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¶ Pára tudo...

11.02.14
... que agora tenho de ler isto...


Já agora, lembram-se de quando vos falei do Ricardo Adolfo e da sua galdéria?...

publicado às 23:56

(Sim, esta é um clássico, mas serve para comemorar a pergunta n.º 50.)

Será que era só eu que adorava o cheiro dos livros da escola, as cores, os gráficos e aquela sensação de antecipação: "então é isto que vou aprender este ano?"

 

Se calhar era só eu... 

 

Duvido. Mas pronto. 


Neste post falei de manuais e literatura nos manuais e por via dum comentário duma ilustre leitora deste blog, lembrei-me que foi com um livro de português do 8.º ano que cheguei a Mário de Carvalho.

O livro tinha o conto integral "A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho”. Como não tenho aqui esse meu livro de Português, fiquem com uma edição mais actual (não a mais recente, que como sabem o mercado de transferências de escritores anda ao rubro):

 



Se já leram, sabem como é deliciosa essa história. Este conto mostrou-me o que pode fazer a literatura — e ainda me deu um gosto especial pelos nomes das avenidas de Lisboa. Afinal, aquela “Avenida Gago Coutinho” tinha todo um sabor de avenida cheia de carros, nos anos 80, onde chefes de polícia atrapalhados combatem tropas mouras. 

 

Desde então, tive uma paixão por esse autor que tenho por quase nenhum outro autor português. Mistura a aparente leveza da linguagem com uma riqueza de vocabulário e um gosto pelas histórias e pela língua que seduz um miúdo no oitavo ano dado a estas coisas. 

 

Algum tempo depois, fui a uma feira do livro na minha escola primária. Foi uma visita engraçada: lembro-me de ter achado que voltava a um sítio onde estivera quando era novo. Ou seja, do alto dos meus 16 anos, sentia-me mais velho, quase adulto, a visitar um local da infância. Que tolo!...

 

Encontrei por lá um livro na altura muito recente: Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde. Não é a obra mais típica do autor, mas é provavelmente a sua obra-prima. Ao lê-lo, esperando uma história ao estilo da Inaudita Guerra, fui ficando com um sabor diferente na boca, um sabor inicialmente metálico, depois calmo, ponderado, até que tudo aquilo começa a picar-me doutra forma e fiquei com o livro no palato durante muito mais tempo do que até então estava habituado nas minhas leituras de puto. 

 

 

Algo curioso: um romance supostamente histórico, passado no Império Romano, fez-me ver o que até então não tinha visto no que toca à questão das seitas, que nessa altura era a mania du jour dos opinadores nacionais (e ainda nem sequer havia blogs!). As seitas (IURD, etc.) eram a praxe da altura, se bem me entendem. 

 

Enfim, com o tempo, tornou-se num autor que quero ler logo que sai um livro. Já no início deste século, quando comecei um mestrado, li este outro livro, que já era uma espécie de Inaudita Guerra em ponto grande. 

 

 

Há um pormenor no livro que me faz abrir todas as edições que encontro, para ver se o editor não se esqueceu de fazer uma alteração ao texto. É este ponto:

 

 

O número de página tem de ser actualizado conforme a edição... E, normalmente, é isso que acontece.

 

É isto que Mário de Carvalho faz: brinca com os textos, as edições e os leitores. Muito pós-modernista, diriam alguns. Muito bom, digo-vos eu.

O pessimismo é necessário e tem a sua utilidade (principalmente no que toca à nossa vida pessoal), mas enquanto forma abrangente de ver o mundo é tão enviesado como o optimismo. Por outras palavras, se virmos o mundo, à partida, de forma pessimista arriscamo-nos a errar tanto como se o virmos, à partida, de forma optimista. A solução é um pouco de rigor científico: podemos ter as hipóteses que quisermos, mas convém testá-las, ou seja, tentar ver se afinal estamos errados.

 

Veja-se este post. As preocupações são legítimas e normais. Mas algumas afirmações do texto citado são casos típicos de tremendismo. É saudável perguntarmo-nos se não serão exageradas... (E, coisa que também devia fazer, convém ir atrás de números e estatísticas, para não ficarmos enredados em ideias vagas.)

 

"Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs."

 

Bem, não exageremos. Não quero que os meus filhos passem a vida agarrados ao ecrã, mas o que vejo nos meus sobrinhos, nos meus irmãos e em mim mesmo que não sou tão velho é muita brincadeira, muita escola, muito contacto pessoal. As nossas crianças não estão a ser educadas por ecrãs. Há professores, há pais, há irmãos, há amigos. O contacto humano continua aí, de boa saúde — os pais que andam atrás dos filhos nas milhentas festas de sábado à tarde sabem-no bem.

"E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano. E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam."

 

Também não vejo as crianças a crescer frias por dentro. Pelo menos, os meus sobrinhos de 5 e 8 anos, que vêem muita televisão, jogam muito computador e brincam muito um com o outro e com os amigos, não são nem frios e não estão sem olhar para os outros. Das muitas crianças que vejo, vejo pouca frieza...

"A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar."

 

Que escolas são essas onde não se estuda? Nas que eu conheci e conheço, estuda-se muito. Sim, já ouvi muitos professores queixarem-se do mau comportamento dos alunos e da violência e de tudo isso. Mas vejo que a maior parte dos professores que conheço não desiste — e muitos alunos continuam a estudar, a trabalhar e a conseguir ultrapassar os problemas que têm. Talvez sejam uma minoria: mas alguma vez não o foram?


