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O que ele odiava o dia dos namorados! Quando chegava a esta altura, acabava tudo com a namorada só para não ter de cumprir a tradição, deixando claro que no dia 15 esperava começar tudo de novo. A namorada — sempre a mesma — lá se habituou, até porque gostava de ser pedida em namoro, sem falha, todos os dias 15 de Fevereiro. Ao fim de dez anos, era já uma tradição.

publicado às 18:11

Ora, continuando a saga de Andorra...

 

Não sei se conhecem os spaghetti westerns...

 

 

O giro destes filmes (além da possível qualidade dos mesmos) é que foram gravados na Europa... Por exemplo, em Espanha. Muitos dos desertos do Velho Oeste são, na realidade, antigos desertos ibéricos. 

 

Por isso, amigos, atravessar a Península Ibérica em Agosto é atravessar os desertos onde o Clint Eastwood andava aos tiros há umas décadas. 

 

É quente como o raio.

 

Mas, pronto, adiante. 

 

Afinal, chegados a Andorra, ficaríamos mais frescos, certo?

 

Nem por isso. Andorra, em Agosto, não é propriamente um destino de neve. 

 

Aliás, nem foi para isso que lá fomos. Fomos porque éramos malucos — e o casal amigo dos meus pais diziam que lá se faziam boas compras para motards, coisa que eles os quatro (meus pais e casal amigo) eram ou queriam ser nesses velhos tempos em que tinham 30 e poucos anos.

 

Depois, Andorra era parte das velhas histórias de família, porque a minha avó paterna tinha lá passado muitos anos antes e tinha-lhe acontecido daquelas coisas que os avós contam aos netos. Mas depois vemos isso, agora vamos voltar à nossa viagem a Andorra (que ainda há-de desembocar n'Os Lusíadas).

 

Pois bem, depois de dois dias (salvo erro) de viagem, vimo-nos num hotel em Andorra. Andorra é um país curioso. Parece um país a brincar, porque é tão pequeno. Podemos percorrer o país em pouco tempo — apesar de estar ali no meio das montanhas. É uma espécie de país em miniatura que, nesse mesmo ano (1993), perdeu todos os restos de feudalismo, ao transformar-se numa democracia moderna e independente (com a bonita excepção dos dois príncipes, que ao velho jeito feudal, continuam a ser os senhores de terras próximas: o chefe dos francos e o bispo da diocese ao lado — ou seja, o Presidente da França e o Bispo de Urgell). 

 

 

Fonte: http://www.hoya.com.br/blog/descobrindo-andorra/

 

Passeámos muito, é certo, mas uma das coisas de que me lembro melhor é de estar nesse quarto e ligar a televisão e ver um programa qualquer da televisão andorrana.

 

Ora bem...

 

Não sei se os mais distraídos sabem disto, mas Andorra é um país independente, aliás mais antigo que Espanha, por exemplo.

 

Não só é independente, como a língua oficial não é nem o espanhol nem o francês, mas antes o catalão. Claro que quem souber espanhol safa-se bem, mas isso também pode ser dito do português, pois uma percentagem elevadíssima da população fala a nossa querida língua.

 

Ora, o que eu ouvi nesse programa, em 1993, foi a apresentadora a falar em catalão.

 

Não sei se já ouviram essa língua — para muitos portugueses, soará a algo parecido com o espanhol, e chega de investigar a coisa. É espanhol, ponto.

 

Mas não é, claro. Um madrileno perceberá tão bem um catalão a falar catalão como um português a falar português. Os catalães também falam espanhol, claro, mas quando falam catalão são polacos para os outros espanhóis — que, aliás, lhes chamam isso mesmo: polacos (em jeito de insulto).

 

O que se passa é o seguinte: o catalão falado tem uma sonoridade estranhamente portuguesa. Não compreendemos muita coisa, principalmente sem treino. Alguns falantes do catalão, além disso, falam com um sotaque muito castelhanizado, o que é normal, tendo em conta que as duas línguas interferem uma com a outra. Mas alguns catalães, a falar, soam a portugueses. Afinal, o catalão tem muito mais vogais do que o espanhol, o que também acontece com o português europeu (mas não com o português brasileiro). 

 

Adiante: nos meus doze anos muito geeks (geeks no sentido de gostar de línguas e de inventar línguas), fiquei fascinado com aquilo. Tanto, que comecei a reparar naquela língua, a ler sobre aquela língua e a ficar um pouco obcecado pelo catalão — também muito por obra de ser teimoso e ter tido uma discussão com uma tia minha alguns dias depois de voltar sobre o facto de o catalão não ser um dialecto do espanhol.

 

Hei-de vos contar isso mais adiante. Para já, ficamos por aqui.

 

Mas continuemos a viagem: se entramos em Andorra pela fronteira espanhol, saímos por Pas de la Casa, na fronteira francesa. Foi a primeira vez que entrei em França e lembro-me de olhar fascinado para um castelo, com a tricolor a ondear altivamente. Chegámos a Bourg Madame, onde fiquei muito baralhado com as placas da estrada. Afinal, todos os lados pareciam dizer "Espagne". Havia Espanha por todos os lados. 

