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Primeiro livro: Lisboa, Livro de Bordo

O segundo livro da minha vida (não por ordem de importância, atenção…) continua com o mesmo autor. É melhor explicar desde já: já escrevi uma tese sobre José Cardoso Pires, por isso é normal que ele tenha uma certa importância na minha vida. Mas estes livros são importantes por si só, com ou sem tese.
Conheci o autor com a Balada da Praia dos Cães, que li vidrado numa viagem ao Algarve, entre piscinas a ecoar frases em estrangeiro e rodeada de paperbacks molhados e jantares improvisados ao final das tarde quentes dum Algarve muito banal, mas que sabia sempre a férias. Estava muito longe dessa Lisboa dos anos 60, mas é assim a literatura... 
Ora, se Balada da Praia dos Cães é daqueles livros que quase todos os portugueses conhecem, mesmo que nunca tenham lido ou nem sequer se lembrem do nome do autor, já Alexandra Alpha é um pouco menos badalado que a Balada.
Não vou estar a contar a história ou a convencer-vos a ler, mas deixem-me que vos diga que é bem provável (na minha muito humilde e parcial opinião) que este livro venha a ser lido daqui a muitas décadas como a pintura do Portugal da segunda metade do século XX, tal como lemos hoje Os Maias.
Alexandra Alpha é, como no caso d'Os Maias, uma pintura parcial e pessoalíssima, mas também uma pintura divertida, amarga, dolorosa e cheia de surpresas.
Aliás, a surpresa começa logo no início. Afinal, um livro de Lisboa como há poucos, começa no Rio de Janeiro:
Neste livro, temos essa Lisboa duma certa franja intelectual (ou as pessoas que se misturam com essa franja intelectual), com personagens inesquecíveis como Sebastião Opus Night, marialva aldeão a correr as noites de Lisboa e que não conseguia ver a cidade de dia, a Maria de óculos com aros muito grossos (essa imagem tão anos 70), que faz par com a Alexandra que olha a cidade duma altura irreal, e Sophia, e o soldado, e o par andrógino do início e todos os outros que povoam uma cidade que não quer o que tem (o regime anterior), mas não sabe o que fazer e se perde em noites de bebidas e conversas.
(Continua...)
Mas enquanto não continua, fiquem com a capa duma edição em espanhol do livro...

Chegámos aos 200 posts. Tenho de ver se abrando, que ainda ganho bloguite aguda.

 

Já agora, há um mês andávamos assim, a falar de relações carnais...

"Andei a ler o livro que recomendaste, o do Vonnegut. É por livros destes que não gosto de literatura: caraças, o mundo é terrível, vai tudo de mau a pior, e os argumentos que usa para chegar a essas conclusões não só são falaciosos, como são envolvidos numa nuvem de intensidade emocional e manipulação 'artística' que deixa os leitores abertos a aceitar um 'conhecimento' que é tão falso como a magia medieval. O senhor Vonnegut, por exemplo, pega na crueldade medieval como prova do terrível que são os humanos. Mas esquece-se de quanto evoluímos até aqui e a que violência e crueldade diminuíram muito. Claro que tu e os teus amigos da literatura devem dizer logo: 'mas será que evoluímos assim tanto? Não estaremos sujeitos a outras violências?' Não, pá! Estamos sujeitos a outras violências, mas bem menos violentas do que rebentar com pessoas usando cavalos. E podes encontrar exemplos de práticas dessas, que eu mostro-te logo a seguir todos os dados reais que comprovam a diminuição da violência. Podes falar das guerras e dos drones, mas digo-te que, à proporção da população actual, o impacto é muito menor do que a crueldade medieval. Mas vocês, pá, gostam muito do caso particular, da história exemplar, e usam sempre para chegar às mesmas conclusões: que a humanidade não presta, que a literatura ainda é o último reduto dos homens decentes, e mesmo essa está sob ataque. Se os números reais vos contradisseram, argumentam logo que o mundo de hoje liga demasiado a números. Ora bolas, se a realidade não vos servir hão-de dizer que o mundo de hoje é demasiado real, será? O Vonnegut, por exemplo, na tal obra cujo nome nem vou dizer, basicamente chega à conclusão que a humanidade não presta porque já não gosta de ler contos (os dele, presumo) como antigamente. Please..."

 

J.D.

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publicado às 16:26

Se as estantes nos revelam ou nos deixam a alma um bocado nua, como disse num post desta manhã, o que farão as margens escritas dos livros?

 

Como acho que já vos contei há alguns dias, sou muito avesso a escrever nas margens. 

 

Mas, por vezes, lá deixo a mania de lado e desato a rabiscar. É libertador. 

 

Uma vez, caí no erro de emprestar um livro com essas marginalia muito minhas, cheio de exclamações, de dúvidas, de indecisões, de interpretações.

 

O amigo a quem emprestei, quando devolveu, disse-me que achou as notas terríveis, completamente erradas, sem ponta por onde pegar. O livro era muito bom, a minha leitura é que não prestava.

 

Fiquei pasmado: primeiro, pelo desplante dele em ler assim as anotações. Depois, pela forma como o mesmo livro é lido de forma tão diferente por duas pessoas.

 

Mas é assim a vida: somos todos leitores uns dos outros e raramente acertamos nas anotações que fazemos.

 

Falo de J. Rentes de Carvalho e começo a receber visitas internéticas da Holanda.

 

São só dois ou três gatos pingados que chegam aqui vindos do google.nl, mas tendo em conta que este é um blog recente e muito obscuro perdido aqui para um canto da blogoesfera portuguesa, isto só pode querer dizer que J. Rentes de Carvalho é mesmo muito procurado lá por aqueles lados, tanto que há holandeses que passam por páginas e páginas de resultados do Google até chegarem aqui a este canto. 

 

Incrível!

 

publicado às 11:16

Já pensaram bem que as vossas estantes são uma grande mostra de quem vocês são? Não há que enganar: os livros que compramos revelam muito do que somos.

 

Há até quem faça julgamentos tão sumários que uma biblioteca variada, bem mantida, muito lida não pesa nada em comparação a um livro errado numa das estantes. Há pessoas que avaliam os outros assim: e não é só com os livros… (Isto faz-me lembrar um conto do Eça. Alguém quer adivinhar qual é?)

Ora, na realidade, se quisermos fazer uma radiografia à alma leitora duma pessoa, tínhamos de fazer uma análise mais profunda: que livros comprámos e lemos? De que livros gostámos? Quais são prendas de outras pessoas que não nos conhecem assim tão bem? Que livros lemos e gostámos há alguns anos, mas agora já não são bem os nossos livros? E por aí fora… 

As pessoas são oceanos com relevo muito complicado, e quem olha só para a superfície fica a ver navios. 

Mas poucos resistem a essa tentação de olhar para os livros dos outros e tentar adivinhar a pessoa que ali se esconde...

 

Isto de discutir as praxes é giro, e tal, mas se formos contar o número de posts e comentários que o tema já provocou por essa blogoesfera fora, e se compararmos esse número com os posts e comentários provocados por qualquer outro assunto (até a morte de Eusénio!), não teremos de concluir que estamos a violar flagrantemente o sagrado princípio constitucional da proporcionalidade? Não será altura de o Tribunal Constitucional pôr mão nisto?

publicado às 00:51


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