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Hoje falo de comboios, livros galegos, conversas saborosas, números em romeno e beijos à francesa. Tudo por causa duma viagem a Inglaterra e do que por lá ouvimos.
Estávamos nós numa velha estação de comboios, ao final sereno duma tarde inglesa, cansados de tantas aventuras…
Alto e pára o baile! Esta frase engana o leitor e não é pouco. A estação era inglesa, sim senhora, a tarde era serena… Mas este texto não é um conto. É antes uma pequena conversa sobre línguas latinas.
Pois é: a estação era um apeadeiro pequenino e a tarde não tivera mais aventuras do que aquelas que nos esperam quando levamos os filhos a um pequeno jardim zoológico numa terreola inglesa. (O meu filho fez a mais feliz das caras ao ver um tigre a sério. Ele já tinha visto, mas aos quatro anos conseguimos ver tudo pela primeira vez — várias vezes.)
Já o comboio, o mais romântico dos meios de transporte, longe de ter uma chaminé a fumegar românticos vapores, era eléctrico e a dar para o suburbano, propriedade duma empresa de nome aparvalhado: «Great Northern». Quem terá tido a ideia de chamar a uma empresa de comboios O Grande Nortenho?
(Confesso: torci um pouco a tradução em nome dum vago efeito humorístico. Peço desculpa. Na verdade, aquilo será mais uma abreviatura de A Grande Linha do Norte. Não percebo a mania inglesa de pôr Great em tantos nomes, mas avancemos.)
Pois foi à espera do comboio das 6 da tarde da Grande Linha do Norte, no apeadeiro de Shepreth, que a minha cunhada me fez uma estranha pergunta.
O que se passava era isto: eu estava a ler um livro. A Zélia e o Simão brincavam na plataforma, a ver se viam o comboio lá ao fundo. O meu irmão lia qualquer coisa no telemóvel. E a minha cunhada embalava a Lilah ao meu lado. Quando passou os olhos pelo livro que eu estava a ler, exclamou: «Mas estás a ler um livro em português?»
Bem, antes de continuar, convém explicar por que razão a minha cunhada achou espantoso eu estar a ler um livro na minha própria língua. A explicação é fácil: ela sabe que, quando vou a Inglaterra, aproveito para ir de malas vazias de livros para ter espaço para o carregamento anual de livros ingleses, que nas livrarias portuguesas os livros ingleses não saem baratos e mandar vir livros também tem o seu quê de caro. Assim, ela está habituada a ver-me por lá a ler os livros que encontro e estranhou ver-me, em Inglaterra, a ler na minha própria língua.
E agora vem a outra surpresa: ela ficou admirada de ler, assim de repente, português — mas, na verdade, eu estava a ler um livro em galego: Papaventos, de Xavier Queipo.
Quando lhe disse que aquilo era galego, a minha cunhada quis olhar com mais atenção. Afinal, nunca tinha visto um livro em galego. Passámos alguns minutos a olhar para a língua.
A ortografia é a oficial, ou seja, não está tão próxima do português como a ortografia reintegracionista. Mas, enquanto na fala, por falta de treino ou desatenção, os portugueses enfiam rapidamente o galego no campo do espanhol (excepto o meu sogro), na escrita, a coisa é diferente: vemos rapidamente como os textos galegos são muito nossos. São tremendamente fáceis de ler. Não há que enganar: mesmo aos olhos de alguém que não se interessa por questões de linguística ibérica, há qualquer coisa de surpreendentemente próxima no galego.
Comecei a ler o livro porque ando com vontade de conhecer mais literatura galega — o título foi-me sugerido por Fernando Venâncio. E que grande sugestão! Depressa estava a ler não por ser literatura galega, mas por ser um bom livro.
Deixo-vos três razões para ler este livro — há outras, claro:
Existe uma tradução portuguesa deste livro galego sobre a tradução para inglês dum livro português: Bebendo o Mar. Como é mais do que óbvio, nada tenho contra a leitura de traduções. Mas aconselho a leitura da versão original deste livro. Afinal, com um pequeno esforço, sentimos as cócegas das diferenças e surpreendemo-nos com a nossa extraordinária capacidade de ler aquilo que alguns dizem ser outra língua. No fundo, quando lemos em galego sentimos a nossa própria língua a galgar fronteiras. Nas próximas semanas, hei-de deixar aqui mais sugestões de livros galegos, nas várias ortografias que por lá se usam.)
Embalado por estas conversas sobre línguas ibéricas, no dia seguinte, numa paragem de autocarro, chamei a atenção da Zélia, do Diogo e da Sofia para a conversa de três pessoas que ali estavam ao nosso lado. Não porque tivesse tido um assomo de bisbilhotice, mas porque estavam a falar numa língua de que gosto muito. Disse-lhes, baixinho:
— Estão a falar em catalão!
A minha mulher sorriu, como quem desculpa ao marido um vício privado. A minha cunhada disse-me que nunca tinha ouvido tal língua. Lá lhes fui apontando algumas expressões que estávamos a ouvir: «aquesta nit» («esta noite»), «sisplau» («por favor»), etc.
