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A amizade não é um tema tão comum na literatura como o é o amor ou a paixão ou a vingança ou todas essas outras emoções mais definidas, mas se virem bem acaba por ser pena. Afinal, enquanto que paixões temo-las bem contadas e o amor ainda mais e os outros sentimentos assim fortes e literários não são assim tão comuns como possa parecer a quem lê livros em catadupa, a amizade é extraordinariamente diversa, e uma só pessoa pode ter relações diferentes e subtis e muito interessantes com várias pessoas diferentes, e em cada uma destas relações haver material para livros que nunca mais acabam.

 

Isto tudo para vos mostrar este livro, que comprei uma vez para oferecer a uma grande amiga minha por altura do Natal, mas que entretanto foi ficando esquecido dentro duma gaveta, enquanto a amizade arrefecia por razões várias, nenhuma delas definitiva, mas todas elas a puxar para esse afastamento que todos sabemos conhecemos, um afastamento sem o drama dos amores que se rompem, mas com o mesmo efeito. Os amores acabam com um estrondo, há amizades que acabam por erosão geológica, erosão essa que por vezes nos surpreende por levar uma casa a cair pela falésia abaixo.

 

Não sei se isto ficou assim muito bem explicado, mas cá fica o livro, que todos conhecemos. Comprei-o já vai para uns bons 15 anos, julgo eu. Estava nos primeiros anos da faculdade, e todos sabemos como os amores e as amizades nascem como cogumelos por essas alturas — o que por vezes não admitimos é que também morrem com alguma frequência e, se no caso do amor sabemos todos fazer o luto, nem que seja com uma bebedeira, no caso da amizade fica por vezes aquela sensação vaga e triste de algo que se perdeu — e nem sequer temos assim tantas canções e tantos livros para nos confortarem.

 

 

Nunca senti que este livro fosse realmente meu: é uma oferta a uma amiga dessa pessoa que comprou o livro, que não sou bem eu, porque com cada amigo que ganhamos e com cada amigo que perdemos, deixamos de ser exactamente a pessoa que éramos.

publicado às 13:50


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