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24.02.14

 

Claude Monet (O leitor), 1872, por Renoir

publicado às 23:01

Peço desculpa, mas vai mais um post que não tem, directamente, a ver com livros. Mas, no fundo, no fundo, até tem.

 

Lembram-se das Eleições Autárquicas?

 

Já foi há uma catrefada de meses, mas acho que todos nos lembramos bem dos Tesourinhos das Autárquicas. 

 

Confesso que fiquei ligeiramente incomodado. Senti tudo aquilo a balançar entre a brincadeira inocente e um certo complexo de superioridade de alguma nata em relação ao leite.

 

Afinal, amigos, as autárquicas são as eleições mais democráticas de todas: é o povo que ali está a ser eleito, ou seja, as pessoas reais, que fazem o nosso país, e que se metem nestas coisas por vários motivos, nem todos tão baixos como o comentariat nacional acredita logo à partida, com o seu pensamento simplista e supostamente muito lúcido. 

 

Enfim, adiante. Não vale a pensa pensar muito no caso. Alguns cartazes eram, de facto, muitíssimo engraçados, e gosto de imaginar que os próprios retratados se conseguem rir daquilo. Por mim, apesar da ligeira incomodidade, não deixei de rir. É preciso é descontrair, ó gentes do meu país.

 

Agora, o caso da Picha. Este cartaz andou a circular pela net, partilhado por toda a gente:

 

 

O que tem de mal este cartaz? Aparentemente, nada. É magnífico enquanto "tesourinho das autárquicas".

 

Só que...

 

O cartaz é falso. Alguém achou que não bastavam os verdadeiros cartazes risíveis por esse país fora: teve de inventar uma freguesia que não existe.

 

Sim, porque a Picha não é freguesia.

 

Quando disse isto a alguns amigos, ficaram a coçar a cabeça: "desculpa, mas esta localidade existe, até está no Google Maps".

 

Pois claro que existe e até fica perto da Venda da Gaita. O mapa de Portugal é um caldeirão de humor.

 

A questão é a seguinte: nas eleições, andámos a eleger assembleias de freguesia, assembleias municipais e câmaras municipais. Ora, se a Picha não é freguesia (e muito menos concelho), não houve qualquer movimento candidato a uma freguesia da Picha, que não existe. 

 

Não é difícil compreender. Tal como não é difícil compreender que dificilmente alguém no seu perfeito juízo iria inventar este slogan para umas eleições. 

 

Dizem-me: "mas há gente tão parva"... Pois há, mas neste caso, os patos somos todos os que comemos este cartaz à primeira. A lógica é: "Essa gentinha que anda pelo país fora a candidatar-se a freguesias (que nojo...) só pode ser estúpida. Por isso, claro que fariam um cartaz assim estúpido. E eu, inteligente, farto-me de rir com eles."

 

É esta ideia de que toda a gente é estúpida tirando uns quantos iluminados que me faz um pouco de espécie. Mas pronto, isso sou eu, que sou um bocado ingénio. Não acho que toda a gente seja parva e, perante uma coisa destas, desconfio um pouco. Com tanta ingenuidade, engano-me várias vezes, mas desta não me enganei: confirmaram-se as fortes probabilidades de ninguém no seu perfeito juízo criar o slogan "Picha para a Frente".

 

(Já no caso do candidato ninja de Gaia, pelos vistos, era pouco provável, mas é mesmo verdade.)

 

Dizem-me também: mas o cartaz da Picha é engraçado na mesma!

 

Não, não é. Seria engraçado se fosse verdadeiro. Assim, é só uma brincadeira sem muita graça. 

 

(Um cartaz falso que teria muita graça seria o cartaz do Movimento de Elevação da Picha (a freguesia). Isso, sim.)

publicado às 19:15

O tempo que perdes é devolvido em vida que ganhas.

publicado às 17:40

Não faço ideia porquê, mas acho linda a frase "Qualquer avião invisível assobiava por cima das nuvens." Isto é o início do Fado Alexandrino de António Lobo Antunes.

 

publicado às 15:08

Não sei bem porquê, mas tenho um fascínio pelos subterrâneos. Acho que me veio dum livro qualquer d'Os Cinco... Já aqui falei dum livro que fala dos substerrâneos de Lisboa, doutro que fala dos subterrâneos de Paris, agora fiquem com este (do autor de London: A Biography):

 

 

 

Fiquem com o início:

 

 

publicado às 12:00

As pessoas passam a vida preocupadas com a língua portuguesa, mas em vez de arrancarem cabelos, mas vale ler e falar e ouvir e escrever — e a língua, esse bicho safado, lá se há-de safar.

 

Nisso, estou como o Stephen Fry (vejam o vídeo, por favor).

 

Agora, ando a ler o livro Txtng — The gr8 db8, do divertidísismo David Crystal. Este autor explica bem como a linguagem SMS não é nenhum drama, usa mecanismos que já existiam na língua (neste caso, inglesa) e não está a ter impacto negativo no conhecimento linguístico dos jovens. 

 

Antes de começarem aos gritos, experimentem ler o senhor Crystal. É que ele, se calhar, até tem razão.

 

"Ah, então quer dizer que agora podem escrever assim nos testes?" 

 

Não, claro que não podem. E só o fazem por distracção. Desde sempre a língua teve vários registos e não saber usá-los nas situações apropriadas é que é falta de conhecimento linguístico. Tanto erra o aluno que escreve num teste "Ñ sei q resposta dar" como o jovem que escreve uma SMS a uma amiga: "Ex.ma Sr.ª, gostaria de se encontrar comigo depois de amanhã à porta do botequim? Poderá haver possibilidade de contacto físico, se V. Ex.ª assim o entender."

 

publicado às 09:30


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