"A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento."

 

Depende da casa. Será que os jovens são mais brutos e mal-educados do que os jovens de há 50 anos? Estou só a perguntar. Pensem em termos estatísticos: escolham 50 jovens ao calhas no país de há 50 anos: aldeias, montes, serras e cidades. Depois escolham 50 jovens ao calhas no Portugal de hoje. (Claro que isto é uma experiência mental.) Se calhar, não há assim uma diferença tão grande, excepto na formação: os jovens de hoje estarão bem mais preparados. Afinal, os jovens de há 50 anos emigravam para fazer o que sabemos e os de hoje emigram para fazer outras coisas... (Infelizmente, uns e outros têm de emigrar, mas isso são outras histórias.)


"E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã." 

 

Mais uma vez, não acontece isto com as crianças que conheço. Sempre houve tímidos e introvertidos que preferem desolhar os outros. Mas em geral as crianças continuam muito humanas. E a empatia, pelos vistos, até nem está a diminuir...

 

Desculpem, mas estas críticas, por vezes, fazem-me lembrar quem me dizia, há muitos anos, para deixar de ler tanto e brincar mais. Nunca senti que brincasse pouco. Mas, claro, é sacrilégio dizer isto. Não se preocupem: eu sei que ler é muito melhor do que ver televisão. Eu sei, eu sei...

 

*

 

Encarem isto como uma crítica construtiva: sim, há razões para preocupações, mas em vez de tremendismo, convém olharmos para tudo com alguma perspectiva e tentando contrariar, por princípio, as nossas próprias ideias, para não ficarmos enredados em declarações vagas, que não ajudam ninguém em concreto.

 

Afinal, a resposta a muitas das coisas que digo acima será: "mas basta olhar em volta!" — não, não basta. O espírito crítico e científico é isso mesmo: tentar perceber as coisas para lá das aparências do "olhar à nossa volta".

 

E não me interpretem mal: temos de nos preocupar com os nossos filhos, de facto. Não porque estejam desumanizados, mas porque convém incentivar a curiosidade, o espírito crítico, a diversidade de interesses, a empatia, o olhar pelos outros, etc.

 

(E, sim, cinco horas de televisão por dia é um problema concreto e individual...)

 

 

publicado às 15:34

image.jpeg

 

Como Criar um Novo Eu: Descubra o Método Quântico para controlar a sua Mente e Mudar a sua Vida.

[Este livro não é recomendado por este blog...]


Ah, às vezes há prazeres destes: entregar um trabalho a um cliente cujo escritório é mesmo ao lado do Vasco da Gama... E poder assim a meio do dia dar uma rápida espreitadela à Fnac. E passar os dedos pelas secções do costume. E encontrar isto na secção de ciência e ficar completamente banzado.

 

Acham mesmo que isto é um livro de ciência?...

 

Amigos, quando vos aparecer um livro "quântico", verifiquem com mil cuidados. Muitas vezes têm de ir correr pôr o dito na secção de "espiritualidades".

 

(Outro "bullshit alert" é o Dr. antes do nome. Mesmo os maiores professores doutores não põem os títulos nas capas dos livros — a não ser que estejam a vender BS.)

publicado às 14:39

Aviso: se acha que Miguel Sousa Tavares disse aquela frase sobre os professores, se acha que há um ministro que usa cabeleira loura no Parque Eduardo VII, se acha que há milhares de ratos no Convento de Mafra, se acha que Carlos Paião estava vivo quando foi enterrado, se acha que José Sócrates teve um caso com Diogo Infante, se acha que os hambúrgueres McDonald's são feitos de minhocas, se acredita em tudo o que aparece no Facebook e afins, não leia o livro abaixo recomendado, porque pode tirar-lhe o sono.

 

Sim, há uma praga à solta por essa internet fora que é a credulidade absoluta em tudo o que nos aparece à frente. Às vezes, 5 minutos de googlação tiravam-nos do engano em que uma qualquer partilha nos faz cair.

 

Mas, enfim.

 

A coisa não é propriamente nova, certo? Sempre houve boatos, e mentiras, e histórias mal contadas. Só que Facebooks e companhia amplificam as coisas um bocadinho. Só um bocadinho.

 

Para evitar fazermos figura de parvos (faremos sempre, mais tarde ou mais cedo), é bom lermos umas coisas. Também é para isso que os livros servem.

 

Por isso, aqui vai (mais) uma recomendação neste sentido, agora menos científica e mais jornalística: Mitos Urbanos e Boatos, de Susana André. Sem mais, vão lá ler e depois voltem cá e digam o que acharam.

 

 

 

 

Alexandre O'Neill, "Portugal", neste livro:

 

(Encontrei este livro, baratíssimo, numa Fnac qualquer em 2000 ou 2001. Nunca dei por tão bem empregues 455$00...)

publicado às 09:10

O primeiro-ministro de Israel discursava ferozmente na ONU quando a namorada do intérprete apareceu na cabine vestida só com uma gabardine. Os palestinos espantaram-se quando ouviram nos auriculares uma outra linguagem, bem mais universal. Entre arfares e interjeições de amor, não conseguiram parar de rir. Fez-se ali mesmo a paz no Médio Oriente. O intérprete nem notou. Tinha coisas mais importantes entre mãos.

publicado às 04:00


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