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Qual será o melhor país para todos os que gostam de livros?
Olhem que Portugal tem alguns bons argumentos para ganhar este concurso particular…
Antes de avançar, reparem que pus um ponto de interrogação no título porque, nestas coisas, andarmos com declarações espampanantes requer algum cuidado. Aliás, se somos portugueses, convém ter algum pudor em afirmar que o nosso próprio país é o melhor disto ou daquilo. Agora, o autor do artigo de que vos quero falar não teve dúvidas: declarou que a biblioteca mais espantosa do mundo é por cá, mais especificamente no Convento de Mafra.
Fonte: BookRiot.
E é a mais espantosa porquê? Para lá de ser linda (o que é uma verdade objectiva), tem morcegos protectores de livros. Há coisa mais «awesome», como diz o autor?
Mas, claro, uma coisa é ter uma biblioteca de admirar. Outra será dizer que somos um paraíso para quem gosta de livros. Mas, reparem: como afirma o próprio site onde está o artigo (BookRiot), já temos a livraria mais bonita (no Porto). E, claro, a livraria mais antiga (em Lisboa). E, no que toca a bibliotecas, nem falámos ainda da Biblioteca Joanina…
Portugal: o paraíso dos bibliófilos. Há slogans bem piores…
(Publicado também no blogue Certas Palavras.)
Já que o meu outro blogue (não contem a ninguém!) teve uma inundação de novos assinantes nos últimos dois dias, lembrei-me de criar uma lista de alguns artigos do blogue que me parecem úteis para quem escreve em português.
Espero que gostem!
Ontem fui ver o espectáculo God, com Joaquim Monchique. Foi muito bom, até porque os novos Dez Mandamentos são muito úteis (principalmente o novo quarto mandamento — ou seria o quinto? — «não dirás aos outros com quem podem fornicar»).
Não posso deixar de recomendar este espectáculo, que mistura Deus, Puccini, música pimba, a versão da Bíblia agora-a-sério, o Querido, Mudei a Casa, a Voz, a Teresa Guilherme (que até lá estava a assistir, veja-se bem), o Anjo Gabriel e uma plateia que não conseguia parar de rir (mesmo aqueles que tentavam conter-se perante a blasfémia da coisa).
A peça foi escrita por DavidJaverbaum, que trabalhou com Jon Stewart no Daily Show. Foi adaptada por António Pires (encenador), João Quadros, Joaquim Monchique e Rui Filipe Lopes.
A adaptação ficou tão bem que é difícil acreditar que o texto não seja português. Cheguei a casa e fui ver como é a versão americana. Encontrei este vídeo e descobri que, por lá, Sheldon é Deus!
Este comprei eu num supermercado de Barcelona, vejam lá isto bem... É o que dá ter ido a uma conferência para aquelas bandas, ter ficado fechado na dita conferência durante dois dias e depois descobrir que 12 de Fevereiro é o dia de Santa Eulália e por isso não há nada que esteja aberto em Barcelona (mas toda a gente sai à rua para meu grande espanto, que quase não consegui dar dois passos seguidos ali pelo Barri Gòtic).
Fiquei-me pelo supermercado à porta do hotel, que é daqueles que está aberto faça chuva, faça sol, seja Santa Eulália ou Santa Ambrósia. E assim lá encontrei este livro que não conhecia, dum autor que não conhecia, num recanto duma estante ao pé do pão. Estou a rir-me com esta história amalucada, digo-vos já. E, lá para o meio, até tem isto:
Quem disse que os espanhóis não nos ligam nenhuma?
Ah, sim, comprei o livro às duas da manhã porque tentei convencer-me, depois de ver as livrarias fechadas, a bater um recorde pessoal: passar uma viagem inteira sem comprar livros. Ora, depois de jantar, já eu estava sentado no sofá, senti aquele formigueiro dos viciados e percebi que há vícios que são para manter. Lá corri pelas escadas abaixo, saí para a noite barcelonesa e entrei no supermercado nocturno para comprar um livro, qualquer que fosse.
Voltei regalado, com um saco de compras na mão e este livro lá dentro. O homem da recepção deve ter ficado convencido que trazia por lá pão e queijo, mas não: a fome era outra.
Há gente maluca, não é verdade?
Opa, leio antigas postas aqui do vosso humilde biblioblogueiro e fico estarrecido: que descuido, que desatenção, que parvoíces dizia eu há dois anos. Mas depois lembro-me: pelo menos postava alguma coisa. Agora, nem por isso. Vamos lá corrigir isso duma vez por todas. Voltemos. Mas agora, só postas pequenas, que isto o tempo não dá para mais.
Maria do Rosário Pedreira, no seu extraordinário blogue Horas Extraordinárias, avisa-nos para a falta de «qualidade» das leituras de hoje em dia.
A verdade é que, ainda que, em virtude da democratização do ensino, haja mais gente a ler, isso não significa que leia com o mesmo «grau qualitativo», nem com a mesma necessidade quotidiana que tinham os leitores antigos, que podiam gastar duas horas por dia a ler, sentados na sala, autores como Faulkner ou Balzac, enquanto os actuais, nessas duas horas de leitura, estarão simultaneamente a ver os e-mails que recebem, a ouvir música, a consultar o YouTube, a mandar mensagens (e por isso não estarão a ler com a mesma atenção dos pais e avós, ou seja, não estarão a reter do livro o que aqueles retiveram).
Aceito esta perspectiva, mas gostava de matizá-la:
Ou seja, tento fugir de comparar o que não é comparável: famílias que tinham biblioteca há algumas dezenas de anos (pouquíssimas, à escala do país) com todas as famílias de classe média de hoje em dia, muito mais numerosas. Para pensarmos com clareza, imaginemos o país de há 50 anos (todo ele) e o país de hoje. E imaginemos ainda, se conseguirmos, a atenção que muitos avós iletrados davam aos livros com a atenção que os seus netos lhes dão. (Que esses avós tenham percebido o valor daquilo que não tinham é prova da sabedoria dessas gerações.)
Sim: às vezes, lemos a correr e estou certo que a tecnologia pode ser uma grande distracção. Mas não é impossível ler muito e bem nos tempos que correm — e não me parece tão óbvio assim que as gerações «de antigamente» lessem melhor, no seu conjunto, do que as gerações mais novas.
(Se bem que me apetecia ter mais tempo para ler, é bem verdade.)
Artigo publicado anteriormente em www.certaspalavras.net.
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