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Os portugueses, esses bichos estranhos de que sou exemplar mais ou menos típico, têm um talento (entre muitos outros): conseguem pegar na notícia mais inócua e transformá-la em coisa má. Como se já não bastasse tudo o que, de facto, corre mal, temos de achar mau mesmo o que é bom — ou simplesmente indiferente.

 

Por exemplo, aquela história de a CNN ter dito que Lisboa é a cidade mais cool da Europa. Nada contra refrear os ânimos. A coisa não é assim tão importante. Amanhã estarão a dizer o mesmo de Lille, Liubliana e Luxemburgo, e só para ficarmos por cidades que começam pela mesma letra. Mas refrear os ânimos é uma coisa. Outra é dizer que a jornalista americana disse isso porque os americanos são um povo ignorante em relação ao resto do mundo e que isto não é nada bom para os lisboetas (daqueles verdadeiros).

 

Sei que o turismo pode irritar. Mas faz mais bem que mal, amigos. E um português virar-se contra o turismo, com todos os defeitos que tem, é algo semelhante a um português virar-se contra o vinho do Porto, porque pode embebedar.

 

Depois, eu, turista, me confesso: gosto de viajar e conhecer cidades novas, e por isso não posso achar isso muito bom, mas só nas cidades dos outros. E, já agora, gosto muito que Lisboa seja uma cidade desejada e cool — ou whatever.

 

Se gosto disso, gosto ainda mais da cidade das pessoas, daquelas verdadeiras, que moram aqui. Mas uma coisa não impede a outra, muito antes pelo contrário. 

 

(E também não gosto do estado em que ficam as ruas depois de certas noites. Mas isso não é nada cool.)

... falava-se do Wilt por aqui.

publicado às 18:07

Hoje reparei que a janela do meu quarto dá para uma avenida com nome de livro (não vos vou dizer qual é) e a janela do sítio onde trabalho dá para uma rua também com um nome que é o título dum livro.

 

How neat is that?

 

Entretanto, no nosso curto passeio domingueiro pós-almoço, tirei umas fotos a umas placas de rua também muito literárias:

 

 

 

Bom domingo e boas leituras...

 

 

 

Ora, eu não devia... Mas lá acabei por ir parar de novo à Fnac, quando ainda na quinta lá estive.

Fomos ter com uma amiga nossa, que andava com fome de livraria, ao Colombo. 

Assim, lá fomos para a livraria cujo nome não vou repetir. Entre livros e livros, fomos passeando, entre uma enchente de sábado à noite — e o meu filho no carrinho, a olhar para tudo e a tentar perceber onde tinha ido a mãe — que saiu por uns minutos para comprar uma prenda para para o meu filho dar a uma amiga que faz anos hoje (começa cedo a vida social dos putos de hoje em dia, ou é impressão minha?).

Mas, enfim, o miúdo já está habituado a esta história de livros e livros, e por isso ficou calmo.

Entretanto, como acontece quase sempre nas livrarias, lá fomos deambulando e de repente estava sozinho com com o meu filho, a olhar para livros, de cabeça na diagonal, primeiro para um lado, depois para outro.

Como já tinha levado quatro livritos ainda na quinta e queria ver se diminuía a lista de livros por ler em cima da mesa-de-cabeceira, pensei no seguinte: vou mas é olhar para os contos, que sempre dá para ler qualquer coisa com princípio meio e fim em pouco tempo.

E assim peguei na Alice Munro e nos lindos braços da Júlia da Farmácia, dum autor que eu já devia ter lido há muito mais tempo… Ainda a deambular um pouco mais e acabei com um livro estranho, sobre a forma como as redes e tudo isso estão a tornar o mundo cada vez mais perfeito (Future Perfect). Coisa muito politicamente correcta, como estão a ver.

Ora, entretanto, já com três livros na mão, cada um deles não propriamente barato, comecei a procurar a minha amiga, que andava perdida por secções mais interessantes do que as minhas, quando o Simão (posso dizer o nome, não posso?) desata num berreiro desgraçado, porque já está farto de estar ali sem fazer nada.

Chucha? Berreiro.

Abanar o carro? Berreiro.

Telemóvel? Berreiro. (E bendita alcatifa dos livreiros franceses, que me salvou o dito quando o Simão decidiu atirá-lo ao chão, em fúria.)

Pois, tinha de ser: dei-lhe os lindos braços da Júlia e ele acalmou-se, desatou a rir e a folhear o livro, entretido com aquelas letras todas. É isso, ou já sabe ler e eu não percebi. Tem 15 meses, às vezes há fenómenos desses.

Adiante. Entretanto a minha mulher chegou, ele estava em paz a folhear o livro (agora tinha mesmo de o levar, pois os senhores funcionários da livraria-cujo-nome-não-vou-repetir não gostarão muito de ver os livros que vendem a servir de brinquedo, atirados ao chão de vez em quando, dobrados outras vezes). 

Enfim, os livros são o que são, mas também custam o que custam, e tive de escolher um. É melhor assim. Resultado: vai mesmo o J. Rentes de Carvalho, que os outros ficam para depois, com ou sem Nobel, com ou sem teorias optimistas.

Foi desculpa para dar mais um volta, para devolver os ditos cujos ao sítio donde os tirei, porque não basta levar um bebé para a livraria, não quero ser acusado de desarrumar as prateleiras…

E assim tenho esta preciosidade entre mãos, e estou a ver pela pequena amostra do que li ainda há pouco, logo depois de acordar, que este vai ser autor para muitas e boas horas de leitura:

 

(A imagem fui buscar aqui, a um blog que tem uma especial devoção por este autor.)

 

O sabor do domingo é uma coisa estranha: essa sabor a viagens pachorrentas por caminhos já conhecidos, a tal volta dos tristes, que é triste — dizem muitos — porque vem aí a segunda-feira, mas parece que há outra coisa qualquer no ar. Talvez seja o não trabalhar, ou o querer que os dias fossem todos assim, um espaço em branco que podemos preencher com o que quisermos. Ora, como não são, acabamos por deixar o dia escorrer-nos nas mãos, porque não temos força para aproveitar esse único dia sem mais nada.

 

Há quem faça deste princípio um estilo de vida e deite fora os dias todos, porque isto não dura para sempre. 

 

Pois não. Temos pena.

 

E, raios, amanhã já é segunda-feira.

 

publicado às 08:00

| Azul escocês

02.02.14

 

Samuel Peploe, Ben More seen from Iona, 1927

publicado às 01:12


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