As línguas são como as cerejas e depressa estávamos a falar do basco, a mais distante das línguas. Contei-lhes como uma vez tinha ido a Donostia-San Sebastián (uso o nome oficial da terra) e, numa estação de serviço, reparei numa frase que dizia em espanhol qualquer coisa como «Nesta estação de serviço é proibido por lei vender bebidas alcoólicas a menores de 16 anos.» Pois, na versão basca, em baixo, a frase começava pelo número: «16». Já agora (fui ver agora), o número 16, em basco, diz-se «hamasei».
Sim, a nossa península é assim: temos o galego e o português que se confundem e depois temos o basco que soa vagamente a japonês (com a diferença de que o japonês parece mais fácil).
Não fique o leitor preocupado: não ando a visitar família em Inglaterra para passar os dias a falar de línguas. Conversámos sobre tudo e nada e é assim que é bom. As conversas são como os livros: ficamos embriagados, fora do mundo, mas ao mesmo tempo lembramo-nos muito bem dos sítios onde estávamos quando tivemos aquela conversa ou quando lemos aquele livro. E há ruas de Cambridge que, para mim, guardam recordações de boas conversas em português.
No meio desta viagem, entre algumas leituras, algum trabalho, muitas conversas, fui reparando na maneira como o meu filho e a prima conversavam. O Simão ia aprendendo umas palavras em inglês, ela insistia em falar em português com ele.
O Simão aproveitou também para ensinar à prima palavras engraçadas como «chichi» e «cocó». São crianças, pois então. E ainda lhe disse que já sabia contar em espanhol, desatando a dizer os números com a voz muito alta e as vogais abertas. Se há coisa que um português aprende depressa é o portunhol.
Percebi ainda, desta vez, que agora eles já os nomes das línguas: os dois acabaram os dias em que estiveram juntos a saber dizer «inglês» e «português» para identificar as duas línguas. Sim, é verdade: em crianças, nós aprendemos a falar uma língua antes de lhe saber o nome.
Nem só de línguas ibéricas se faz o mundo das línguas latinas, pois claro. Não podemos esquecer o inglês, por exemplo.
Calma, calma: eu sei que é uma língua germânica. Mas é uma língua germânica arraçada de latina. Mas, pronto, deixemo-nos de declarações bombásticas.
Depois de falar do galego, pensemos agora na língua latina mais distante do português.
Numa das noites em que lá estivemos, apareceu para jantar uma amiga deles que é romena.
A certa altura, conversámos sobre algumas palavras que são parecidas entre o romeno e o português. Apesar de serem as duas línguas latinas que estão mais distantes uma da outra, ainda vemos muita coisa de comum se olharmos com atenção.
Basta olhar para os números: «unu, doi, trei, patru, cinci, șase, șapte, opt, nouă, zece». Sim, isto está bem distante do português, principalmente se compararmos com o galego (vou usar a ortografia oficial: «un, dous, tres, catro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez»), mas há ainda muita coisa que nos aproxima, mesmo à distância dum continente.
Há ainda outra coincidência curiosa entre o português e o romeno, não tanto no som ou aspecto das palavras, mas no significado de uma certa palavra muito especial. Dizem-me muitos romenos que a palavra «dor» é uma tradução quase perfeita (ou tão perfeita como pode ser qualquer tradução) da palavra «saudade». Sim, essa mesmo, tão nossa — e tão romena. [Já tinha falado disso.]
Foi então que me lembrei de qualquer coisa que aprendi há uns tempos e pedi à amiga romena do meu irmão e da minha cunhada que dissesse «laranja» em romeno.
E ela disse, um pouco admirada pela pergunta:
— Portucale!
Não é a única língua daquelas paragens onde o nome da fruta lembra aos falantes o nome do nosso país. Assim, a um romeno ou um grego, quando alguém refere Portugal, é bem possível que lhes apareçam laranjas na cabeça. (Lá está: a tradução é sempre possível, mas nunca sabemos aquilo que uma palavra faz a cada leitor.)
Sem suspeitarmos, somos o país das laranjas para muitos europeus mais a leste. Mas esta associação entre um país e alguma coisa à revelia dos próprios habitantes desse país não é caso único: sem terem pedido autorização aos castos franceses, os ingleses associam a França aos beijos mais profundos, chamando-lhes «French kissing». E pronto: haverá melhor maneira de acabar este texto do que a falar de línguas entrelaçadas?
Já estou de volta das férias há umas boas duas semanas — e que semanas, meu Deus! — e mesmo assim ainda tenho histórias para vos contar. É assim uma espécie de truque para parecer que ainda estou de pés na água e cabeça na areia…
Pois bem — esta história tem que se lhe diga.
Então é assim: a certa altura, lá nas férias, fomos almoçar em Santiago de la Ribera, uma pequena terreola que foi uma estância balnear que deve ter estado na moda ali por volta de Agosto de 1984. Enfim, não faz mal: foi uma espécie de viagem no tempo.
