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Chegou esta semana às livrarias um livro que tive o prazer de traduzir e adaptar para português: Cem Maneiras de Melhorar a Escrita, de Gary Provost. A revisão ficou a cargo das mãos seguras de Ana Salgado.

 

Livros sobre escrita há muitos, como sabemos — mas este vale bem a pena. O autor apresenta-nos 100 ideias sobre como «escrever melhores cartas de amor, histórias, artigos de revista, cartas ao editor, propostas de negócio, sermões, poemas, romances, pedidos de liberdade condicional, boletins da paróquia, canções, memorandos, ensaios, trabalhos escolares, teses, grafitis, ameaças de morte, anúncios e listas de compras». Por isso, já sabe: antes de escrever uma boa ameaça de morte, leia primeiro este livro — ou arrisca-se a não meter medo a ninguém. E, sim, as tais 100 maneiras de melhorar a escrita ajudam mesmo a desemperrar os dedos e a escrever melhor.

 

Os leitores deste blogue podem comprar o livro com 10% de desconto e portes de envio gratuitos — basta preencher o formulário abaixo. Boa leitura — e boa escrita!

 

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Há muitas pessoas que estão sempre a pensar nos erros de português (dos outros). Tanto que se esquecem de ouvir o que os outros estão a tentar dizer.

 

Em honra desses enervados da língua, deixo as únicas três sugestões que garantem um português sem erros (e mesmo assim não sei):

  • Não falar e não escrever.
  • Falar sempre em inglês (ou noutra língua à escolha).
  • Falar com guião, depois de mandar rever por duas ou três pessoas.

 

Vá, deixem-se lá de obsessões pouco saudáveis…

 

Quer isto dizer que não me preocupo com os erros?

 

Claro que me preocupo!

 

O que digo é isto: devemos dar mais importância aos nossos erros e um pouco menos aos dos outros.

 

Há excepções: os revisores são pagos para se preocuparem com os erros dos outros. Os professores têm como uma das suas muitas funções ensinar a evitar erros. Mas, tirando esses honrosos casos, andar para aí a apontar erros a torto e a direito não ajuda ninguém.

 

Mas há pior: há quem consiga andar sempre a queixar-se dos erros dos outrose não consiga escrever uma frase seguida sem erros (haverá perdão?). Pior ainda: há quem ande por aí a acusar os outros de erros que não existem. Mas desses já tenho falado muito por aqui. Vou deixá-los descansar só hoje.

 

Ora, espero que me permitam este atrevimento. Proponho alguns princípios para lidar de forma mais saudável com os erros de português:

 

  1. Dar mais importância aos nossos erros do que aos erros dos outros. (Rever os nossos textos, mas ler os textos dos outros.)
  2. Quando o erro for óbvio, corrigi-lo em privado (a outra pessoa agradecerá, se for esperta). 
  3. Não inventar erros (em caso de dúvida, pesquisar antes de acusar alguém).
  4. Aceitar que, por vezes, a língua permite várias construções semelhantes sem que uma esteja necessariamente errada.
  5. Nunca deixar de escrever por medo de errar.

 

Por último: podemos tentar ouvir os outros com algum respeito, mesmo que falem com erros.

 

O português é importante, mas as pessoas ainda são mais.

 

(Então e como dar menos erros? Bem, já aqui dei algumas ideias.)

Espaço de tempo

24.05.14

Meus amigos: agora chegou a moda de gritar contra quem diz o suposto disparate "espaço de tempo". Ora, considerar o tempo um espaço é uma metáfora muito normal. É natural devido à forma como a nossa mente está construída. Podem ler How the mind works de Steven Pinker para perceber isso. A língua é assim: tem metáforas, tem inovações, tem formas diferentes de dizer a mesma coisa. Ainda bem!

publicado às 16:08

Tenho pena de não ler mais livros brasileiros. O pouco que li da literatura desse monstro além-Atlântico foi maravilhoso. Hei-de vos falar disso.

 

Agora, o que não percebo é o horror de alguns portugueses a ler em português do Brasil — ou sequer a aceder a sites em "brasileiro". 

 

Ainda agora, li uma queixa duma gentil utilizadora facebookiana porque tinha acedido a um site norte-americano, que a tinha redireccionado para uma versão em português — ou melhor, em português do Brasil. 

 

Sim, o site norte-americano devia ter, num mundo ideal, as duas versões: português europeu e português brasileiro. Mas, não tendo, decidiu que devia orientar os portugueses para a versão em português. Ai, o horror!

 

A portuguesa queixosa escreveu uma carta à dita empresa, alegando que:

 

a) É ofensivo para um português ser redireccionado para um site em português do Brasil.

 

b) O português do Brasil e o português de Portugal são muito mais diferentes do que o inglês americano vs. inglês britânico.

 

c) Tendo de escolher, o site devia ser sempre em português europeu, porque é a "raiz" e a "fonte" do outro português.

