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Pode desatar tudo à batatata.... Vejam aqui.

 

publicado às 16:28

O que posso eu dizer-te, meu amor? Na verdade, não sei como chegámos àquela gritaria toda, às 4 da manhã, com os vizinhos a bater nas paredes. Sim, foi qualquer coisa a ver com a Palestina -- o conflito do médio oriente instalou-se lá em casa, e eu sem poder fazer nada, porque no fundo quando vemos um precipício, gosto de me atirar, não é verdade? Sim, eu tenho esta mania... Defendes-me os palestinos, eu atiro-me de cabeça a defender Israel. Não te sei explicar. Parece que eu gosto. Mas, sabes? Talvez se tivéssemos nascido por lá... Não sei, talvez se eu fosse israelita e tu palestina, talvez se tivéssemos desde crianças ouvido o que eles ouvem, vivido o que eles vivem, talvez a nossa discussão fosse grande e genuína e talvez até mortífera, e talvez fosse comovente ver como no fim do dia nos beijávamos e fazíamos amor na mesma, e haveria até quem fizesse reportagens sobre a nossa vida de Romeu e Julieta do Médio Oriente. Assim, somos apenas dois tristes lisboetas a seleccionar notícias e argumentos e a discutir ao fim do dia, na varanda, com Lisboa sossegada aos pés, à procura dum pouco de pimenta na vida. Se fôssemos israelitas e palestinos, queríamos apenas sossego ao fim do dia, menos rockets e menos mísseis sobre o telhado, para podermos, de facto, abraçar-nos para lá dos nomes dos países e dos argumentos repetidos durante séculos e sermos apenas isso, um homem e uma mulher, na cama, nessa outra guerra de que não quero a paz. Vamos por isso discutir sem palavras, e que reclamem os vizinhos, que nesse caso eu não me importo -- e havemos de acordar a rir, sujos e imperfeitos, numa manhã qualquer dum país em paz. Já não sei se estou a falar do que eles desejam ou do que nós temos e não cumprimos. Mas, que importa? Dá-me lá um beijo e cala-te.

publicado às 12:47

Em vez de três livros, levava um gerador, muito gasóleo e um Kindle cheio de livros.

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Bem, se calhar levava à mesma três livros, só por via das dúvidas.

publicado às 13:22

Pilha de Livros

20.07.14

Novo projecto sobre livros: uma revista online chamada Pilha de Livros.

 

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publicado às 23:47

Leio este Manifesto sobre os 800 anos da nossa língua (aliás, os 800 anos do primeiro documento oficial) e acho que não deixa de ser uma forma inteligente de falar da língua sem cair no já cansativo tema do "acordo ou não acordo”. Sim, é bom falar da nossa língua sem polémicas e sem medos.

Será? Ora, já devia saber que as pessoas interessadas nestes assuntos estão especialmente susceptíveis ao vírus do purismo inflamado. Por baixo do artigo, lá encontro um link para um blog brasileiro que refere o manifesto publicado pelo Público.
Vou ler o post desse blog. O blogger faz link ao Manifesto, mas parece ficar ligeiramente enojado com o português do Manifesto: 
Eu até ia postar o texto inteiro — apócrifo — sobre os 800 anos da língua portuguesa, mas comemorar uma data tão importante com um “a nível de”, eu me recuso!
A ideia geral é esta: ah, e tal, eles até celebram a língua, mas estão a maltratá-la. Porquê? Porque no Manifesto, a certa altura, encontramos a expressão “a nível de”.

Pois, exacto. O que interessa estarmos a falar da nossa língua, quando o texto que a celebra usa tão pérfida expressão?

Bolas, tenho de perguntar: o que está errado com esse uso de “a nível de”? Será uma expressão pouco clara? Será uma expressão demasiado “popular”? Será pouco formal? É evitada por pessoas de elevado nível académico? Ou tudo isto é apenas uma irritação pessoal do autor, umas das manias linguísticas que algumas pessoas não conseguem distinguir dos erros verdadeiros?

Neste caso, para além do purismo inflamado, presumo que haja alguma confusão do blogger, que não estará habituado à variante lusitana do português, na qual "a nível de" é perfeitamente aceitável (talvez um pouco afectada). Pelos vistos, no Brasil, é considerada um "erro comum” (vejam o número seis desta lista). É, provavelmente, daquelas expressões que muitos usam e alguns acham que ninguém deve usar, porque é feio e hoje não me apetece.