A praia é virada para o Mar Menor, uma lagoa de água um pouco turva por causa da areia que é de origem vulcânica (dizia um dos cartazes de aviso que por lá vi). Pois a verdade é que a água é tão quente, mas tão quente que ficamos com a sensação que o vulcão está prestes a entrar em erupção…
Bem, a temperatura da água sentimo-la depois, quando fomos molhar os pés. Ao almoço, limitamo-nos a olhar para o mar, que ali estava, à nossa frente — e lá muito ao fundo, no horizonte, a chamada Manga del Mar Menor, uma pequena faixa de areia entre o Mar Menor e o Mediterrâneo que foi cilindrada sem piedade com prédios, prédios e mais prédios. No primeiro dia de férias tínhamos lá ido e fugido a sete pés… É daquelas paisagens que até são engraçadas vistas assim de muito longe. É como olhar para o mar e ver ao fundo um recorte citadino a surgir como uma miragem. Nada mal — mas à distância.
Pois bem, o certo é que descobrimos um barco ao pé do restaurante que fazia a ligação entre Santiago e uma zona da Manga que até tinha o seu quê: uma ponte levadiça, umas praias simpáticas — e acima de tudo uma festa com piratas no barco. Só que já estava mesmo em cima da hora, ainda não tínhamos almoçado e dissemos ao Simão que ficava para o dia seguinte.
Enquanto o barco se afastava, fiquei a olhar e a imaginar como seria essa singela viagem com crianças vestidas de piratas. Não demorei mais do que uns bons 10 segundos nesse sonho acordado: fiquei só a olhar, a ver o mar e, ao sol de Agosto, a imaginar-me no barco — porque não tinha mais nada em que pensar naquele momento e porque tinha acabado de dizer ao meu filho que no dia seguinte era isso mesmo que faríamos. O barco passa ao pé de ilhas, havia aviões a fazer acrobacias ali mesmo ao pé, o sol apetecia e sentia o sal na boca. Ah, as férias…
Pois, no dia seguinte não fomos. Ali perto havia praias menos turvas, areias mais douradas, sítios por descobrir. Ele não se importou, até porque acabámos por descobrir um barco bem maior, com piratas a sério e tudo (mas isso fica para outro dia).
Agora, o curioso é isto — e esta lengalenga toda serviu para chegar a esta conclusão: no fim das férias, comecei a pensar nos dias todos que ali passáramos e a memória misturou-se de forma perigosa: lembrava-me dos sítios onde realmente tinha ido — e da viagem de barco que nunca fiz! (Para não falar dos livros que li e dos filmes que vi — mas essas misturas já são bem menos estranhas e muito saborosas.)
Sim, é verdade. A memória é mesmo muito manhosa. Neste caso, não fez mal: eu sabia, conscientemente, que nunca tinha andado naquele barco e mesmo que de repente me convencesse que tinha mesmo viajado de barco naqueles dias não vinha mal ao mundo. Mas não deixa de ser perturbador: lembro-me de estar a afastar-me da costa com o meu filho vestido de pirata ao lado e a minha mulher a olhar para o horizonte. A sério que me lembro! Ora, mas não sou o único. Admitam lá: quantas vezes não confundimos tudo e inventamos memórias — e algumas delas bem mais consequentes que uma viagem numa tarde de Verão que nunca existiu? Se alguém me disser que nunca lhe aconteceu tal coisa é que por anda muito enganado por este mundo…
É outro dos temas que começa a ser recorrente neste blogue (mas nada posso fazer, estas ideias vêm até mim e eu tenho de lhes pegar pelos cornos): todas as maneiras como nos enganamos a nós próprios. Lembramo-nos do que nunca fizemos, esquecemo-nos do que nos aconteceu, imaginamos salpicos na cara que nunca sentimos. O antídoto é só um: perceber que somos muito falíveis, que nos enganamos todos os dias — e desconfiar um pouco da nossa cabeça.
Bem, se a memória é perigosa e a imaginação delirante, a verdade é que também é por isso que criamos livros, filmes, quadros e canções: a nossa cabeça não se limita ao que nos acontece. Vai sempre mais à frente. Aí temos a origem da arte e de tanto do que torna a vida bem mais interessante do que seria se vivêssemos apenas com o que temos à nossa frente. Mas aí temos também a origem de muitos dos enganos com que nos matamos uns aos outros…
Ui, que frase tão séria para um post de piratas e tardes de Verão, não é? Admito que sim. Fiquem com esta outra música, capaz de vos acordar as memórias lá bem escondidas nas catacumbas da nossa mente — e também estávamos num verão azul no Sul de Espanha:
Este último dia de Agosto tem sempre um sabor um pouco amargo. É como as tardes de domingo: ainda não é segunda-feira, mas o peso da dita já se sente nos ombros. Pois é: ainda não é Setembro, mas as férias acabam, as praias esvaziam-se, a rotina volta. Pois hoje, para comemorar o fim do mês, deu-me para falar de felicidade. Coisa aborrecida, não?
