Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Pois, isto foi assim: quando comecei a faculdade, vinha todo entusiasmado. Mal os professores davam as bibliografias, lá ia para as livrarias à procura dos livros que tinha de ler.
Sim, eu era desses.
Perdoem-me lá e avancem.
Pois bem, numa das primeiras disciplinas que tive, Introdução à Literatura Inglesa, ou algo assim, havia um livrito que tinha de ler. O famosíssimo Beowulf.
Ora, que o tinha de ler já sabia pelos resumos das cadeiras no site da faculdade, onde apareciam os títulos, mas não propriamente as edições recomendadas.
Armado com um entusiasmo provavelmente pouco saudável, ainda antes da primeira aula, lá fui comprar o Beowulf.
Ora, na Fnac, estava à venda, estranhamente, uma edição que reproduzia, com glosas lateriais, o texto original, em Old English.
O início da obra era este:
Hwæt! We Gardena in geardagum,
þeodcyninga, þrym gefrunon,
hu ða æþelingas ellen fremedon.
Oft Scyld Scefing sceaþena þreatum,
monegum mægþum, meodosetla ofteah,
egsode eorlas. Syððan ærest wearð
feasceaft funden, he þæs frofre gebad,
weox under wolcnum, weorðmyndum þah,
oðþæt him æghwylc þara ymbsittendra
Pois...
A professora, na primeira aula, lá explicou que a edição que queria era uma edição traduzida para inglês moderno.
Lá voltei à livraria, para comprar uma edição compreensível.
Não que a compra tenha sido totalmente despropositada. Afinal, o Beowulf era aquilo — e não deixa de ter o aspecto de língua nórdica, de saga antiga, de velhas aventuras em mares frios, mesmo sem percebermos uma palavra que seja.
Ah, os ð e þ são lindos.
E lermo-lo em tradução moderna deve pôr o Jorge Luis Borges a dar voltas no túmulo.
Jerry Coyne tem um óptimo site sobre ciência (às vezes ele é um bocado bruto, mas não faz mal) e um óptimo livro sobre a evolução das espécies: Why Evolution is True. Encontrei-o numa estante na Fnac e fiquei radiante. (Já agora, leiam o relato do autor sobre o lançamento do livro em Portugal. Até ele reparou que as capas da Tinta da China são lindas.)
... à dimensão do nosso pequeno blog livresco: 80 pessoas partilharam isto no Facebook!
O acordo, pelos vistos, provoca sempre isto. A favor ou contra, todos gostam de falar do assunto.
Quando chegou a casa viu que faltavam as últimas vinte páginas ao livro que comprara. Mas a história era tão boa que não teve paciência para esperar que a livraria abrisse. Escreveu ele próprio o final. Depois, embebedou-se, leu-o de uma assentada e conseguiu ficar admirado com a reviravolta no final.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.