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... têm aqui uma proposta um pouco diferente do habitual.
A revista The Economist tem um gosto especial por línguas, que só pode surpreender quem se deixa enganar pelo título sóbrio da dita publicação. Afinal, esta é uma revista que finge ser aborrecida, para depois andar a brincar com as legendas (onde aparecem piadas quase como quem não quer a coisa) e com o estilo da linguagem (muito directo e, até, divertido).
Para além dos artigos sobre línguas que aparecem com alguma frequência na edição impressa, um dos blogs que a revista aloja no seu site é Johnson — um blog dedicado às línguas e à linguagem. Por lá, podemos ler um post sobre as ferramentas que os amantes das línguas podem usar para descobrir mais sobre o seu amor ou outro post sobre a diferença entre "dialecto" e "língua".
Para quem quer saber mais sobre línguas e linguagem e não acha que já sabe tudo (um problema muito comum nesta área), é um blog interessantíssimo.
Para não andar a chatear os meus queridos amigos e querida família com posts que quase só interessam ao menino Jesus, não divulgo muito este blog. Uma vez por outra lá faço like nos posts, só para ser malandro.
Pois tenho uma amiga que é tão amiga que descobriu que o blog é meu pelo tom das paredes do meu quarto, quando às vezes ponho aqui fotos dos livros... Se isto não é amizade, não sei o que é.
Pois perante este post, ela perguntou-me quem era o amigo que tinha feito tal coisa...
Contei-lhe — e ela, para eu não me sentir tão mal, lembrou-me da vez em que estávamos na Fnac a ver álbuns fotográficos, ela pega num deles, vamos pela Fnac fora a ver outras coisas, continuamos a conversar, a conversar, e de repente estávamos cá fora e ela de álbum na mão.
Acontece a qualquer um!
Está bem que no caso dela foi absolutamente involuntário. No caso do meu, hum, amigo, foi um pouco mais voluntário. Mas era um livro que dava mesmo muito jeito. E não dava propriamente para comprá-lo. Não estava à venda. Estava ali, nos móveis. À mão de semear... Se calhar é melhor dizer ao meu amigo para ir devolver o dito. Ainda algum sueco se chateia.
Enfim, recordar é viver!
Vamos imaginar o tempo de Galileu. Como sabem, Galileu defendia que a Terra girava à volta do Sol e, por causa de tal heresia, sofreu o que todos sabemos. Todos sabemos, hoje, que a Terra gira, de facto, à volta do Sol — e sabemos também que o Sol também não está parado, andando a percorrer uma órbita em redor da nossa galáxia, que por sua vez também não está propriamente parada.
Continuemos a imaginar que aterrámos no tempo de Galileu: perguntem a qualquer pessoa da rua e essa pessoa irá dizer, certamente, que a Terra está parada. Então não se vê? Olhamos em volta e reparamos: o mundo está parado, bem fixo no mesmo lugar. Os astro, lá em cima, é que andam à volta da Terra. Hoje já será mais difícil encontrar quem diga isso porque, ao fim de muitos séculos, o conhecimento científico lá conseguiu "infectar" o conhecimento comum.
Vamos continuar por esse tempo: se perguntarem a alguma pessoa da rua o que acha dessa história dum tal de Galileu defender que a Terra anda a girar em torno do Sol, o nosso entrevistado talvez dissesse que Galileu é um desses cientistas que se acha muito esperto, mas que não vê o que está à frente dos olhos de qualquer um: a Terra está bem parada, ponto final. Terá algumas ideias sobre esses cientistas: dirá, talvez, que andam a gastar dinheiro dos contribuintes, que andam ao serviço do demónio, que não sabem o que fazem, que andam a tentar desviar as crianças para o caminho do Mal (ou outra coisa qualquer).
Perguntem agora a um sacerdote: ele até poderá conhecer de forma mais profunda as ideias de Galileu e até perceber a sua coerência interna, mas também sabe das implicações de aceitar tais ideias. A sua recusa será mais intelectual, mas mais aguerrida: Galileu põe em causa tudo o que há de mais sagrado. Investigar o que ele diz não interessa e a própria investigação tem de ser considerada uma heresia.
Ora, o que temos aqui é o seguinte:
a) As ideias comuns sobre determinado fenómeno.
b) As ideias científicas (sempre em evolução e não necessariamente conformes às ideias comuns).
c) As ideias comuns sobre o que fazem os cientistas.
d) As ideias dos sacerdotes (aqueles a quem interessa defender as ideias comuns por terem algum interesse ou algum investimento emocional nessas ideias).
Quando falamos de línguas e linguagem, temos, muitas vezes, todos estes elementos de forma igualmente clara.
a) As línguas são objecto de muita curiosidade e muitas ideias — "há línguas melhores do que outras", "os brasileiros falam um português imperfeito", "os lisboetas não têm sotaque", "os jovens falam cada vez pior", etc.
b) Existem uns cientistas que estudam as línguas e a linguagem humana chamados "linguistas". Estes cientistas têm ideias que vão evoluindo, através do confronto entre teoria e realidade, confronto esse que permite refinar essas mesmas teorias. As ideias dos cientistas e a sua terminologia nem sempre estão de acordo com as ideias comuns sobres as línguas e linguagem. Como em todas as disciplinas científicas, há vários pontos de discórdia entre cientistas, mas todos acreditam que podem aproximar-se da realidade através do estudo científico das questões (sem nunca acreditarem que estão na posse de conclusões definitivas). Por outro lado, há um grande consenso sobre alguns pontos básicos relacionados com as línguas — pontos básicos esses que nem sempre estão de acordo com as ideias comuns sobre as línguas — ou seja, em muitos pontos os linguistas, no seu conjunto, sabem coisas que as pessoas em geral desconhecem (e isto por vários motivos).
