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Ninguém consegue ler tudo o que gostaria. Pelo menos, ninguém que goste de ler muito.
Mas a verdade é que, perante a necessidade de escolher, há quem se imponha critérios que podem ser um limite demasiado apertado à sua curiosidade.
O que quero dizer com isto?
Por exemplo, há pessoas de letras que dizem recusar liminarmente ler ciência. Ora, há tantos livros interessantes na ciência que é uma pena que essas pessoas nunca molhem os pés no mar imenso da literatura científica. Ficam com uma imagem parcial e provavelmente errada do que é a Ciência.
(Haverá também gente da Ciência que se recusa a ler literatura? Menos do que pensamos. Recusam, talvez, leituras académicas da área da literatura. Mas a literatura em si, ui, há muitos cientistas que lêem e lêem muito.)
Noutros campos, há quem se recuse a ler policiais. Não sabem o que perdem. Uma vez por outra, faz bem à cabeça, digo-vos eu.
Há ainda quem se recuse a ler autores mais recentes. Há quem se recuse a ler escritores brasileiros. Há quem se recuse a ler isto ou aquilo. Tudo limitações a mais.
Sim, temos de escolher. Mas dizer «nunca» e matar partes imensas da nossa curiosidade só faz mal. Experimentemos sair das zonas de conforto, de vez em quando. Custa um pouco, mas é um risco que devemos correr para sermos surpreendidos e ter uma visão do mundo um pouco mais completa.
Comentário no Corta Fitas a alguém que defende a "teoria das vidas passadas" (há pessoas que gostam de acreditar nestas coisas, o que é que se há-de fazer):
"O significado das palavras "teoria" e "facto" não é o mesmo no dia-a-dia e no âmbito da discussão científica. Uma teoria científica é um sistema de ideias que explica uma série de fenómenos ("factos") e não foi, ainda, invalidada. No fundo, uma teoria científica partilhada pela comunidade científica é o nosso melhor conhecimento sobre determinado fenómeno. "Teoria científica" é quase sinónimo de "facto". Quando falamos de "teorias científicas" falamos daquilo que de mais parecido temos com a certeza de que algo é verdadeiro (os cientistas só não apresentam certezas porque esse conceito não existem em ciência). A Teoria da Relatividade, a Teoria da Evolução das Espécies por Selecção Natural, a Teoria Heliocêntrica — tudo são teorias, ou seja, são conhecimento científico sólido e validado por imensas observações e experiências.
No que toca à "teoria das vidas passadas", estamos a falar duma hipótese sem qualquer base científica: a palavra teoria, neste caso, quer dizer apenas "ideia" ou "hipótese". Não é uma teoria científica, pois nunca foi testada ou integrada com o conhecimento científico. A ciência, aliás, explica a existência destas ideias através de fenómenos psicológicos. Para que as "vidas passadas" fossem verdadeiras, era preciso que uma série de teorias na área da biologia fossem falsas e não há qualquer indício que o sejam. Para que as "vidas passadas" fossem verdadeiras, era preciso encontrar a "alma" ou "essência" ou "espírito" que passaria de um corpo para outro, e nada disso foi encontrado ou detectado de forma científica.
Sim, os cientistas não podem provar a não existência deste fenómeno, tal como não podem provar a inexistência das fadas, do Pai Natal ou do Loch Ness. Mas não poder provar seja o que for não quer dizer que devamos aceitar a sua existência sem qualquer prova ou que possamos andar a estudar essa ideia indefinidamente sem encontrar qualquer indício que seja verdadeira. A Ciência funciona procurando teorias que expliquem de forma cada vez mais profunda um cada vez maior número de fenómenos naturais. As memórias de "vidas passadas" já foram explicadas pela Ciência como fenómeno natural: o nosso cérebro consegue criar e imaginar memórias de coisas que nunca aconteceram. Por outro, lado, a existência real de "vidas passadas" não foi detectada e implicaria a falsidade de inúmeras teorias científicas que foram já testadas e comprovadas ao longo de décadas.
Haver académicos que estudam estas questões não prova nada. Só os resultados que pudessem apresentar, que resultassem de experiências cientificamente sólidas e que fossem testadas e reproduzidas por outras equipas em todo o mundo poderiam dar-nos confiança na hipótese apresentada e transformá-la em teoria científica (ou seja, factos científicos). Nesse caso, essa teoria iria invalidar teorias anteriores, mas é isso mesmo que acontece em muitos casos. Foi o que aconteceu com a Relatividade, com a Evolução, etc., que se tornaram teorias (=factos), desalojando do conhecimento científico outras teorias, que passaram a ser apenas e só ideias erradas. Nada disso aconteceu com esta hipótese das "vidas passadas".
Por fim, Platão acreditava em muita coisa que, depois, se veio a comprovar ser um disparate. Na altura em que viveu, tais ideias não eram um disparate, porque o conhecimento científico não estava tão avançado como hoje. Se Platão renascesse hoje e lhe fossem explicadas todas as experiências e tudo o que se descobriu até hoje, também ele chegaria, racionalmente, às conclusões a que chegaram os cientistas. Se, mesmo assim, Platão fosse a uma conferência científica apresentar esta ideia sem qualquer base científica, essa ideia seria recusada. Se uma qualquer pessoa desconhecida chegasse a uma conferência científica com resultados sólidos, esses resultados seriam analisados. O que interessa não são as pessoas particulares que apresentam os resultados, mas a força desses mesmos resultados e a sua capacidade para serem reproduzidos por terceiros e, assim, integrados no conhecimento científico."
Leiam no Brain Pickings.
O Nuno Markl decidiu comentar os rastos dos aviões e acabou a acordar a "besta conspirativa" que anda aí adormecida por essa internet fora.
Enfim.
Querem mesmo saber por que razão os rastos dos aviões às vezes duram mais tempo? Leiam o artigo da Comcept.
Já agora, tenho visto muitos rastos negros (e paralelos!) nas estradas portuguesas, será uma forma de o governo espalhar perigosos químicos? Será borracha queimada? Será que nos estão a enganar? E ninguém vê isso? E ninguém diz nada?
O que ando a ler agora? Uma coisa um pouco estranha:
Um livro sobre como a ciência foi usada e abusada por alguns intelectuais pós-modernistas (na acepção mais lata do termo), que fingiam perceber muito de certos conceitos matemáticos e físicos, quando, na realidade, não percebiam nada de nada.
Um dos autores deste livro (masoquisticamente delicioso, já que são as humanidades o bombo da festa) é o conhecido Sokal, famoso por ter pregado a famosa partida conhecida como Caso Sokal: enviou um artigo absurdo para uma revista de ciências sociais, que foi aceite para publicação.
Podem encontrá-lo ainda nestes artigos no Scientia Salon.
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