 

Compreendo a dor, mas deixem-se de lamúrias que, aos olhos dos estrangeiros, só mostram pequenez. Pois:

 

a) Percebo que queiramos uma versão na nossa própria variante e, se a empresa estivesse a agir directamente em Portugal, seria um erro crasso publicar textos em "brasileiro" (até porque os portugueses são, de facto, ultra-sensíveis a esta questão). Mas achar ofensivo (!) que uma empresa norte-americana nos redireccione para um site em português (mas não no exacto português que preferimos) é um pouco exagerado.

 

b) Em termos linguísticos, o português de Portugal e o português do Brasil são duas variantes da mesma língua, com diferenças que não são assim tão incomparáveis às diferenças entre o inglês britânico e o inglês americano. A grande diferença é que há muito mais contacto entre os dois ingleses. Aliás, as duas normas cultas (portuguesa e brasileira) estão muito mais próximas, na escrita, do que poderíamos pensar, como é fácil perceber lendo um livro de ciências sociais em português do Brasil, por exemplo (vejam o exemplo abaixo, dum livro brasileiro sobre, exactamente, as diferenças entre as duas variantes — se ignorarem os tremas, o blurb passaria por texto português de Portugal...). 

 

c) Ora, nisto da raiz e da fonte... Tanto nós como os brasileiros partimos duma base comum, e ambos os lados mudaram a língua — há quem diga que nós até fomos mais longe nas mudanças: por exemplo, no som "chchch" na leitura do "s" final das sílabas, que Camões dizia "ssss". Andarmos a discutir onde está a fonte rapidamente descamba em discussões sobre a pureza e a propriedade da língua, e acabamos todos a ter de dizer que falamos galego.

 

Nós somos portugueses, falamos português — e a nossa língua é muito mais do que a nossa variante europeia. É tudo o que está dentro dessa grande língua, de que devemos estar orgulhosos. Não se ofendam tanto — e leiam mais, em português dum e doutro lado. Só temos a ganhar — e nada a perder.

 

 

 

Ainda no domingo passado um comentador deste blog ao vosso dispor escarnecia dos estrangeirismos, o que é normal e se calhar, vai-se a ver, até é saudável. Não sei. Por mim, acho interessante até fazer água na boca a forma como as línguas não viram as costas umas às outras e andam por aí a fazer o amor até em títulos de blog como, por exemplo, o magnífico híbrido anglo-francês (e, no fim de contas, português) Mood du Jour. Ah, bliss...

publicado às 15:20

As pessoas passam a vida preocupadas com a língua portuguesa, mas em vez de arrancarem cabelos, mas vale ler e falar e ouvir e escrever — e a língua, esse bicho safado, lá se há-de safar.

 

Nisso, estou como o Stephen Fry (vejam o vídeo, por favor).

 

Agora, ando a ler o livro Txtng — The gr8 db8, do divertidísismo David Crystal. Este autor explica bem como a linguagem SMS não é nenhum drama, usa mecanismos que já existiam na língua (neste caso, inglesa) e não está a ter impacto negativo no conhecimento linguístico dos jovens. 

 

Antes de começarem aos gritos, experimentem ler o senhor Crystal. É que ele, se calhar, até tem razão.

 

"Ah, então quer dizer que agora podem escrever assim nos testes?" 

 

Não, claro que não podem. E só o fazem por distracção. Desde sempre a língua teve vários registos e não saber usá-los nas situações apropriadas é que é falta de conhecimento linguístico. Tanto erra o aluno que escreve num teste "Ñ sei q resposta dar" como o jovem que escreve uma SMS a uma amiga: "Ex.ma Sr.ª, gostaria de se encontrar comigo depois de amanhã à porta do botequim? Poderá haver possibilidade de contacto físico, se V. Ex.ª assim o entender."

 

publicado às 09:30

Já repararam que há erros que os brasileiros dão e os portugueses não — e vice-versa? Por exemplo, os brasileiros fartam-se de confundir "à" com "a", porque dizem "vou *a* Lisboa" da mesma forma que "vou *à* praia", por causa das benditas vogais abertas do português tropical em comparação com o nosso apagado português ibérico. Esse erro, valha-nos a diversidade vocálica, os portugueses não dão, pelo menos com tanta frequência. Temos outros erros bem comuns — mas isso agora não interessa nada.

 

Isto tudo para dizer que os telemóveis e os respectivos correctores automáticos (ou "facilitadores de escrita" ou o que lhes quiserem chamar) têm feito aparecer aí uma nova classe de erros, que mudam de acordo com o modelo do telemóvel...

 

Por exemplo, o meu querido telemóvel costuma confundir-me "esta" com "está". Ora, eu devia ter mais atenção, eu sei, eu sei, mas ontem à noite (aliás, hoje de madrugada), com a pressa de escrever antes da hora em que o querido Sapo ia entrar na oficina, deixei passar esse erro neste post. Fica como recordação histórica deste nosso tempo.

 

Entretanto, o post prometido nesse post ainda está à entrada do palco, pronto a sair. Está quase, está quase...


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