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(...and then run for cover.)

 

Gostei do primeiro, mal posso esperar pelo segundo.

publicado às 17:47

Este não vai para a série "livros da minha vida", mas está lá quase. Este foi dos poucos livros que me deixaram de lágrima ao canto do olho. É lá mais para o fim, e o culpado é um cão a correr. 

 

Estou a falar de O Retorno, de Dulce Maria Cardoso, editado pela Tinta da China.

 

 

Como sempre, o livro é muito o que se conta — e o que se conta é o retorno a Portugal duma família de portugueses angolanos, os famosos retornados — mas também como se conta, e o como se conta é uma deliciosa voz adolescente no turbilhão dessa história bem real que parece já esquecida tão poucas décadas depois, a história dum exílio de um milhão de pessoas, exílio por que poucos povos passaram e que nós, Portugueses, para o bem e para o mal, integrámos nas nossas vidas como se não tivesse sido nada. Em termos nacionais, foi como se tivéssemos caído duma altura de muitos metros e depois bastasse um "já passou" dos nossos pais para ficar tudo bem. Não sei até que ponto ficou mesmo tudo bem ou decidimos inconscientemente não falar mais do assunto.

 

Podemos não falar, mas o assunto é imenso e muito bem tratado nas mãos de Dulce Maria Cardoso. A tal forma como se conta inclui as palavras desses outros portugueses, como machimbombo, as conversas desses outros portugueses, incluindo as conversas que nos arrepiam, mas que são parte de nós. E o que se conta é também o certo desprezo da população em relação a estes outros portugueses, e o trauma do desenraizamento, e tudo o mais que podemos falar assim como quem não quer a coisa num blog levezinho, mas que este romance nos atira à cara com estrondo, para nos fazer sentir essa dor bem real por que tantos de nós passaram — e, com essa dor, sentimos o imenso de prazer de ler uma história muito bem contada.

 

Não interessa muito o que digo aqui, para dizer a verdade. O romance é dos melhores que li nos últimos anos, e não há perdão possível para quem não ler esta obra já a seguir.

(Mais logo falamos disto...)

 

publicado às 13:26

Ora, enquanto a série de posts sobre a viagem a Andorra continua parada, vou-vos contar como encontrei um amigo que nunca vira, no meio de Barcelona, através dum balde de Chupa-Chups.

 

Por causa da maluqueira pela Catalunha que apanhei nessa viagem em 1993, acabei por conhecer um pouco mais a fundo a cultura catalã e aproveitei a moda dos IRCs e outras formas de conversa internética para falar com catalães — acabei por ficar amigo de alguns, incluindo o Ricard, um barcelonês que achava muito estranho o interesse dum adolescente pela sua cultura, e ainda uma polaca, a Joanna (não imaginem histórias mais interessantes do que geeks a falar de cultura catalã — era só isso, lamento).

 

Pois bem, em 2001, alguns anos depois de todas estas conversas, fui a Barcelona com os meus pais (uma história que merecerá só por si outros posts) e combinei com o Ricard para, finalmente, nos encontrarmos.

 

Como combinámos? Ora bem, ele iria estar à porta dum dos vários El Corte Inglés com um balde enorme de Chupa Chups. Exacto, um balde de chupa-chupas! Se não sabem, ficam a saber que a empresa foi fundada por um catalão, o logo foi desenhado pelo Dalí (um catalão) e o seu primeiro slogan foi uma frase muito catalã: És rodó i dura molt, Chupa Chups (vejam aqui o artigo wikipédico sobre a marca, na versão catalã).

 

Porquê esta forma estranha de nos encontrarmos? Porque ele trabalhava na empresa e podia, assim, oferecer-nos chupa-chupas para dar e vender. A minha irmã, que tinha 8 anos na altura, adorou a ideia e ainda hoje fala desse meu amigo que lhe ofereceu tantos chupas que duraram meses, dentro dum balde de metal que não sei por onde anda, mas era linda (os catalães não fazem mesmo por menos e até um balde de chupas é digno de admiração).

 

Lá nos encontrámos todos. Os meus pais ficaram maravilhados com o facto de as pessoas por trás das conversas na Internet serem reais (estávamos em 2001 e os meus pais não tinham email — hoje têm tudo, até conta de Facebook, claro). Conversámos um pouco, numa estranha cena em que portugueses e um catalão comunicam numa mistura estranha de línguas.

 

Depois, sentámo-nos num café e estivemos a conversar um pouco ao vivo, depois de anos de conversa online. Tentei usar o meu melhor catalão, e não correu muito mal. Hoje, julgo que não conseguiria, a não ser que tivesse bebido alguma coisa antes (há muitos anos, os meus amigos perceberam que, quando bebo um ou dois copos, começo a falar línguas estrangeiras muito melhor — mas essa história fica para depois).

 

Antes de nos despedirmos, o Ricard decidiu oferecer-me um livro. O livro que escolheu, na livraria do El Corte Inglés, foi este:

 

 

Tive direito a dedicatória e tudo:

 

 

Entretanto, o Ricard foi viver para a China, para Xangai (esteve anos a aprender chinês, o que é mais inteligente da parte dele do que, para um português, aprender catalão...). 

 

*

 

Já agora, não sei se conhecem o poeta. É um dos grandes poetas catalães (e, por curiosidade, avô de Pasqual Maragall, presidente de Barcelona durante os Jogos Olímpicos de 1992 e presidente do governo catalão anos mais tarde entre 2003 e 2006). 

 

O poema mais conhecido do poeta é este: 

 

Oda a Espanya (1898)

 

Escolta, Espanya, — la veu d’un fill
que et parla en llengua — no castellana:
parlo en la llengua — que m’ha donat
la terra aspra;
en ‘questa llengua — pocs t’han parlat;
en l’altra, massa.

 

T’han parlat massa — dels saguntins
i dels qui per la pàtria moren;
les teves glòries — i els teus records,
records i glòries — només de morts:
has viscut trista.

 

Jo vull parlar-te — molt altrament.
Per què vessar la sang inútil?
Dins de les venes — vida és la sang,
vida pels d’ara — i pels que vindran;
vessada, és morta.

 

Massa pensaves — en ton honor
i massa poc en el teu viure:
tràgica duies — a mort els fills,
te satisfeies — d’honres mortals
i eren tes festes — els funerals,
oh trista Espanya!

 

Jo he vist els barcos — marxar replens
dels fills que duies — a que morissin:
somrients marxaven — cap a l’atzar;
i tu cantaves — vora del mar
com una folla.

 

On són els barcos? — On són els fills?
Pregunta-ho al Ponent i a l’ona brava:
tot ho perderes, — no tens ningú.
Espanya, Espanya, — retorna en tu,
arrenca el plor de mare!

 

Salva’t, oh!, salva’t — de tant de mal;
que el plor et torni feconda, alegre i viva;
pensa en la vida que tens entorn:
aixeca el front,
somriu als set colors que hi ha en els núvols.

 

On ets, Espanya? — No et veig enlloc.
No sents la meva veu atronadora?
No entens aquesta llengua — que et parla entre perills?
Has desaprès d’entendre an els teus fills?
Adéu, Espanya!

publicado às 12:38


Quanto aos livros, já temos o 23 de Abril...

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