Mesmo que seja um erro no Brasil (não me parece, mas não vou comentar), não é um erro na variante em que o texto está escrito. Temos aqui um exemplo claro da crítica "disparar primeiro e perguntar depois". A expressão parece errada? Vamos acusar os autores do texto de maltratarem a língua! Nem vale a pena dar o benefício da dúvida. O crítico fica sempre protegido no seu escudo de Protector da Língua. Os outros que se cuidem...

Mesmo que a expressão não fosse a mais feliz; mesmo que pudéssemos rescrever o texto para a evitar; mesmo que fosse um erro... Será o suficiente para mandar para as urtigas todo o texto? A nossa tolerância linguística só pode ser zero? Não podemos celebrar a língua e falar da língua sem medo de irritar os polícias da língua?
E o que importa aqui é o que o texto diz (até porque está muito bem escrito...). A língua que se celebra não é só a língua ideal que está na cabeça de cada um. É a língua toda, do Acre a Timor... Temos um texto que chama a atenção para essa data que ninguém conhecia: o aniversário do primeiro documento oficial em português (e, em Portugal, o Manifesto teve impacto mediático, raro nestas questões da língua). Mas que vale isso perante uma expressão que nos irrita?

Ora, há que começar por dizer que é raro uma palavra poder ser traduzida por uma só palavra noutra língua. Muitas vezes, a uma palavra corresponde uma expressão (e vice-versa). É possível imaginar casos em que o tradutor tem de escrever um parágrafo inteiro para traduzir uma só palavra. Outras vezes, uma frase inteira pode ser traduzida por uma só palavra.

Dito isto, e tendo em conta o que disse no primeiro post deste blog (não existem palavras intraduzíveis), desafio quem julgar ter encontrado a mítica Palavra Intraduzível para pensar no seguinte: consegue explicar o significado dessa palavra? É provável que consiga. Descreva o significado o melhor possível, usando todas as palavras que quiser.

Pois bem, agora traduza essa descrição para a língua que desejar. Pronto: a palavra intraduzível está traduzida! E, provavelmente, um tradutor experiente conseguiria traduzir usando muito menos palavras — e, seja como for, a tal Palavra (aparentemente) Intraduzível, se estiver integrada numa frase, irá ter um significado mais preciso e mais facilmente traduzível.

Sim, é verdade: traduzir é muito difícil. Mas nunca é impossível.

Não acredito em palavras intraduzíveis. Não posso provar que não existam (ninguém pode provar que X não exista nalgum ponto do universo), mas considero-as tão improváveis como um unicórnio voador. E julgo não errar muito se disser que não há ninguém no mundo que tenha encontrado um desses unicórnios ou uma dessas palavras.


Como podemos definir uma palavra intraduzível? Ora, tendo em conta que uma palavra só ganha verdadeiro sentido quando integrada num texto ou, pelo menos, numa frase (com o contexto incluído, se faz favor), definiria uma frase intraduzível como: uma frase em determinada língua que explica um aspecto da realidade que está para sempre fora do alcance da compreensão dos falantes de outra língua [1]. 

O que veríamos se encontrássemos duas pessoas a usar a tal frase intraduzível? Veríamos algo assim: um dos falantes diz a mítica frase; o outro abre os olhos e vemos surgir na sua face a expressão inconfundível da súbita compreensão de qualquer coisa que não se percebia antes. Perguntamos aos dois falantes o que estão a discutir. Olham para nós, esforçam-se um bocado, e acabam por encolher os ombros. Conseguem explicar na sua língua, mas não conseguem traduzir para nenhuma outra língua. A tradução das palavras intraduzíveis é apenas e só o silêncio.

Como vêem, não podemos dizer com certeza absoluta que tal coisa seja impossível, mas é tão improvável como um unicórnio voador.

[1] Os aspectos da realidade de que falo aqui podem incluir a realidade cultural de qualquer povo. Longe de ser intraduzível, podemos sempre explicar essa realidade cultural a outros povos.

publicado às 12:07

Sim, é verdade: olhem bem para uma piscina no Algarve. Olhem para as várias nacionalidades (facilmente distinguíveis pelo nível de encarnado da pele) e olhem para o que têm na mão. Quanto mais vermelha a pele, mais livros na mão. Até avós têm o seu Kindle. Quanto aos bronzeados conterrâneos, para quê ler, se o sol da nossa terra é assim? Será essa a lógica?


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