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Se as estantes nos revelam ou nos deixam a alma um bocado nua, como disse num post desta manhã, o que farão as margens escritas dos livros?

 

Como acho que já vos contei há alguns dias, sou muito avesso a escrever nas margens. 

 

Mas, por vezes, lá deixo a mania de lado e desato a rabiscar. É libertador. 

 

Uma vez, caí no erro de emprestar um livro com essas marginalia muito minhas, cheio de exclamações, de dúvidas, de indecisões, de interpretações.

 

O amigo a quem emprestei, quando devolveu, disse-me que achou as notas terríveis, completamente erradas, sem ponta por onde pegar. O livro era muito bom, a minha leitura é que não prestava.

 

Fiquei pasmado: primeiro, pelo desplante dele em ler assim as anotações. Depois, pela forma como o mesmo livro é lido de forma tão diferente por duas pessoas.

 

Mas é assim a vida: somos todos leitores uns dos outros e raramente acertamos nas anotações que fazemos.

 

(Ora muito bem, acho que vou começar a ter este hábito de preparar os posts no dia anterior. Sempre fico mais descansado durante o dia, que isto de actualizar um blog tem que se lhe diga.)

 

Hoje, logo de manhãzinha, vou falar-vos dum problema que tenho com os livros... O problema é este: custa-me muito escrever nos livros. Eles são meus, eu sei, mas mesmo quando tenho de os estudar, para escrever (como já escrevi) uma tese, não gosto de escrever seja o que for, de sublinhar, de fazer as famosas marginalia que tanto prazer nos dão ao olharmos para elas muitos anos depois.

 

Mesmo para pôr a cidade e a data onde os comprei (o que faço com alguns livros), só com lápis e muito levemente.

 

Não sei bem donde vem esta minha mania — tento deixar os livros imaculados, não dobrar a lombada, não deixar marcas dos dedos nas páginas. E, no entanto, anos depois, quando olho para os meus livros, gosto de ver as (poucas) marcas dos dedos nas páginas, das lombadas dobradas, dos livros escritos ou sublinhados. 

 

Não (me) percebo.

 

Por outro lado, se por algum motivo começo a sublinhar ou a escrever num livro, nunca mais paro. O livro quase que se destrói nos meus dedos. Por exemplo, a minha Alexandra Alpha, de José Cardoso Pires, está quase desfeita...

 

Sou um bocado esquisito, de facto.

 

 

Marginalia by Cat Sidh, on Flickr


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