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O que posso eu dizer-te, meu amor? Na verdade, não sei como chegámos àquela gritaria toda, às 4 da manhã, com os vizinhos a bater nas paredes. Sim, foi qualquer coisa a ver com a Palestina -- o conflito do médio oriente instalou-se lá em casa, e eu sem poder fazer nada, porque no fundo quando vemos um precipício, gosto de me atirar, não é verdade? Sim, eu tenho esta mania... Defendes-me os palestinos, eu atiro-me de cabeça a defender Israel. Não te sei explicar. Parece que eu gosto. Mas, sabes? Talvez se tivéssemos nascido por lá... Não sei, talvez se eu fosse israelita e tu palestina, talvez se tivéssemos desde crianças ouvido o que eles ouvem, vivido o que eles vivem, talvez a nossa discussão fosse grande e genuína e talvez até mortífera, e talvez fosse comovente ver como no fim do dia nos beijávamos e fazíamos amor na mesma, e haveria até quem fizesse reportagens sobre a nossa vida de Romeu e Julieta do Médio Oriente. Assim, somos apenas dois tristes lisboetas a seleccionar notícias e argumentos e a discutir ao fim do dia, na varanda, com Lisboa sossegada aos pés, à procura dum pouco de pimenta na vida. Se fôssemos israelitas e palestinos, queríamos apenas sossego ao fim do dia, menos rockets e menos mísseis sobre o telhado, para podermos, de facto, abraçar-nos para lá dos nomes dos países e dos argumentos repetidos durante séculos e sermos apenas isso, um homem e uma mulher, na cama, nessa outra guerra de que não quero a paz. Vamos por isso discutir sem palavras, e que reclamem os vizinhos, que nesse caso eu não me importo -- e havemos de acordar a rir, sujos e imperfeitos, numa manhã qualquer dum país em paz. Já não sei se estou a falar do que eles desejam ou do que nós temos e não cumprimos. Mas, que importa? Dá-me lá um beijo e cala-te.

publicado às 12:47

... porque isto do amor é sempre demasiado breve, mesmo quando dura uma vida inteira.

 

A glooming peace this morning with it brings;

The sun, for sorrow, will not show his head:

Go hence, to have more talk of these sad things;

Some shall be pardon'd, and some punished:

For never was a story of more woe

Than this of Juliet and her Romeo.

 

 

Uma triste paz traz este amanhecer;

O sol, envergonhado, não mostra a sua luz:

Ide, mortais, falar destes dias tristes;

Uns hão-de ser perdoados, outros castigados:

Pois nunca em tempo algum houve tão triste história

Como esta de Julieta e seu Romeu.

publicado às 16:20

O primeiro-ministro de Israel discursava ferozmente na ONU quando a namorada do intérprete apareceu na cabine vestida só com uma gabardine. Os palestinos espantaram-se quando ouviram nos auriculares uma outra linguagem, bem mais universal. Entre arfares e interjeições de amor, não conseguiram parar de rir. Fez-se ali mesmo a paz no Médio Oriente. O intérprete nem notou. Tinha coisas mais importantes entre mãos.

publicado às 04:00

O jantar foi perfeito e estavam quase a tirar as cuecas quando ela descobriu que ele não achava o acordo ortográfico uma coisa tão grave assim. O pobre teve de sair com os sapatos na mão e a vontade no corpo. Há noites assim.


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