Li há uns tempos no El País que a felicidade são quatro coisas: conversas, música, actividade física — e sexo. Nada contra, mas faltava o óbvio quinto elemento: livros. Enfim, a felicidade é que uma pessoa quiser — mas lá que esses cinco elementos têm a sua importância, têm sim senhor (alguns deles até se podem misturar com muito proveito: a música, então, vai bem com tudo).
Bem, concorde ou não com o psicólogo citado pelo El País, a verdade é que as férias sabem tão bem porque podemos fazer tudo aquilo de que gostamos sem grandes interrupções (sim, eu sei bem, quem tem filhos deixa de poder fazertudo o que quer a todo o momento — mas os filhos trazem um outro tipo de felicidade que não é chamada para este post)
Durante as férias, podemos aproveitar os dias à procura dessa felicidade concreta — nadar, correr, conversar, ouvir, amar. E ler, ler mesmo muito, sem intervalos. Pronto: convém comer. E dormir. Mas o tempo é imenso e as páginas dos livros passam quase sem darmos por elas, enquanto o nosso filho descobre como é bom nadar e estar ao sol.
Custa quando chega ao fim? Claro que sim. Mas reparem numa coisa: tudo o que disse acima não precisa de acabar no dia 31 de Agosto. Sim, teremos menos tempo. Mas a felicidade do quotidiano também implica arranjar tempo para ouvir música, beijar, correr ao fim da tarde, conversar com aqueles de quem gostamos. E ler.
Nesta guerra, o tempo será sempre uma espécie de inimigo — e é desesperante quando temos dias em que quase não conseguimos respirar, quanto mais ler & amar & conversar & correr. Mas desistir não vale a pena: com alguma sorte e muita arte, lá encontramos pequenas ilhas nos nossos dias para estas felicidades bem concretas.
É isso que vos desejo no regresso ao dia-a-dia. E, confessem lá, Setembro também tem os seus encantos. Lembro-me bem, quando era mais novo, de sentir o cheiro dos livros novos da escola e sorrir (os meus pais, a olhar para a conta, é que sorriam menos). Em Setembro, era o tempo de me reencontrar com os amigos. E continua a ser bom voltar com força e recomeçar. Pois, assim seja: um bom regresso a casa, ao trabalho e, se for o caso, às aulas — com boas conversas, uma corrida à beira-rio, algum amor, muita música e muitos livros.
Amanhã vou-vos contar um segredo das minhas férias: confundi a Grécia com Portugal! Amanhã, quer dizer: se tiver tempo. Bom fim de Agosto!
Chegou o Verão, tempo de deixar a roupa pesada e ir para a praia de calção e chinelo. Pois, este blogue faz algo parecido: vou deixar por aqui alguns artigos mais leves, de chinelo no dedo.
O primeiro é sobre o Facebook.
O Facebook é parte da nossa vida, para o bem e para o mal. Até na praia, até na piscina, até ao acordar com o sol na cara. Muitos de nós já passamos bastante tempo nessa praça virtual. Será mau? O excesso raramente é bom, mas já que andamos por lá, podemos imaginar formas de viver melhor com esta ferramenta (ou o que lhe quiserem chamar).
Pus-me a pensar e vieram-me à ideia sete dicas para viver melhor com o Facebook.
Haverá outras, possivelmente bem mais úteis. Mas estas parecem-me razoáveis. Há que começar por algum lado...
Tal como quando andamos na rua, há regras a respeitar — e temos de aprender alguns truques. Sim, é preciso olhar para os dois lados antes de atravessar a estrada — e é essencial aprender a lidar com as configurações de privacidade do Facebook.
O Facebook equivale a mandar uma carta aos amigos mais próximos — ou publicar uma foto num jornal. Não devemos confundir estas duas maneiras de publicar no Facebook...
Assim, no que toca às fotografias dos filhos, proibi-las de todo parece-me excessivo. O que devemos fazer é criar uma lista dos amigos próximos, daqueles a quem não nos importaríamos de enviar fotos das férias ou dos filhos por WhatsApp — ou num envelope por correio.
Não é fácil? Não é difícil. O próprio Facebook ajuda nesta página.
Sim, quando escrevo um artigo no blogue gosto de partilhar pelas centenas de «conhecidos do Facebook» e pelos amigos próximos e distantes. Quando publico uma foto do Simão, gosto que os amigos íntimos a vejam. Só eles.
No Facebook, é muito fácil começar uma discussão — o difícil é terminá-la. Ao vivo, falamos à vontade, às vezes levantamos a voz, no calor da discussão, mas depois é fácil dizer que já chega, que isso agora não interessa: basta um sorriso, um encolher de ombros, um toque no braço.