 

E, de facto, se olharem para o mapa, é mesmo assim. Bourg Madame fica entalada entre Espanha e um enclave espanhol em França, chamado Llívia. Isto acontece por causa da história da Catalunha. Hei-de voltar a estes assuntos — mas por favor não fujam já do blog!

 

 

Não percam as cenas dos próximos capítulos: o que contava a minha avó sobre quando foi a Andorra há muitos anos, o que nos aconteceu em Barcelona enquanto estávamos pendurados no teleférico e, last but not the least, o que raios tem isto a ver com os Lusíadas.

 

 

 

E não é que me fui esquecendo dos livros da minha vida?

 

Mas não importa. Avancemos para o quarto livro da minha lista de livros da vida:

 

 

Exacto. O Mundo de Sofia. Eu sei que é uma escolha muito adolescente, mas, enfim, não vou mentir: foi mesmo um dos livros da minha vida.

 

Quando li, foi como se me tivessem empurrado duma ribanceira abaixo, porque me senti sem chão, com as famosas crises existenciais em catadupa. Foi importante, porque me deu umas luzes sobre a história das ideias, sobre os debates filosóficos, sobre o pensamento crítico e por aí fora — e tudo com a intensidade emocional que qualquer adolescente precisa. 

 

Não me consigo esquecer de muitos episódios, de muitas explicações — por exemplo, os fracos que Sofia bebia alternadamente, mostrando-lhe o mundo visto pelos românticos ("é impossível imaginar como é ser outra pessoa!") e pelos realistas ("somos todos iguais e o mundo está em comunhão perpétua") — algo assim, porque lembro-me, mas não me lembro assim tão bem.

 

Na altura, li muitas críticas e recensões e lembro-me de ter lido uma crítica, num jornal qualquer, em que um filósofo-vedeta (o único em Portugal!) tirava importância ao livro, afirmando algo do género: "não é preciso divulgação em filosofia, é preciso é investigação". Ou seja, o que é preciso é mais pessoas a fazer filosofia encerradas nos departamentos das universidades, e menos filosofia na rua. 

 

Ora, se a filosofia é importante, e é, é exactamente porque não pode estar encerrada em sítios escuros, que também são importantes, claro, mas não são tudo.

 

Se não é importante conseguir que alguns miúdos leiam e fiquem maravilhados com aquilo...

 

Enfim, tudo para vos dizer que fiquei quase ofendido com essa opinião do filósofo-vedeta.

 

Ora, o certo é que, mesmo sendo um livro tão adolescente, não é para todos. Porquê? Porque para muitas pessoas, muitos jovens da minha idade de então, há a barreira intransponível da "seca". Tive uma colega muito inteligente e aplicada que, mesmo assim, achou aquilo "secante". 

 

É das coisas mais difíceis de combater: a forma como o medo do tédio mata a curiosidade que todos temos em nós.

 

E não se pode dizer que o autor deste livro maravilhoso não tenha feito tudo para não ser secante. 

 

Bem, para todos os que não tiverem medo de pensar, este livro é fundamental. A aventura começa depois de o lerem.

Este post sobre Os Lusíadas lembra-me uma viagem que fiz há muitos anos.

 

À Índia?

 

Nem por isso. A Andorra…

 

Foi em 1993, tinha eu 12 anos. Os meus pais juntaram-se a um casal amigo e lá fomos. Há que dizer que os meus pais tinham, na altura, três filhos (agora têm quatro) e o casal amigo tinha dois filhos. Portanto, éramos…

 

(Deixem ver.)

 

(Ai, que esta gente dos livros não sabe contar.)

 

Éramos 9!

 

Numa carrinha de 9 lugares, sem ar condicionado.

 

Carrinha na qual atravessámos a Península Ibérica em pleno Agosto.

 

Já vos tinha dito que a carrinha não tinha ar condicionado?

 

Pois, exacto.

 

Acho que nem antes nem depois bebi tanta água como naqueles dias.

 

Pois bem, lá fomos. Seguimos até Andorra, o que foi uma aventura e tanto. Lembro-me de parar a meio e ficar a olhar para as estrelas. Afinal, no percurso que fizemos há pedaços de deserto sem nenhuma cidade há volta, onde podemos ver muito mais estrelas do que em Lisboa ou na pequena cidade onde vivíamos.

 

Por essa altura, também começava a minha mania de gostar de ir vendo as placas da estrada espanholas. Porquê? Por duas razões: porque são ligeiramente diferentes das placas portuguesas: e isso parecia-me curioso. Depois, porque iam dizendo as várias províncias e as várias comunidades autónomas por onde passávamos. Parecia um jogo: entrámos na Extremadura; agora Castela-La Mancha; agora Madrid; agora Aragão… E por aí fora.

 

Visitámos Madrid durante duas horas, às três da manhã e vimo-nos aflitos para sair. Mas lá saímos e seguimos por essa Ibéria fora, em direcção ao pequeno principado pirenaico…

 

(Continua…)

 

Cenas dos próximos capítulos: um país a brincar, como ver televisão em Andorra pode mudar a nossa vida para sempre, o que contava a minha avó sobre quando foi a Andorra há muitos anos, o que nos aconteceu em Barcelona enquanto estávamos pendurados no teleférico e, last but not the least, o que raios tem isto a ver com os Lusíadas.

 

 

http://en.wikipedia.org/wiki/File:Caldea.jpg

publicado às 09:33


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