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Esta é uma foto da primeira-ministra escocesa a falar aos jornalistas, há pouco, anunciando planos para um segundo referendo escocês.
Repare-se nas bandeiras que a rodeiam. A Escócia não é um Estado-membro da UE (é, tecnicamente, uma região dum Estado-membro). E, no entanto, a bandeira está lá. De propósito. Tal como a bandeira escocesa. Apenas essas. Mais nenhuma.
Agora, proponho que procurem uma foto com uma bandeira europeia numa declaração do primeiro-ministro britânico em Londres de há muitos anos para cá: será praticamente impossível. Ao contrário de quase todos os Estados-membros, o Reino Unido raramente usa os símbolos europeus.
As bandeiras são pedaços de pano, dirão alguns. Pois são. Mas são pedaços de pano muito significativos.
A verdade é que Reino Unido sempre foi um membro hesitante da União. Mas a grande ironia é que este referendo aparece numa altura em que as gerações mais novas se sentiam cada vez mais europeias e em que as décadas de convivência nos fazem sentir a todos um pouco europeus. Assim, sentimos a saída britânica como uma perda muito nossa. Mas, enfim, está feito. O Reino Unido sai. Teremos de ser amigos como dantes.
Já a Escócia... Um sinal: uma das grandes defensoras da manutenção da Escócia no Reino Unido, há dois anos, foi J. K. Rowling, que lutou com todas as suas forças contra a independência.
Pois bem. Dois tweets da autora, há poucas horas:
- "Goodbye, UK."
- "Scotland will seek independence now. Cameron's legacy will be breaking up two unions. Neither needed to happen."
Não desejo que o Reino Unido se parta em dois. Mas compreendo que os escoceses queiram ficar na Europa: a opção pela Europa foi, por larga margem, a mais votada em TODAS as regiões escocesas. Sem excepção.
E, mais: há dois anos, uns dos argumentos de quem lutou contra a independência foi este: uma Escócia independente poderia vir a ficar fora da UE. Ora, hoje, estamos ao contrário: só uma Escócia independente pode ficar na União.
Tudo isto é difícil. Raramente vemos a política nacional doutro país entrar-nos pela casa dentro e fazer-nos tanta impressão. É a democracia a funcionar, dizem. Claro que sim. Os ingleses têm todo o direito de sair. Tal como nós temos o direito de ficar tristes, como europeus que também somos. E a maior tristeza de todas é a de alguns ingleses, que percebem o que aconteceu: perderam alguns direitos e liberdades dum dia para o outro.
O policial é um género que dá para tudo: pode descer aos infernos do cliché e da má literatura, mas nas mãos de um bom escritor, pode dar origem a livros inesquecíveis. E, quase sempre, muito viciantes. (Há ainda os policiais que gozam com o próprio género do policial. Fica para outro dia.)
Pois, nem todos concordarão, mas acho a JK Rowling uma boa escritora, muito para lá dos pequenos feiticeiros e feiticeiras com que inundou a imaginação das gerações que vieram a seguir à minha (e que eu acompanhei, já armado em adulto, mas a despachar volumes em noites de directa sempre que saía um novo Harry Potter).
A prova está nos três livros sobre os casos de Cormoron Strike, escritos sob o pseudónimo de Robert Galbraith.
Mandei vir o último da Amazon ainda não tinha sequer sido publicado e lá chegou, no dia certo.
Agora, uma confissão: os livros atropelam-se. Resultado: ainda nem sequer comecei a ler, porque tenho outros a chamar a atenção por motivos de obrigação académica.
Mas ele ali está, à minha espera, um calhamaço de capa dura como são os livros quando acabam de ser editados, a deixar-me água na boca com a sua capa negra e título sugestivo...
Digo-vos: as descrições de Londres são deliciosas, as histórias conseguem mesmo surpreender e as personagens são simpáticas, interessantes e levam-nos a virar página como quem tem um Harry Potter na mão. Quem diria!
(Já agora, ficam a saber que quando digo «ali está» estou a referir-me a uma das estantes, já com muitos livros em segunda fila, com que tenho inundado a minha sala. A minha mulher bem queria mais espaço livre de parede, mas não dá. Idealmente, devia ter um escritório com biblioteca, mas fica como sonho para um futuro longínquo. Também não o posso ter à cabeceira, que já lá estão muitos. Os livros invadem a casa como quem não quer a coisa. Será doença?)
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