No Facebook, não temos nada disso. Temos as palavras escritas, interpretadas de forma fria. O calor da voz, o sorriso irónico... Tudo desaparece. Fica o ataque mais ou menos real, a ferida que nem suspeitamos que o outro sentiu.
Por isso, um conselho: se estamos entre amigos próximos, deixemos as discussões para conversas ao vivo. É bem melhor. Até podemos começar, mas não custa nada dizer: depois falamos melhor ao vivo.
E, não nos podemos esquecer, o Facebook é privado, mas também é público. As discussões com amigos ao vivo são assunto privado, mas no Facebook é como se estivéssemos a discutir num palco. E isso muda tudo.
A dica anterior serve para os amigos com quem convivemos. E os outros? Aqueles com quem falamos só no Facebook?
Em vez de começarmos duelos virtuais por tudo e por nada, que tal usarmos de forma mais frequente as mensagens privadas?
Assim, o efeito «duelo no palco» perde-se, e ainda bem!
Isto serve para discutir subtilezas, para apontar gralhas, para continuar conversas que, em público, fazem pouco sentido.
É uma ideia...
Podia agora dizer: devemos publicar apenas coisas interessantes. Mas o que é interessante para mim pode ser aborrecido para alguns dos meus amigos. Ou todos (espero que não).
Assim, o melhor é ver a coisa ao contrário: se me aparecem no mural artigos de que não gosto (ou imagens supostamente inspiradoras que não me servem para nada) posso sempre ocultá-los, ensinando o algoritmo do Facebook a apresentar-me, gradualmente, apenas aquilo de que gosto.
Agora, também é verdade que isto é perigoso. Uma das vantagens do Facebook é podermos encontrar coisas novas, pontos de vista desconhecidos, ideias que não conhecemos, sítios onde nunca fomos.
Se ocultarmos tudo o que não nos interessa, ficaremos cada vez mais fechados em nós próprios.
Mas, enfim, as tais imagens inspiradoras com frases cheias de gralhas... É ocultar, é ocultar!
Estamos sempre a falar das desvantagens e das armadilhas do Facebook. E, no entanto, tantos de nós estamos por lá que aquilo deve ter alguma coisa de bom — ou não?
A verdade é que já encontrei ideias muito interessantes, canções que não conhecia, livros interessantíssimos — e discuti artigos com gente cheia de boas ideias, participei em sessões de comentários que foram autênticas tertúlias... Ah, sem esquecer isto: já conheci pessoas que considero amigas, com quem nunca teria falado se não fosse o Facebook...
O Facebook enerva, eu sei. Às vezes, apetece sair. Mas até ao dia em que batemos com a porta a esse espaço, podemos aproveitá-lo. Temos é de ter paciência e ir aprendendo as regras de etiqueta, como em tudo.
Convidamos um amigo para ir a nossa casa. Ele chega lá e desata a insultar-nos. Temos de aceitar?
Se alguém vem ao nosso perfil incomodar-nos, podemos bloqueá-los.
É simples.
E as opiniões que não nos insultam pessoalmente, mas deixam-nos com os nervos em franja?
Ora, contemos até dez.
Há coisas que não parecem assim tão boas à primeira vista, mas são importantes: no Facebook, encontramos opiniões que, ao vivo, poucos se atrevem a dizer, percebemos certas atitudes, vemos muitas pessoas de forma mais próxima e às vezes mais desagradável do que o habitual.
Isto pode parecer mau. Mas, de certa maneira, é bom.
E não nos podemos esquecer: ninguém pode ter a certeza de que está certo neste ou naquele assunto. Até a opinião mais ofensiva pode conter em si alguma coisa que valha a pena escutar. Custa, mas é verdade.
Há quem diga que o Facebook nos está a tornar mais estúpidos. Ou mais agressivos. Ou outra coisa qualquer.
Mas se calhar o problema é outro.
O Facebook é a nossa vida social, mas em velocidade estonteante. É a mente humana à mostra, mas a tentar continuamente esconder-se. Sem conseguir. Como se estivesse nua a correr com uma pequena toalha para tapar as vergonhas. Não dá: as vergonhas aparecem. A nossa mesquinhez, a nossa inveja, as nossas manias, tudo fica à mostra. Escrevemos a correr, comentamos a correr, vivemos a correr no Facebook. E a vida parece como um jogo de futebol relatado pela rádio: os jogadores podem estar a jogar como a selecção nos belos empates com que nos tem deliciado e quem ouve na rádio parece que está a ver o jogo mais excitante do mundo. A nossa vida no Facebook é assim: parece tudo excitante e belo ou tremendo e triste, sem meio termo.
Depois, tentamos criar as máscaras com que vivemos no mundo, mas a velocidade é tanta que damos um passo e, pumba, as vergonhas à mostra. Estou a exagerar? Estou, claro. É de andar demasiado no Facebook...
Digo-vos isto: os seres humanos adaptam-se a quase tudo. Depressa estaremos habituados a este mundo social acelerado. Depressa começará a fazer parte da nossa vida. Não é fácil, mas até o telefone foi um choque na altura em que apareceu. E, agora, parece coisa de antigamente. Há-de chegar o dia em que olharemos para trás, com saudades desses tempos em que discutíamos amavelmente no Facebook.
