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Ao contrário do que diz Fernando Lopes, o «cristianismo cultural» não tem nada de mal. O cristianismo vivido como verdade absoluta, esse sim, como todas as religiões, pode descambar em extremismos.
Os meros ritos são parte de todas as sociedades, podendo estar mais ou menos vazios sem que mal venha ao mundo. O baptismo, o casamento, a morte: todos estes passos são acompanhados de cerimónias com mais ou menos conteúdo ideológico, com mais ou menos flores e embrulho religioso, mas é quando as pessoas acreditam de forma fervorosa em tudo que as coisas descambam (ou podem descambar).
Por isso, não, não tenho medo de quem baptiza porque é tradição e há festa. Tenho muito mais medo de quem baptiza porque tem a certeza absoluta de todos os dogmas e quer um filho tão aceso como ele.
Felizmente, as nossas sociedades passaram por esses processos de separação da Igreja do Estado e ainda de esvaziamento da religião, o que só posso encarar como saudável.
Aliás, esse esvaziamente da religião é o que falta ainda em grandes partes do mundo islâmico: precisam de relativizar as coisas, manter a tradição cultural (que promove a coesão social, sem que nos sintamos invadidos por outras culturas) sem aquela certeza aguda que impele muitos a matar os infiéis.
(Só uma nota literária: uma óptima descrição da religião vazia será os ritos romanos descritos por Mário de Carvalho em Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde. O livro mostra, entre muitas outras coisas, o confronto entre a religião que é já só ritos e uma religião, naquele caso o cristianismo, ainda tão viva que estraga muitas vidas. Mesmo que não concordem com este post, aproveitem para ler esse livro. Vale a pena.)
Quando chegou a casa viu que faltavam as últimas vinte páginas ao livro que comprara. Mas a história era tão boa que não teve paciência para esperar que a livraria abrisse na manhã seguinte. Escreveu ele próprio o final. Depois, embebedou-se, leu-o de uma assentada e conseguiu ficar admirado com a reviravolta no final.
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