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E agora, José?

12.03.14

 

 

 

 

Esta capa tem o nome do autor em forma de logo desenvolvido pela Moraes, a editora de eleição deste grande escritor. 

 

[Posts sobre José Cardoso Pires.]

 

 

http://www.doutrotempo.com/livros/e-agora-jose---20%E2%82%AC/29/

publicado às 14:16

Primeira parte deste post: ¶ Livros da minha vida (2.1.): Alexandra Alpha

 

Sim, pensei em continuar este post n.º 2 sobre os livros da minha vida (já agora, o primeiro está aqui), mas acabei por deixar para trás. Tenho de avançar para o terceiro livro, por isso faço este em modo resumo. 

 

  • Leiam com muita atenção a descrição do 25 de Abril neste romance (Alexandra Alpha). É um pasmo literário, em que um autor pessimista e desencantado se transforma num menino maravilhado com tudo aquilo. Já agora, se tiverem tempo, comparem com algumas obras espanholas, em que o 25 de Abril é uma festa distante. Por exemplo, em El dueño del secreto, de Antonio Muñoz Molina.

 

  • Lembro-me de andar a passear muito pelas margens esquerdas do Tejo, por essa altura em que lia Alexandra Alpha, olhando para Lisboa vista daquele lado. Quem conhece José Cardoso Pires, sabe que o autor perdia-se por ir para o Ginjal olhar para Lisboa. 

 

 

Fonte: http://anthropolugus.blogspot.pt/2010/08/almada-by-night.html

 

 

E avancemos para o terceiro livro... Logo que tiver tempo... 

publicado às 11:30

Primeiro livro: Lisboa, Livro de Bordo

O segundo livro da minha vida (não por ordem de importância, atenção…) continua com o mesmo autor. É melhor explicar desde já: já escrevi uma tese sobre José Cardoso Pires, por isso é normal que ele tenha uma certa importância na minha vida. Mas estes livros são importantes por si só, com ou sem tese.
Conheci o autor com a Balada da Praia dos Cães, que li vidrado numa viagem ao Algarve, entre piscinas a ecoar frases em estrangeiro e rodeada de paperbacks molhados e jantares improvisados ao final das tarde quentes dum Algarve muito banal, mas que sabia sempre a férias. Estava muito longe dessa Lisboa dos anos 60, mas é assim a literatura... 
Ora, se Balada da Praia dos Cães é daqueles livros que quase todos os portugueses conhecem, mesmo que nunca tenham lido ou nem sequer se lembrem do nome do autor, já Alexandra Alpha é um pouco menos badalado que a Balada.
Não vou estar a contar a história ou a convencer-vos a ler, mas deixem-me que vos diga que é bem provável (na minha muito humilde e parcial opinião) que este livro venha a ser lido daqui a muitas décadas como a pintura do Portugal da segunda metade do século XX, tal como lemos hoje Os Maias.
Alexandra Alpha é, como no caso d'Os Maias, uma pintura parcial e pessoalíssima, mas também uma pintura divertida, amarga, dolorosa e cheia de surpresas.
Aliás, a surpresa começa logo no início. Afinal, um livro de Lisboa como há poucos, começa no Rio de Janeiro:
Neste livro, temos essa Lisboa duma certa franja intelectual (ou as pessoas que se misturam com essa franja intelectual), com personagens inesquecíveis como Sebastião Opus Night, marialva aldeão a correr as noites de Lisboa e que não conseguia ver a cidade de dia, a Maria de óculos com aros muito grossos (essa imagem tão anos 70), que faz par com a Alexandra que olha a cidade duma altura irreal, e Sophia, e o soldado, e o par andrógino do início e todos os outros que povoam uma cidade que não quer o que tem (o regime anterior), mas não sabe o que fazer e se perde em noites de bebidas e conversas.
(Continua...)
Mas enquanto não continua, fiquem com a capa duma edição em espanhol do livro...

Anda por aí uma corrente facebookiana sobre os 10 livros da vida de cada um. Ora, lembrei-me de falar sobre alguns livros da minha vida, mas não os 10 livros ou sequer os livros. Se os artigos definidos servem para alguma coisa, é para estes casos de ausência: ao não escrever "os" 10 livros da minha vida, estou a explicar que são estes, mas há mais...

 

 

Ora, para começar, temos Lisboa, Livro de Bordo, de José Cardoso Pires.


Este livrinho é lindo. Mas nem é exactamente por isso que o ponho aqui. Fiz, já há uns 11 anos, um trabalho sobre o Incêndio do Chiado e este pequeníssimo livro foi um dos actores principais. Além disso, foi editado por altura da Expo, que marcou a minha ida para Lisboa, e por isso, para mim, é como se fosse uma espécie de baptismo lisboeta em forma de literatura. E acompanhou-me nos meus encantos muito particulares, que incluem as estações de metro, o olhar para o chão, o ouvir a cidade e o adorar estar num sítio destes, que os portugueses (quase) todos adoram detestar, mas que eu não posso viver sem. (Exactamente, assim com o sem no fim, que eu gosto de irritar gramatófilos.)

Ora, o livro também me faz lembrar o estar a ler na Biblioteca Nacional, à espera dos livros que vinham trazidos por senhoras de carrinho desengonçado, de estar a ler jornais na Hemeroteca Municipal, de ler notícias de jornais do século XIX para outro trabalho que fiz na altura…

(O que tem isto a ver com José Cardoso Pires e o seu Livro de Bordo? Pouco, mas isto são livros da minha vida, e a minha vida mistura-se com os livros de formas imprevisíveis.)

Saía da Biblioteca Nacional e estava sol em Lisboa e por essa altura vivia aqueles anos que todos nós temos em que as coisas acontecem em catadupa, em que parece que a nossa vida dava um livro ou um filme ou ambos, no fundo estava a sentir aquilo que o Carlos (o da Maia) sentiu quando disse isto, lá para o fim d’Os Maias:



 

Sim, por esses anos os dias e as noites pareciam mais marcadas, andava por Lisboa, no carro que arranjara pouco tempo antes e que até tinha alcunha, onde aconteceu tanta coisa, por onde discutia tudo e nada com esses amigos que ficam marcados como que a ferro e brasa num livro qualquer que nunca hei-de escrever, mas que me é mais importante do que os outros todos, um livro onde as personagens têm os nomes dos meus amigos e são, no fundo, os meus amigos. Um livro onde nunca poderia haver um narrador omnisciente, porque isso seria o contrário da vida, não é verdade?

 

Não foram os melhores anos da minha vida, que esses estão sempre por vir (e como podem ser, se ainda não havia o Simão?), mas foram os anos mais quentes...


*


Lembro-me ainda de ter encontrado este livrinho, na Fnac, traduzido para… catalão. Por que razão a Fnac vendia em Lisboa a tradução catalão do livro, não faço ideia. Alguém não soube distinguir o catalão do espanhol ao fazer as encomendas do mês.

Comprei-o, porque sempre tive uma pancada pela Catalunha que vos hei-de explicar um dia. Comprei-o e enviei-o ao Ricard, um amigo catalão (internético), com quem conversava sobre muita coisa e a quem gostava de oferecer um guia para a minha cidade, já que a dele já me corria pelo sangue também. Foi assim que enviei pelo correio o Lisboa, llibre de bord: veus, mirades, records.

 

Uma cidade como Lisboa é assim: existe em várias línguas, e é feita de pessoas e de pedras, mas também de livros e literatura.

 

 

 

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