetece dizer agora é que estes livros são interessantes e fazem-nos cócegas no cérebro porque nos dão cabo de dois preconceitos. Por um lado, estes franceses parecem compreender a América melhor do que muitos americanos (o que parece ser uma tradição antiga). Assim, ficamos a perceber que os franceses não são todos anti-americanos primários. E, olhando para a América com olhos franceses, lá vemos vendo que a América não é o que anti-americanismo caseiro também acha que é.

A leitura quebra-nos preconceitos e tal: também é para isso que serve...

Todo este arrazoado fez-me lembrar Paris e um livro que folhei num quarto dum primo francês (que nunca vi) nos idos de 1996... Primo francês esse que nunca conheci. O que estava eu a fazer no quarto dum primo francês que nunca vi na vida? Não perca o próximo episódio...

(continua...)

 

 

 

(Fonte aqui.)

 

(1) Já agora, este artigo do The Economist sobre o pessimismo francês é muito interessante. 

 


 

A segunda parte deste post está aqui:

¶ Quando fomos a Paris e encontrámos o mistério do WC (e também falamos de livros)


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