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Serei o único a achar esta frase muito perigosa?
É dita, quase sempre, com aquele ar de "antigamente é que era bom".
Começamos com "hoje em dia" e lá vamos lançados para uma queixa qualquer sobre alguma coisa que nos atormenta.
Não é que não tenhamos razão: às vezes, temos.
Mas muitas vezes não há nada que indique que aquilo de que nos queixamos está hoje pior do que "antigamente".
Por exemplo: "Hoje em dia ninguém lê."
Sendo, logo à partida, uma hipérbolo muito puxadinha (hoje em dia tanta gente lê, nem que seja o ecrã do telemóvel), parece-me desafiar a imaginação achar que num tempo em que quase não há analfabetos, em que se vendem mais livros do que nunca e a escolaridade obrigatória é de 12 anos se leia menos do que quando a escolaridade era de 4 anos, havia uma percentagem altíssima de analfabetos e quase não havia livrarias por esse país fora.
Se calhar, quem diz tal coisa quer dizer: "Hoje em dia, vejo muita gente bem diferente dos bem-educados colegas que tinha na minha escola, ali num bairro muito bom de Lisboa."
Ou então: "Hoje em dia, vejo imensa gente que não lê e a minha memória do passado é selectiva e só se lembra das coisas boas, incluindo as pessoas que lêem. Os que não liam nem sei quem eram."
Ou ainda: "Hoje em dia, ninguém lê aquilo que eu acho que eles deviam ler." Mas será que antigamente liam?
Sim, os outros povos também sabem o que é saudade e, com mais ou menos palavras, conseguem traduzi-la.
Os italianos, por exemplo, têm este filme, que traduz a nossa palavra na perfeição:
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