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Anda por aí uma corrente facebookiana sobre os 10 livros da vida de cada um. Ora, lembrei-me de falar sobre alguns livros da minha vida, mas não os 10 livros ou sequer os livros. Se os artigos definidos servem para alguma coisa, é para estes casos de ausência: ao não escrever "os" 10 livros da minha vida, estou a explicar que são estes, mas há mais...

 

 

Ora, para começar, temos Lisboa, Livro de Bordo, de José Cardoso Pires.


Este livrinho é lindo. Mas nem é exactamente por isso que o ponho aqui. Fiz, já há uns 11 anos, um trabalho sobre o Incêndio do Chiado e este pequeníssimo livro foi um dos actores principais. Além disso, foi editado por altura da Expo, que marcou a minha ida para Lisboa, e por isso, para mim, é como se fosse uma espécie de baptismo lisboeta em forma de literatura. E acompanhou-me nos meus encantos muito particulares, que incluem as estações de metro, o olhar para o chão, o ouvir a cidade e o adorar estar num sítio destes, que os portugueses (quase) todos adoram detestar, mas que eu não posso viver sem. (Exactamente, assim com o sem no fim, que eu gosto de irritar gramatófilos.)

Ora, o livro também me faz lembrar o estar a ler na Biblioteca Nacional, à espera dos livros que vinham trazidos por senhoras de carrinho desengonçado, de estar a ler jornais na Hemeroteca Municipal, de ler notícias de jornais do século XIX para outro trabalho que fiz na altura…

(O que tem isto a ver com José Cardoso Pires e o seu Livro de Bordo? Pouco, mas isto são livros da minha vida, e a minha vida mistura-se com os livros de formas imprevisíveis.)

Saía da Biblioteca Nacional e estava sol em Lisboa e por essa altura vivia aqueles anos que todos nós temos em que as coisas acontecem em catadupa, em que parece que a nossa vida dava um livro ou um filme ou ambos, no fundo estava a sentir aquilo que o Carlos (o da Maia) sentiu quando disse isto, lá para o fim d’Os Maias:



 

Sim, por esses anos os dias e as noites pareciam mais marcadas, andava por Lisboa, no carro que arranjara pouco tempo antes e que até tinha alcunha, onde aconteceu tanta coisa, por onde discutia tudo e nada com esses amigos que ficam marcados como que a ferro e brasa num livro qualquer que nunca hei-de escrever, mas que me é mais importante do que os outros todos, um livro onde as personagens têm os nomes dos meus amigos e são, no fundo, os meus amigos. Um livro onde nunca poderia haver um narrador omnisciente, porque isso seria o contrário da vida, não é verdade?

 

Não foram os melhores anos da minha vida, que esses estão sempre por vir (e como podem ser, se ainda não havia o Simão?), mas foram os anos mais quentes...


*


Lembro-me ainda de ter encontrado este livrinho, na Fnac, traduzido para… catalão. Por que razão a Fnac vendia em Lisboa a tradução catalão do livro, não faço ideia. Alguém não soube distinguir o catalão do espanhol ao fazer as encomendas do mês.

Comprei-o, porque sempre tive uma pancada pela Catalunha que vos hei-de explicar um dia. Comprei-o e enviei-o ao Ricard, um amigo catalão (internético), com quem conversava sobre muita coisa e a quem gostava de oferecer um guia para a minha cidade, já que a dele já me corria pelo sangue também. Foi assim que enviei pelo correio o Lisboa, llibre de bord: veus, mirades, records.

 

Uma cidade como Lisboa é assim: existe em várias línguas, e é feita de pessoas e de pedras, mas também de livros e literatura.

 

 

 

[]

publicado às 16:27


2 comentários

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De Vespinha a 05.02.2014 às 17:46

Tenho este numa edição especial, cartonada e ilustrada. É lindo.
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De Marco Neves a 25.02.2014 às 20:05

Sem dúvida :)

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