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Uma das típicas generalizações que diz mais da burrice de quem a diz do que da burrice dos americanos.

Há americanos ignorantes? Claro que sim! Tal como há ignorantes em todos os países, desenvolvidos ou não. Mas antes de avançarmos, talvez fosse bom reflectir um pouco sobre o que quer dizer "ignorante". Será que o mundo se divide claramente entre "ignorantes" e "não ignorantes"? Ou seja, se aparecer um americano na televisão a dizer que não sabe muito bem onde é Portugal (o exemplo típico que os portugueses usam para acusar os EUA de ignorância extrema), isso significa logo que é ignorante? Já conheci pessoas sem conhecimentos de geografia para lá do seu concelho que eram tudo menos ignorantes. Mas, enfim, cada qual lá terá o seu catálogo de coisas "óbvias" que todos têm de saber que, normal e estranhamente, corresponde ao catálogo daquilo que cada um sabe...

Adiante. Havendo critérios fáceis de definir sobre o que é um ignorante, avançamos para outras reflexões: será que os americanos são assim tão ignorantes? Será que não ouvimos apenas aquilo que nos interessa ouvir, ou seja, que notamos apenas os exemplos que confirmam a nossa ideia inicial (neste caso, que os americanos são ignorantes)?

Porque até pode haver muita ignorância naquele país, mas vamos lá dar perspectiva: quantos portugueses sabem onde fica exactamente a Eslovénia? A Eslováquia? A Croácia? Será que se fizéssemos um questionário bem feito, haveria uma maior percentagem de portugueses a saber a localização exacta da Lituânia do que de americanos a saber onde é Portugal? E não me venham com a história que Portugal é mais importante do que a Lituânia, porque a Lituânia teve um papel central na história da Europa. Não conhecem que papel foi esse? Estão a pedi-las...

Continuando. Sendo um país de ignorantes, será de esperar que tenham resultados científicos e académicos baixíssimos. Que tenham poucos prémios Nobel. Que as suas universidades estejam aflitas, carregadíssimas de ignorantes. Será isso que acontece?

Sei perfeitamente que a ignorância alheia aleija muito. Quando a vemos na população que elege os políticos mais poderosos do mundo, aleija mais ainda (às vezes aleija mesmo fisicamente, quando nos passa um drone em cima). Mas temos de combater as nossas ideias tão bem-feitinhas, tão vagas, tão indignadas e, às vezes, tão injustas.

Neste caso, o que se pede é um critério mensurável que nos permita comparar "ignorâncias" entre populações. Podem procurar. Digo-vos que ficamos um pouco mal na pintura. A não ser que o único critério de sabedoria do mundo seja saber onde é Portugal...

Quando ouvirem um americano a dizer que não sabe onde é Portugal, digam-lhe onde é. Quando ouvirem um português a dizer que não sabe onde é o Chipre, digam-lhe onde é. E respirem fundo. Depois, comecem a reparar nos casos que não confirmam aquilo em que acreditam.

Por exemplo, quando fui a Nova Iorque, há uns anos, comecei a falar com um americano, que logo me afirmou, quando lhe falei de Portugal, que preferia Coimbra de entre todas as cidades portuguesas que conhecia.

E esta, hein?

*

Pedro Mexia, em Fora do Mundo:


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