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Segundo dia do ano, segundo post do ano. Claro que não vou conseguir manter este ritmo, até porque amanhã volto ao trabalho, que é muito e dá cabo da cabeça. Mas enquanto não desanima o blog, posso dizer que está a ir a um ritmo de um post por dia. Pelo menos, desde o início de 2014...
Portanto, como disse ontem, ando a ler o Wilt, de Tom Sharpe.
(Não vos dou as referências completas porque podem muito bem procurar.)
Já há muitos anos que não me ria tanto com um livro. Para dizer a verdade, já há muitos anos que não me ria com um livro, ponto final. Não que só tenha lido livros sérios, mas, por alguma razão que será certamente defeito meu, os livros não me fazem rir nem chorar, fazem outras coisas, algumas delas bem mais fortes — rir e chorar é que não. Algum bloqueio emocional da minha parte. É estranho. Aliás, sou estranho.
Voltando atrás: dizia eu que os livros não me fazem rir nem chorar, excepto um ou dois livros, que me apanham a jeito, e um deles tem sido o Wilt. (Pelos vistos, o Wilt não me apanhou só a mim.)
Ainda ontem, com a minha mulher e o meu filho a dormir, num quarto de hotel, depois dum dia de férias de fim de ano, tive de me conter para não gargalhar de tal forma que acordasse o bebé e/ou a mãe do bebé, com a consequência de que teria de fechar o livro. Fui rindo para dentro, que é capaz de ser coisa perigosa, como espirrar para dentro. Agora que penso nisso, podia ter morrido de tanto rir. Acho que é bem pior do que acordar o filho e/ou a mulher, por isso para a próxima o melhor é acordar quem tiver de acordar, que um homem tem de rir quando tem de rir.
Se quiserem ver uma página que provocou esta reacção em mim, aqui está (não garanto que não spoile a vossa leitura):
Assim, sem mais nada, é capaz de não dar para perceber como isto é engraçado. O melhor é mesmo lerem o livro, em inglês ou português ou na língua que vos aprouver.
Estas divagações risíveis fazem-me lembrar doutro episódio, em que estava a tomar café com os meus pais, e li esta página do Changing Places do David Lodge:
Lembro-me exactamente das duas cenas: da cena do próprio livro, em que o Morris Zapp percebe que espécie de voo é aquele e cai-lhe a moeda de forma muito gráfica, na página (citando Lodge: "BOINNNNNNNNGGGGGGG!" — não garanto a exactidão do número de "NN" e "GG"). E lembro-me também do sítio onde estava, da mesa do café, da cara de admiração dos meus pais, que sempre tinham conhecido a minha cara de leitura concentrada, mas nunca tinham visto o filho a esvair-se em risos no meio da leitura dum livro qualquer. Se quiserem, posso apontar num mapa da cidade onde nasci o exacto ponto onde estava quando li esta página. Até julgo conseguir identificar a cor da fórmica da mesa do café.
Acontece a muitos, dizem-me. Um dos prazeres da leitura, digo eu e julgo que concordam, é podermos voltar a ler um livro, uma passagem, e voltarmos ao local exacto, à sensação exacta, à companhia exacta do momento da primeira leitura. É qualquer coisa de extraordinário, que não é fácil de explicar.
Portanto, conclusões deste post anárquico:
Sendo assim, até amanhã. Espero que o trabalho não me impeça de criar o terceiro post do ano...
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