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Quantos de nós, habitantes orgulhosos desta Sapoesfera, já pensámos donde veio este Sapo?
Se alguém aqui estiver que não sabe donde vem o Sapo, força nas canetas e toca de correr até à Wikipédia, que isto não é nenhum trabalho académico e, para coisas destas, a Wikipédia chega e sobra.
Ora, ficarão assim a saber que o Sapo é aveirense e tem a bonita idade de 19 anos. Um adolescente a caminhar a passos largos para a adultice. Um estudante universitário, provavelmente.
Ora, tinha eu uns 17 anos (mais novo do que o Sapo é hoje, portanto), quando tive de fazer um trabalho para a disciplina de História do 12.º ano. Isto lá pelo ano de 1997. Ora, o trabalho era sobre o 25 de Abril e o grupo era eu e uma colega minha.
A minha colega tinha umas primas que viviam em Lisboa (ui, que aventura!) e eram estudantes no IST. Umas primas mais velhas, muito sábias, do alto dos seus 22 ou 23 anos.
Ofereceram-se para nos ajudar. Lá fomos para Lisboa, de autocarro (nem consigo lembrar-me duma altura antes desses anos em que fiz uma viagem dessas duas vezes por semana, e às vezes mais). Lisboa era ainda uma cidade excitante — bem, para dizer a verdade, ainda o é, mas hoje sou lisboeta, e isso muda tudo no que toca à relação com a cidade, correcto?
Ora, lá aterrámos na capital, andámos a passear, a perguntar às pessoas onde era a Avenida de Berna quando já estávamos na Avenida de Berna, a andar de metro (ui!), a ver aviões (caraças!), enfim, a lisboar por aqui.
Lá fomos então ter com as primas mais velhas. Como era fim-de-semana, fomos até ao IST para lá entrar de forma que, pelo que percebi, não estava totalmente de acordo com as regras. Elas tinham acesso, porque estavam a fazer um trabalho de investigação e tinham acesso aos laboratórios. Estávamos nervosos: numa grande cidade, a fazer coisas ligeiramente ilegais, para descobrir fotos e documentos sobre um golpe de Estado.
Ora, no IST lá estavam computadores com ligação à Internet, coisa que nós tínhamos, mas a uma velocidade que equivalia a não ter, e lá nos apresentaram elas o Servidor de Apontadores Portugueses, ou SAPO, onde fizemos pesquisas morosas de fotos e textos sobre o 25 de Abril, que colocámos em disquetes. Meu Deus, isto hoje sabe a pré-história, daquela com arqueólogos e tudo.
Parecia uma aventura: nós os quatro (eu, colega e primas) à frente dum computador, a ver fotos do 25 de Abril a surgir, linha a linha, em ecrãs daqueles gigantescos. De certa forma, sentia-me no futuro. Ninguém imaginaria uma coisa destas naquele momento em que enfiaram flores por espingardas abaixo...
Não faço ideia o que aconteceu à palavra "apontadores", mas hoje ninguém a usa com esse significado... Já o Sapo, cá está, vivo e de muito boa saúde.
Anos depois, lembram-se de entrar pela blogesfera e os blogs lá cresceram e transformaram-se e hoje são isto que nós vivemos no dia-a-dia. Ainda bem.
(Já agora, não sei se sabem que Portugal é dos poucos países onde um motor de busca nacional faz frente ao Google. Ah, pois é...)
Estas são as páginas deste blog mais lidas nos últimos 30 dias.
Mesmo num blog sobre livros, temos "galdéria" em 4.º, "sexo" em 6.º, "pénis" em 8.º.
Assim se vê...
Vou-vos confessar uma coisa. Espero que não me levem a mal.
O que tenho a confessar é isto: houve um dia em que cheguei à conclusão que não devia continuar a fazer downloads ilegais de música e filmes pela Internet.
Como cheguei a essa conclusão (pessoal!), não vale agora vir para aqui descrever. O que posso dizer é que isso me trouxe alguns dissabores. Tentei explicar junto de amigos o porquê dessa decisão, tentei argumentar, mas aquilo que encontrava era apenas irritação perante a minha impertinência.
