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Já que o meu outro blogue (não contem a ninguém!) teve uma inundação de novos assinantes nos últimos dois dias, lembrei-me de criar uma lista de alguns artigos do blogue que me parecem úteis para quem escreve em português.
Espero que gostem!
Ah, pois, trabalhar em coisas aborrecidas não faz mal nenhum, não senhor. Até porque as coisas aborrecidas, às vezes, até são interessantes.
(Ora muito bem, acho que vou começar a ter este hábito de preparar os posts no dia anterior. Sempre fico mais descansado durante o dia, que isto de actualizar um blog tem que se lhe diga.)
Hoje, logo de manhãzinha, vou falar-vos dum problema que tenho com os livros... O problema é este: custa-me muito escrever nos livros. Eles são meus, eu sei, mas mesmo quando tenho de os estudar, para escrever (como já escrevi) uma tese, não gosto de escrever seja o que for, de sublinhar, de fazer as famosas marginalia que tanto prazer nos dão ao olharmos para elas muitos anos depois.
Mesmo para pôr a cidade e a data onde os comprei (o que faço com alguns livros), só com lápis e muito levemente.
Não sei bem donde vem esta minha mania — tento deixar os livros imaculados, não dobrar a lombada, não deixar marcas dos dedos nas páginas. E, no entanto, anos depois, quando olho para os meus livros, gosto de ver as (poucas) marcas dos dedos nas páginas, das lombadas dobradas, dos livros escritos ou sublinhados.
Não (me) percebo.
Por outro lado, se por algum motivo começo a sublinhar ou a escrever num livro, nunca mais paro. O livro quase que se destrói nos meus dedos. Por exemplo, a minha Alexandra Alpha, de José Cardoso Pires, está quase desfeita...
Sou um bocado esquisito, de facto.
Como vos disse, cá estou por terras de meus pais (e, vamos lá ver, por terras minhas, que foi por aqui que nasci e cresci até aos 18 anos). Pouco tempo para blogar, e lá vou deixando correr o blog com as perguntas e as respostas que vão caindo, e que gosto muito de ler.
Uma coisa que tenho notado é que isto torna-se mesmo um vício... Ou será "se torna"? Raios! Não quero cair na fúria de blogger estabelecidas e que gosto tanto de ler... Mas tenho de vos dizer que acho mesmo que, se queremos que a língua portuguesa ando por aí forte e saudável, andarmos a listar (ou será enumerar?) erros e a acusar meio mundo de estrangeirismos, erros de palmatória, formas de dizer menos normativas, etc., etc., só leva ao medo e ao bloqueio de mãos.
Deixem-se lá disso!... Escrevam e leiam e escrevam mais e leiam mais, e a língua fluirá, e não serão mais infelizes por isso.
Não facilitem: a língua não é um conjunto de regras fáceis de decorar. É muito mais do que isso.
(Tenho de voltar a isto para vos explicar melhor o que quero dizer...)
Adenda
O ano passado tive a ideia dum blog dedicado a cartas ao meu filho, mas acabou por não se concretizar. Uma das cartas que tinha escrito era esta, Sobre Escrever:
Vais ouvir muitas pessoas a dizer que escrever bem é escrever sem erros ortográficos e cumprindo umas quantas regras e rejeitando umas expressões e palavras que irritam muita gente. Essas mesmas pessoas vão dar-te listas com esses erros, com essas irritâncias profundas, com toda a série de pecados mortais da língua que tens de evitar se quiseres escrever bem. Vais chegar à conclusão que cada pessoa tem uma lista ligeiramente diferente. Se fores juntar todas as listas, tens de ficar calado, porque não é possível escrever obedecendo a todos estes caprichos. Se reclamas, vão dizer-te: não podes ser facilitista. Não sejas preguiçoso. Faz como eu digo, e ponto final! Pois, eu digo-te outra coisa: escrever bem não é isso. Escrever bem é conseguir dizer o que queres da forma como queres. Vais perceber rapidamente que isto que acabei de dizer é muito difícil. Primeiro, porque nem sempre sabes bem o que queres dizer nem a forma como o deves fazer. Por isso, arruma as tuas ideias (mas não de forma que as deixas a ganhar pó, se faz favor). Depois, escreve. E revê. Não te preocupes em demasia com as ninharias (mas, enfim, evita-as, para não irritares demasiado os sensíveis da língua). Preocupa-te em escrever bem. Mais uma vez: preocupa-te em dizeres o que queres dizer, da forma como queres dizer. Às vezes, será de forma simples e directa, outras vezes irónica ou sarcástica, outras vezes de forma misteriosa e sedutora. Como irás aprender muito depressa, podes decidir dizer X da forma Y, e as primeiras versões vão parecer outra coisa qualquer, dita duma forma espatafúrdia. Por isso, cá está o meu conselho, filho: escreve muito e tenta dizer bem aquilo que tens para dizer. Tenta. Tenta outra vez. Repete e não desistas. Um dia, daqui a muitos anos, quando fores mais velho do que eu, saberás escrever bem.
Há uns tempos largos, noutro poiso internético, em que se falava de português e outras coisas desusadas dessas, atrevi-me a deixar algumas notas para ajudar a corrigir alguns erros ortográficos comuns (também caio nessas tentações). Uma dessas notas era a seguinte: os dias da semana escrevem-se com minúscula. Assim: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sábado, domingo. Só no caso de dias específicos, como o Domingo de Páscoa ou a Sexta-feira Santa, usamos maiúsculas.
Isto é coisa fácil, de prontuário, e nem é um erro grave por aí além.
O giro foi a reacção de um comentador, que começou aos gritos (ou seja, COMEÇOU A ESCREVER ASSIM) a dizer que não aceitava o novo acordo ortográfico, que era contra, que era isto e aquilo — continuando com um arrazoado sem fim.
Expliquei calmamente que a regra exposta não tem nada a ver com acordo ortográfico, pois os dias da semana já se escreviam em minúsculas antes do dito acordo.
Nada feito. A partir do momento em que se falou do assunto, a questão das minúsculas passou a ser secundária. Começou a corrida a ver quem chega primeiro ao insulto mais extremado ou ao argumento mais radical contra a tal coisa cujo nome nem vou repetir.
Como o título indica (e não gosto de enganar), este post não é sobre o acordo ortográfico. É sobre esta surdez estranha de que algumas pessoas sofrem: no meio de qualquer discussão, não ouvimos os outros, não tentamos perceber os outros, tentamos apenas martelar a nossa opinião, da forma mais radical possível, usando de toda a retórica possível e de muito pouca racionalidade, que é palavra feia para muitos dos acesos comentadores da nossa internet lusitana.
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