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Há muitos anos, ia para o Algarve com os meus pais de vez em quando. Talvez a partir do início dos anos 90 — estradas um pouco melhores, a vida a correr razoavelmente, dava para ir de férias uma ou duas vezes por ano. Antes disso, tinha tido umas férias aí com uns três anos, para um apartamento emprestado, de que recordo algumas imagens muito antigas e uma viagem de barco a Ayamonte, onde comprei uma grua de brincar... Lembrar-me como era ter três anos sabe a viagem no tempo...
Mas isso agora não interessa nada. Interessa, sim, que lá para os meus 14 ou 15 anos, estávamos nós no Algarve e os meus pais decidem ir dar uma volta a Espanha. As fronteiras estavam abertas, já havia ponte sobre o Guadiana, e lá fomos até Huelva. Por lá passeámos, até que tivemos de ir comprar alguma coisa para comer e fomos a um supermercado qualquer.
Havia lá alguns livros ingleses. Estava na idade em que me achava capaz de ler um livro desses. Comprei este...
... e foi um prazer olhar para as palavras inglesas, ainda com sabor exótico para a minha mente adolescente, e ir entrando pelo texto dentro, calmamente, com o dedo indicador, como se estivesse a aprender a ler (o que para mim era um prazer) — é um pouco como conduzir em Inglaterra: voltamos a sentir o entusiasmo de aprender.
Várias vezes li aquele primeiro parágrafo, e fui investigar o que era o Michaelmas Term, o que era o Lincoln's Inn Hall, e por aí fora. Aprendi muito inglês só com estas primeiras linhas.
Aqui têm, em todo em esplendor da Londres de Dickens, com nevoeiro a perpassar pelas palavras e pelas ruas... Um nevoeiro que imaginei enquanto voltava de carro para o apartamento de férias, no esplendor do sol andaluz.
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