Bem, acabo com isto: o Facebook é menos virtual do que parece. A nossa vida é sempre real e em todo o lado podemos tropeçar. Assim, também no Facebook é preciso aprender a viver melhor. É uma questão de olhar para os dois lados antes de atravessar a estrada.
Agosto. Antigamente, gozava com quem optava por ter férias em Agosto. Meu Deus! Que confusão! Que desperdício de descanso (e de dinheiro)! Depois, percebi: as escolas estão, vamos lá ver, fechadas em Agosto. Conciliar tudo (férias dos pais e dos filhos) é difícil. Enfim, Agosto acaba por ser a opção menos má. Agora, também vos digo: parece-me um mês em que o Algarve é de fugir. E digo isto sendo fã do Algarve nos outros meses todos (por exemplo, Setembro...).
Bola. A obsessão do meu filho. Adora jogar à bola. Eu, de livro debaixo do braço e óculos a escorregar pelo suor da cara, lá tenho de fingir que até percebo da coisa e tento dar pontapés melhores do que aqueles que quase me valiam negativas na escola secundária. Sim, sou daquelas encarnações do estereótipo do amante de livros: pálido e de óculos. Mas, vá lá, os filhos também ajudam nisso: agora com tanta bola e tanta piscina e tanto correr atrás dum filho a perguntar o que é tudo que o vê, já estou a ficar mais torradinho.
Canais de televisão. O meu filho está habituado a poder andar para trás sete dias na televisão lá de casa. Ou seja, está habituado a ver o que quer. Ora, chegamos ao nosso poiso de férias e a televisão é das antigas: só podemos ver o que está a dar e ponto final. Ficou admirado e chegou a ameaçar chorar. Mas acabou por descobrir desenhos animados novos, já que não pode estar a repetir sem parar o Livro da Selva.
David Lodge. Não é o melhor escritor desta galáxia, mas é daqueles lugares a que volto quase todas as férias, para descansar um pouco de todas as leituras do resto do ano. Já o li e reli muitas vezes, e lá me encontro um pouco nesse escritor que me lembra tanto da minha própria vida. Depois explico porquê.
E-mail. Claro, são férias, não é? Mas o e-mail não desaparece. Ainda por cima, nem sequer temos coragem de desligar o aviso sonoro dos telemóveis a avisar de novas mensagens. Como a minha mulher e eu trabalhamos juntos, são várias as vezes em que os nossos telemóveis apitam ao mesmo tempo, a informar-nos que temos e-mails de trabalho para ler. Lá tentamos resistir, mas lá temos de ler, de vez em quando. Só assim ficamos descansados. Dizem que é uma doença, e eu acredito. Mas trabalho é trabalho, com conhaque ou sem ele.
Filho. Sim, as férias acabam por girar à volta dele(s), não é? E no dia em que eles quiserem ir de férias sozinhos, vamos ficar aflitos, não é?
Golfe. Aliás, "gofo", na língua do meu filho. Aliás, mini-golfe. Claro que o meu filho não faz ideia de como se joga, mas tenta acertar na bola como se o taco fosse um martelo. Mas divertimo-nos (até porque eu também não acerto). E mais divertido é quando encontramos um enxame de vespas (ver letra V).
Horários. Ah, o prazer de não ter horários, não é? Acordamos às horas que queremos e fazemos o que queremos. Ou melhor, acordamos às horas habituais, porque o nosso filho tem o horário da creche no corpo. E depois temos a sesta da tarde e ainda as horas do banho e de adormecer, que mudam muito pouco. Mas sabe bem estar noutro sítio, é o que vale.
Imaginação. O sítio onde ficámos tem vista para uma floresta. Pronto, eu sei, cá pelas bandas ibéricas gostamos mais de falar de pinhais e outros nomes menos aventurosos. Mas aquilo são árvores muito compactas e, por mim, até podíamos gravar ali um qualquer filme do Harry Potter. Portanto, chamemos-lhe floresta. O meu filho começou de imediato a apontar e a dizer que havia ali lobos. Ri-me e disse que sim, ali havia lobos. Depois perguntou-me se eram lobos bons ou maus. Por um lado, gostava de lhe dizer que andava por ali o Lobo Mau, à espera da Capuchinho Vermelho. Por outro, quero que ele durma de noite e por isso lá acabei por dizer: "São bons, filho, são lobos dos bons." Ele ficou mais descansado e perguntou-me se os lobos bons matavam os maus. E por aí fora.
Jigajogas. As férias também servem para isto. Hoje aprendi a escrever a palavra "jigajoga". Confesso aqui: nunca tinha visto tal palavra escrita. Incrível, não é? E porque tive de a aprender a escrever? Porque estou a aproveitar as férias para voltar a escrever num certo e determinado blogue e a palavra lá apareceu num dos posts (ver letra V).
