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O que posso eu dizer-te, meu amor? Na verdade, não sei como chegámos àquela gritaria toda, às 4 da manhã, com os vizinhos a bater nas paredes. Sim, foi qualquer coisa a ver com a Palestina -- o conflito do médio oriente instalou-se lá em casa, e eu sem poder fazer nada, porque no fundo quando vemos um precipício, gosto de me atirar, não é verdade? Sim, eu tenho esta mania... Defendes-me os palestinos, eu atiro-me de cabeça a defender Israel. Não te sei explicar. Parece que eu gosto. Mas, sabes? Talvez se tivéssemos nascido por lá... Não sei, talvez se eu fosse israelita e tu palestina, talvez se tivéssemos desde crianças ouvido o que eles ouvem, vivido o que eles vivem, talvez a nossa discussão fosse grande e genuína e talvez até mortífera, e talvez fosse comovente ver como no fim do dia nos beijávamos e fazíamos amor na mesma, e haveria até quem fizesse reportagens sobre a nossa vida de Romeu e Julieta do Médio Oriente. Assim, somos apenas dois tristes lisboetas a seleccionar notícias e argumentos e a discutir ao fim do dia, na varanda, com Lisboa sossegada aos pés, à procura dum pouco de pimenta na vida. Se fôssemos israelitas e palestinos, queríamos apenas sossego ao fim do dia, menos rockets e menos mísseis sobre o telhado, para podermos, de facto, abraçar-nos para lá dos nomes dos países e dos argumentos repetidos durante séculos e sermos apenas isso, um homem e uma mulher, na cama, nessa outra guerra de que não quero a paz. Vamos por isso discutir sem palavras, e que reclamem os vizinhos, que nesse caso eu não me importo -- e havemos de acordar a rir, sujos e imperfeitos, numa manhã qualquer dum país em paz. Já não sei se estou a falar do que eles desejam ou do que nós temos e não cumprimos. Mas, que importa? Dá-me lá um beijo e cala-te.
Em vez de três livros, levava um gerador, muito gasóleo e um Kindle cheio de livros.
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Bem, se calhar levava à mesma três livros, só por via das dúvidas.
Leio este Manifesto sobre os 800 anos da nossa língua (aliás, os 800 anos do primeiro documento oficial) e acho que não deixa de ser uma forma inteligente de falar da língua sem cair no já cansativo tema do "acordo ou não acordo”. Sim, é bom falar da nossa língua sem polémicas e sem medos.
Eu até ia postar o texto inteiro — apócrifo — sobre os 800 anos da língua portuguesa, mas comemorar uma data tão importante com um “a nível de”, eu me recuso!
Ora, há que começar por dizer que é raro uma palavra poder ser traduzida por uma só palavra noutra língua. Muitas vezes, a uma palavra corresponde uma expressão (e vice-versa). É possível imaginar casos em que o tradutor tem de escrever um parágrafo inteiro para traduzir uma só palavra. Outras vezes, uma frase inteira pode ser traduzida por uma só palavra.
Dito isto, e tendo em conta o que disse no primeiro post deste blog (não existem palavras intraduzíveis), desafio quem julgar ter encontrado a mítica Palavra Intraduzível para pensar no seguinte: consegue explicar o significado dessa palavra? É provável que consiga. Descreva o significado o melhor possível, usando todas as palavras que quiser.
Pois bem, agora traduza essa descrição para a língua que desejar. Pronto: a palavra intraduzível está traduzida! E, provavelmente, um tradutor experiente conseguiria traduzir usando muito menos palavras — e, seja como for, a tal Palavra (aparentemente) Intraduzível, se estiver integrada numa frase, irá ter um significado mais preciso e mais facilmente traduzível.
Sim, é verdade: traduzir é muito difícil. Mas nunca é impossível.
Não acredito em palavras intraduzíveis. Não posso provar que não existam (ninguém pode provar que X não exista nalgum ponto do universo), mas considero-as tão improváveis como um unicórnio voador. E julgo não errar muito se disser que não há ninguém no mundo que tenha encontrado um desses unicórnios ou uma dessas palavras.
Sim, é verdade: olhem bem para uma piscina no Algarve. Olhem para as várias nacionalidades (facilmente distinguíveis pelo nível de encarnado da pele) e olhem para o que têm na mão. Quanto mais vermelha a pele, mais livros na mão. Até avós têm o seu Kindle. Quanto aos bronzeados conterrâneos, para quê ler, se o sol da nossa terra é assim? Será essa a lógica?
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