Afinal, o download ilegal é uma prática tão comum na minha geração que alguém vir argumentar que pode não ser a melhor coisa do mundo só pode ser coisa de lunático ou armado em santinho.
Não estou, garanto, armado em santinho. Nem sequer me ponho com grandes moralismos perante quem faz o que eu já fiz. Simplesmente, discuto e argumento — e julgo que ninguém pode recusar-se a um bom debate, mesmo que (ou principalmente se) a conclusão do debate nos possa levar a mudar algum comportamento.
Ora, isso sim critico: não o descarregamento ilegal, em relação ao qual continuo com dúvidas, mas sim ao facto de haver pessoas que recusam alterar qualquer tipo de comportamento depois de reflectir. Primeiro faz-se, depois arranja-se os argumentos necessários para justificar o que se fez — e nunca por nunca se considera a vaga hipótese de podermos estar errados.
Se pensarem bem, isso é receita para o desastre... Mas o que posso fazer? Não só muita gente se recusa a alterar comportamentos, como se recusam a alterar uma mera opinião. As opiniões, para muitos, são como as jóias: arranjam-se e penduram-se ao pescoço — e nada mais há a dizer.
Adiante. Estou a arriscar muito com este post, parece-me. Espero que me perdoem esta impertinência toda.
Outra coisa que, nesses (poucos) debates que tive sobre os tais downloads, reparei na argumentação contrária foi o seguinte: como eu já tinha feito downloads ilegais, não podia argumentar contra os mesmos. Mais: certamente continuaria a fazê-los. Aliás, tive um colega que ficou radiante quando reparou que eu usava o YouTube: "isso também é ilegal! Estás a ver? Não tens razão!"
Bem. Quanto ao YouTube, a conversa é mais complicada. Mas não é essa a questão. A questão é esta: eu descarregar ou não seja o que for terá pouca relevância para a razão (ou falta dela) dos meus argumentos. Não sei se estão a perceber... Eu podia continuar a descarregar e não deixar de ter razão nos argumentos. Se o fizesse conscientemente, seria certamente hipócrita, mas tal defeito meu não tiraria razão aos argumentos, que são independentes aqui da minha pessoa...
Esta questão é subtil, mas enfim... É meia-noite e meia, a cabeça já não pensa como deve ser. O que gostava de vos deixar para este início de semana é isto:
E é assim que introduzo Séneca aqui no blog. A Vida Feliz, traduzido por João Forte, editado num livrinho cinzento, que veio publicado num jornal há alguns anos, e que me parece ser uma preciosidade que foi quase gratuita.
Quer isto dizer que me julgo virtuoso? Que defendo a virtude, essa coisa tão outré? Nem por isso. Afinal, acabei de copiar um pedaço dum livro para colar aqui no blog. Onde está a virtude disso?
No que toca aos downloads, o que me faz impressão é o facto de estarmos a prejudicar quem cria aquilo que queremos: a música, neste caso. É como se estivéssemos a matar a galinha dos ovos de ouro. (E se no caso dos músicos poderíamos sempre argumentar que eles ganham é com os concertos, o argumento já não se pode aplicar no caso dos ebooks, por isso não é mesmo nada bom andarmos a roubar os nossos queridos escritores...)
Já agora, aqui está esse livrinho de Séneca ao lado de outro, que comprei numa saborosa livraria londrina, em 2011:
Quem é este Michael J. Sandel? Podem ouvi-lo no YouTube. É uma celebridade, como poucas haverá no mundo da filosofia:
O que está a fazer aqui? Bem, tem tudo a ver com o que está escrito acima (mas o homem nem sequer fala de downloads). Leiam e oiçam e vejam, que mal não faz, e só as pessoas aborrecidas acham isto tudo muito aborrecido...
Perdoam-me? Perdoam-me toda esta filosofia numa segunda-feira? Espero que sim...
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