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Depois da animação que foi este blog durante o dia de ontem, hoje estou numa de nostalgia, por isso desculpem lá a lamechiche pegada que vai ser este post, mas o que passa é que por algum motivo (talvez a chuva, talvez conversas com colegas que vão ser pais, talvez ter deixado o meu filho no infantário há pouco) estou a pensar nos filhos e no que eles nos trazem para a vida, que é muito mais do que qualquer pessoa prevê antes de se meter nisso, e muito diferente de tudo o que se pensa antes de nos metermos nisso, e o certo é que — se não vêm nos livros — parece que os blogs têm sido uma forma de expressão do que é ser pai e mãe (e tio e tia e amigo e tudo o mais), porque se calhar o blog até será um género literário (?) mais propenso à lamechiche paternal, porque, enfim, algum género teria de haver para isso — e tudo isto para vos dizer que aquilo que mais custa quando se tem um filho é mesmo perceber que de repente aterra em nós um medo difuso e estranho, um medo que também sabe a outra coisa bem melhor, a amor, ou ligação, ou seja lá o que for esta coisa estranha que nos acontece a nós e aos filhos (o raio das palavras servem para muito pouco nestes campos que são muito carnais, no sentido menos comum dessa palavra) — um medo que nos estraga a vida, estraga a vida mas não nos importamos, estraga a vida porque ela tem mesmo de ser estragada, um medo absurdo que começa quando sabemos que estamos grávidos (e digo assim no masculino se não se importarem, mas se se importarem, a caixa de reclamações é mesmo aqui em baixo) e pensamos que vai passar quando nascer o bebé, e depois não passa, pensamos que vai passar quando ele tiver aí uns dois meses, e claro que não passa, talvez passe ao primeiro ano, e não passou, e sinceramente quando vejo o meu avô de 85 anos preocupadíssimo com a minha mãe de 53, acho que se calhar não passa nunca, e isto será para todo o sempre, amen, embora saibamos que não é para todo o sempre e, no fundo, é esse mesmo o medo, um medo que sabemos nunca terá um final feliz, porque isto mais tarde ou mais cedo acaba, mas, enfim, no medo de tudo isto percebemos que já não queremos finais felizes, o que queremos é um princípio feliz, um filho feliz nesse começo de vida, que nunca por nunca será fácil, mas é dele, e no meio disto tudo já me perdi, mas o medo continua cá, e também um aperto qualquer no esófago quando vejo o meu filho a rir-se, feliz, neste começo de vida que será o que ele quiser e o mundo deixar, e o mundo vai ter de deixar, porque estamos cá para o que der e vier. Portanto, tenham medo, mas sejam felizes.
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