c) A população em geral e os especialistas doutras áreas têm ideias sobre o que os linguistas fazem que nem sempre correspondem ao que os linguistas pensam, dizem ou fazem. Por exemplo, muitos acham que a linguística defende que tudo está certo e podemos falar como quisermos, quando, na realidade, a linguística não tem como objectivo prescrever normas ou a falta de normas. (Dito isto, o conhecimento linguístico leva, normalmente, os linguistas a terem opiniões diferentes em relação a estes pontos em comparação à população em geral — da mesma forma que será mais difícil encontrar um cientista na área da física ou da astronomia que acredite em fantasmas ou na astrologia...).
d) Também na área das línguas e da linguagem existem sacerdotes: professores, escritores, jornalistas, tradutores, etc. Todos estes sacerdotes têm um investimento emocional muito forte em certas ideias sobre as línguas e a linguagem e nem sempre gostam das conclusões científicas sobre essa mesma área.
Nesta comparação entre as ideias astronómicas científicas e comuns e as ideias linguísticas científicas e comums há uma diferença: ao contrário do que se passa com a Terra e o Sol e Galileu, os linguistas têm de tomar em consideração as ideias comuns sobre as línguas e a linguagem, porque essas ideias fazem parte do seu objecto de estudo. Ou seja, o que as pessoas acham que sabem sobre a língua que falam tem influência sobre essa mesma língua e é, por isso, objecto de estudo da linguística.
Mas, em grande medida, estamos a falar do mesmo fenómeno: a relação difícil entre o conhecimento comum e o conhecimento científico. É uma relação difícil por natureza, porque o conhecimento científico existe para podermos ultrapassar os enviesamentos, as generalizações e os erros do conhecimento comum. O que não quer dizer que o conhecimento comum esteja sempre errado: pode acertar, em alguns pontos (ou até, no limite, em todos) — mas tem de ser testado, integrado num sistema teórico coerente e válido (até mais ver), etc., etc. Não basta acreditar, é preciso testar...
Por outro lado, a todos os linguistas que desesperam por verem o conhecimento comum tão distante do conhecimento científico sobre as línguas e a linguagem, é preciso dizer: por vezes é preciso esperar séculos para que o conhecimento comum integre o que a ciência descobriu.
Não deixa de doer aos linguistas, no entanto, ter de levar com a arrogância típica de quem acha que sabe... E todos nós achamos que sabemos tudo e mais alguma coisa sobre línguas e linguagem. No entanto, só quem percebe o que não sabe consegue aprender. E temos tanto a aprender e a descobrir sobre estes assuntos...
Este é um livro que comecei há umas largas semanas, mas fui deixando para trás, à medida que outros se punham à frente.
Agora, no meio duma revoada de notícias sobre a Ucrânia, a Crimeira e a Rússia, o livro parece ganhar uma nova urgência.
Pode ser que perceba melhor o que se está a passar...
The Revenge of Geography, de Robert D. Kaplan
Ora, esta terça-feira, depois duma manhã de trabalho imprevisto (a minha empresa decidiu fazer feriado, já que ninguém se decide nesta terra, mas houve um projecto de segunda que correu menos bem e lá tivemos a resolver o problema nessa manhã de Carnaval), peguei na minha mulher e na minha abelha, ou seja, no meu filho disfarçado de abelha (estava lindo!) — e fomos até Campo de Ourique à procura do tal mercado de que muitos falam.
Afinal, estava sol! Sol! Sol! Ouviram bem? Sol! Isto depois duma noite de mais ondulação destruidora por esses distritos-em-alerta-vermelho fora.
Antes disso, uma excursão sentimental a Espanha. Nesses dias em que fiquei no hotel de que vos falei neste post, andámos a vaguear, ainda muito childless, por essa capital espanhola fora, a pé, no meio do calor. É linda, o raio da cidade, dizia eu entredentes, que sempre fui muito catalanófilo, barcelonês de coração e pouco inclinado a gostar da capital do império. Mas o raio da capital é de morrer, já todos sabem. Afinal, Madrid nos mata a todos, certo?
(Antes que me acusam de este ser um post sem livros, tenho de vos dizer que encontrei uma ou duas ou três livrarias que muito me aprouveram. E até fui à Fnac, claro.)
Pois bem, vagueámos até dar com isto:
Sim, o famoso Mercado de San Miguel. Só que nós não sabíamos que era famoso. Entrámos, provámos e partimos, maravilhados. Siga para mais sightseeing. Percorremos a cidade nesse fim-de-semana em que lá ficámos, depois duma sexta de trabalho.
Pois bem, a moda dos mercados urbanos cool pegou e não queria deixar de conhecer o Mercado de Campo de Ourique.
Gostámos muito, comemos um caldo verde delicioso, mais um pica-pau partilhado a dois, enquanto a nossa abelhinha se deliciava com um pedaço de pão. À nossa volta, a trupe urbana dividida nas várias escolas que todos conhecemos.
Já agora, para quem não sabe, Campo de Ourique é lindo...
Bem, avancemos para norte. No Porto também há um mercado, que ironicamente conheci bastante antes do Mercado de Campo de Ourique:
Enfim, havemos de voltar a estes mercados...
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