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Muitos amigos meus acusam-me de ser distraído. A minha família também acha o mesmo. A minha mulher também achava, mas tem vindo a mudar de opinião. Ou se calhar já está cansada de dizer o mesmo. Uma coisa ou outra.
Ora bem, como verão já de seguida, não sou o único distraído da família.
Na Páscoa de 2010, fui com a minha família visitar o meu irmão (não foi a viagem contada anteriormente, em que fomos a Paris.
Numa das livrarias de Cambridge, comprei este livro:
O livro é magnífico. Ajuda-nos não só a perceber o que é a ciência, como a desmontar a forma absurda como a ciência nos é transmitida, a perceber a forma como a indústria farmacêutica manipula o mercado e ainda a deixar de lado qualquer réstia de confiança que poderíamos ainda ter nalgumas medicinas alternativas como a homeopatia e outros que tais.
Só para vos incentivar a ir procurar o livro (há a versão portuguesa), aqui está um extracto da introdução:
Ora, aqui está uma óptima definição de ciência: uma forma de evitar sermos enganados pelas nossas próprias experiências isoladas e preconceitos individuais. Claro que haverá sempre quem goste de ser enganado e, como o autor diz num dos parágrafos que aparece nesta foto acima, mas já meio desfocado (ai o Instagram, o Instagram...), "you can't reason people out of positions they didn't reason into" (que expressão tão britanicamente sucinta). Não podemos usar a razão para convencer alguém a abandonar uma opinião irracional (seria algo assim a tradução desta expressão), mas podemos tentar.
Enfim, adiante. Leiam o livro. Vai fazer-vos muito bem à saúde. E à carteira. Porque a ignorância nestas coisas da ciência e da medicina só faz é mal — mesmo muito mal.
Mas não foi para isso que vim escrever este post nocturno, enquanto a minha mulher já dorme e o meu sono está quase a chegar.
O que acontece é que comprei o livro em Cambridge, como vos disse, ao lado do meu irmão, e andei por lá a passear com o livro na mão, a lê-lo todos os bocadinhos que encontrava. Acontece-me isto: os livros de ciência deixam-me empolgado como se estivesse a ler um policial. Deve ser um problema qualquer nos neurónios.
Lia, comentava, discutia o livro com o meu irmão.
O meu irmão via-me, em casa dele, no café ao pé da casa dele, no carro com os meus pais — sempre com este livro na mão.
Isto, em Abril (julgo que por essa altura, agora não sei de cor quando foi a Páscoa nesse ano).
Passaram-se meses.
O meu irmão vem a Portugal, para o Natal.
E que prenda me traz ele?
Este mesmo livro! Dizendo: "acho que vais gostar!"
A minha cara foi: "estás a brincar comigo?"
"Porquê?"
"Porque, pá, eu não só comprei o livro ao pé de ti, como andei vários dias a lê-lo ao pé de ti."
Ele bate com a cabeça na testa, rimo-nos todos e disto tudo surgiu uma coisa boa: ele voltou com o livro para Inglaterra e acabou por lê-lo.
Se bem me lembro, não gostou assim tanto. Achou o autor um pouco arrogante e demasiado irritado com a ignorância dos outros. Mas, enfim, um médico deve sentir-se mal quando todos acreditam em disparates astro-quânticos-homeopáticos e desconfiam dos médicos como se fossem parte duma conspiração qualquer para acabar com a saúde das pessoas. É fácil cair na arrogância e na atitude: "mas está tudo doido ou quê?"
Porque, já sabemos, quando alguém sobrevive a uma doença, o responsável por tal milagre é Nossa Senhora, ou os anjinhos, ou as vibrações cósmicas, mesmo que tenha havido um médico (daqueles a sério) a tentar tudo por tudo para salvar a pessoa. Se alguém não sobrevive, a culpa é do médico. Ponto final.
Bom, bom era que alguém descobrisse a cura para a distracção. Queria ver se o meu filho não padecia desta doença do pai e tios.
(Já agora, um bom dia!)
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