Kiwi. O kiwi aparece nesta lista por uma razão muito importante: é difícil como o raio encontrar palavras portuguesas (ou quase) começadas por K. Mas não julguem que é absolutamente aleatório. Ainda hoje vi kiwis ao pequeno-almoço, ao lado das laranjas, do pão, do leite, das salsichas e dos ovos mexidos. A minha pergunta é: mas alguém come mesmo ovo e salsichas ao pequeno-almoço?
Livros. Ah, claro! Sempre com livros atrás. Livros que trago de casa, livros que compro no caminho, livros que compro no regresso... Acho que no cômputo geral, os livros obrigam-nos a mais uma mala. Os livros e as fraldas.
Moscas. Nas brochuras dos hotéis e derivados tudo é lindo e muito limpo, mas a vida real tem muitas moscas. Acho que isto é uma metáfora de qualquer coisa, mas agora não me lembro do quê. Lá que custa estar a tentar ler ao sol com moscas a tentar pousar em todos os centímetros da nossa pele, custa...
Norte. Se o Algarve (ver letra A) é o que se sabe (apesar do prazer que hão-de ser as festas de Vilamoura ao sol, dizem por aí), acabámos por escolher o Norte, que o calor aperta no país todo e a metade mais verde apetece e é linda. Por isso, lá optámos por umas férias nortenhas. Ou melhor: o algoritmo do Booking optou por umas férias mais a Norte. E fez muito bem. (Até porque moscas há em todo o lado e aqui sempre temos Guimarães para nos deliciar.)
Online. Reservas online, claro. Porque agora é assim que se planeiam as viagens. As agências de viagens devem estar a ir pelo caminho dos clubes de vídeo. Mas para nós foi bom: por vários motivos que não são para aqui chamados, não pude planear as férias com mais do que dois ou três dias de antecedência. Assim, é bom chegar à internet e começar à procura de sítios por esse país em que fiquemos bem e não nos tirem demasiado peso da carteira. Nada fácil, mas pelo menos não é impossível.
Piscina. Hoje o meu filho quase que aprendeu a nadar. Tem menos de três anos, por isso é normal que a coisa seja vagarosa. Mas é tão bom ver a felicidade de quem está a descobrir a água. Acho que todos temos uma nostalgia dos nossos antepassados aquáticos inscrita nos genes (ou coisa assim). Ou então é apenas porque é diferente e muito engraçado. Tenho de ler o livro da letra S para descobrir.
Quelhas de Lisboa. Um outro livro que aqui tenho comigo é A Paixão do Conde de Fróis. E assim descobri esta magnífica palavra: "quelhas". O que são as quelhas de Lisboa? Descubram no dicionário mais próximo. E saibam ainda que podemos ler "quêlhas" ou "quâlhas", tal como "coêlho" ou "coâlho". A cada um a sua pronúncia. Ai, o prazer de ter um livro para ler... e lê-lo!
Rádio. Curiosamente, nas férias vejo mais televisão e oiço muito menos rádio. Ou melhor... Estou com a televisão ligada a dar programas infantis enquanto leio. Mas a rádio, essa desaparece do radar. Porquê? Porque a rádio é companhia de rotinas: das horas de levar a criança à creche, de ir para o trabalho, de voltar para casa. Ou seja, a rádio é hoje aquilo que todos ouvimos todos os dias e é por isso que, na minha humilde opinião, as estrelas de rádio são hoje mais conhecidas do que grande parte das estrelas da televisão. Estou em crer que muito mais pessoas ouvem o Nuno Markl do que vêem um qualquer programa de televisão. Mas posso estar enganado. Se calhar os actores das novelas ainda são mais famosos.
Sapiens. Uma Breve História da Humanidade. Um calhamaço que trago para férias. O autor irritou-me com o último parágrafo, que li a correr num aeroporto há uns meses. Mas a coisa ficou ali a roer-me e acabei por ter de comprar o livro e agora estou a ganhar coragem para o ler (e enquanto ganho coragem, ando a transportar o peso pelo país). O livro parece querer explicar a Humanidade em poucas páginas (umas 500). Vamos a ver se a espécie cabe nelas.
Teleférico. Sabiam que Guimarães tem um teleférico? Eu não sabia e fiquei maravilhado. A sério! Só não fiquei tão maravilhado ao descobrir que, uma vez lá em cima, ainda teria de subir não sei quantos degraus para chegar à igreja donde a vista seria magnífica. Um filho, quando está cansado, pesa bastante nos braços ou nos ombros, digo-vos já... Ainda por cima, a minha mulher costuma levar os meus livros da praxe na mala e, em certos momentos mais complicados, os livros têm mesmo de vir para debaixo do meu braço, que ela não tem obrigação de os levar. Assim, tinha de alombar com um filho, livros, telemóvel e sol na nuca. Ficámo-nos pela vista semi-magnífica da subida e da descida, porque afinal numa viagem o que conta é o caminho, não é?
Última palavra. Como devem imaginar, não escrevi estas palavras todas de enfiada, do A ao Z. Fiquem a saber que a última palavra que escrevi desta lista toda foi o Y. Aliás, a última palavra que irei escrever vai ser o Y. A verdade é que ainda não faço ideia da palavra que lá vou pôr. Ironias: quem está a ler já sabe mais (basta olhar um pouco mais para baixo) do que eu, que estou a escrever. Curioso, não é? Talvez folheando os livros que tenho aqui ao meu lado encontre inspiração.
Vespas. No mini-golfe, o buraco número 17 tinha aviso: "Cuidado." Porque seria? Um dos novos amigos do meu filho (é engraçado como, em férias, as crianças arranjam turmas em três minutos ou menos) decidiu experimentar a jogar na mesma, enquanto olhávamos curiosos. Dá tacada na bola, ela avança decidida, entra naquelas jigajogas típicas do mini-golfe e de lá saem a zumbir dezenas de vespas. Verdade, verdadinha. Desatámos a correr e, pouco depois, lá percebemos que aquelas eram vespas habituadas ao golfe: já se tinham recolhido ao seu convento. Mas nunca mais nos aproximámos do buraco 17. Livra.
WiFi. Parece que hoje em dia os hóspedes dos hotéis perguntam primeiro pelo WiFi e depois pela água quente. Cenas da vida moderna. Não há muito a dizer: vi-me a escolher sítio para ficar pela forma como ofereciam (ou não) internet. Certamente, haverá muita gente que vê nisto sintoma de qualquer coisa muito grave que se passa nos tempos de hoje. Eu só vejo uma grande vantagem. Ainda bem!
XXX. A minha mulher desatou-se a rir com um dos livros que comprei no caminho para cima: The Poetry of Sex. Não percebi o espanto: ela sabe que eu gosto muito de poesia. Hei-de vos falar mais do livro. É espantosamente bom e nem sequer tem imagens.
Yollande. Yollande é o nome da protagonista feminina do livro do David Lodge que estou a ler (Paradise News). Se quiserem conhecê-la, leiam o livro: irão passear pelo Havai, o que sabe sempre bem. Por que razão está nesta lista? Ora, porque, se virem bem, as personagens dos livros que lemos fazem parte das nossas férias (e das nossas vidas). Quando ler de novo este livro, estes sítios por onde agora ando hão-de me aparecer à frente (porque os livros são das melhores esponjas de memórias que há por aí, bem melhores que as fotos do Facebook). E, assim, de certa forma, esta personagem havaiana também andou por aqui, nos arredores de Guimarães. Há também outra razão para ter deixado a personagem nesta lista: é extraordinariamente difícil encontrar palavras começadas por Y.
Zebra. E chita. E dinossauros. Tudo miniaturas que temos em cima da mesa enquanto jantamos. Não há volta a dar: os miúdos adoram animais. Mesmo quando é para os pôr a lutar para ver o que é mais forte: o dinossauro ou a zebra. Às vezes, na cabeça do meu filho, a zebra come um tiranossauro. Um dia ele há-de perceber as verdades da vida. No entretanto, entre lobos imaginários, zebras comedoras de dinossauros e as histórias inventadas na cabeça do meu filho, percebo que as férias das crianças são muito mais do que parecem. No fundo, é como eu com os meus livros: para quê limitarmo-nos ao que vemos, se podemos viver muito mais se usarmos a imaginação?
Sim, é verdade: olhem bem para uma piscina no Algarve. Olhem para as várias nacionalidades (facilmente distinguíveis pelo nível de encarnado da pele) e olhem para o que têm na mão. Quanto mais vermelha a pele, mais livros na mão. Até avós têm o seu Kindle. Quanto aos bronzeados conterrâneos, para quê ler, se o sol da nossa terra é assim? Será essa a lógica?
Os meus sobrinhos vêm dormir hoje a minha casa. Têm 5 e 8 anos e são dois rapazes muito animados. O mais velho anda sempre com livros atrás. Já tem um tema preferido: dinossauros. Acho que é típico da geração dele... Seja como for, vê-lo sempre com um livro debaixo do braço derrete-me o coração livresco.
Quando chegou a nossa casa, há uns minutos, a minha cunhada trazia um saco com quatro calhamaços dinossáuricos e a minha mulher, a brincar, diz ao sobrinho mais velho: "mas vais ler isto tudo?"
Lembrei-me de quando ouvia isso quando era mais novo. Para férias, levava uma pequena biblioteca que daria para viagens de carro até Pequim (e talvez ainda desse para chegar a Xangai). Nem era preciso ir de férias. Bastava ir a casa dos meus avós ou ir passear a Lisboa.
Mas, o que querem? O pânico de ficar sem livros é demasiado grande. O pânico de só levar livros que não nos apetece ler também é grande.
Solução? Andar carregado com os ditos cujos.
O Kindle ainda aliviou a coisa, mas o gosto do peso dos livros também bate forte...
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