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Há um mês (enfim, não exactamente há um mês, porque Fevereiro não é mês que se apresente, tão curtinho que é; nos bares de meses, as senhoras devem olhar para Fevereiro e dizer: "coitado, é tão pequeno") — dizia eu, há um mês mostrava-vos os resultados do primeiro mês de actividade a sério deste blog. Entretanto, o carrossel continuou...
Ora, quais foram os cinco posts mais lidos este mês? Aqui estão, com o número de visualizações à frente:
Pois, ali o post que ficou em primeiro atropelou todos os outros. A coisa foi de tal ordem que foi dos posts mais comentados esta semana no Sapo. Fica sempre o sabor agridoce de quando alguém se vê no meio da fúria comentadeira, contra e a favor de tudo, mesmo do que não estava no post, mas vale a pena.
Fico a saber ainda que o pessoal dos blogs parece gostar de textos sobre línguas. Ou pelo menos o pessoal do Sapo, tendo em conta os dois destaque na página principal que alçaram o português do Brasil e o mirandês ao pódio deste blog, com o bronze a ser atribuído ao pequeno conto (?) sobre o Acordo Ortográfico.
O efeito do post que ficou com o ouro é visível neste gráfico dos últimos 30 dias...
Fico contente com os leitores que por aqui aparecem, não por mim, mas pelos livros, que merecem muitos e mais leitores.
Venha daí Março, que sempre é um rapagão mais sólido. E começa a Primavera...
E bom Carnaval, já agora!
Adenda: Como este post responde antecipadamente ao inspira-me de hoje, tomei a liberdade de colocar a tag inspira-me neste post...
Com um filho que faz amanhã 16 meses, claro que o meu interesse por saber o que dizem e pensam os outros pais é grande... Não posso deixar de recomendar o Pais de Quatro, enquanto eles e os seus rebentos se passeiam por Paris.
O capítulo do livro de que vos falei no post anterior sobre os palavrões já foi publicado em separado.
Como explica o autor, os palavrões ficam inscritos numa parte mais reptiliana do nosso cérebro — e são ditas como reflexo, e não como forma de expressão do cérebro mais desenvolvido... Tanto assim é que, por vezes, começamos a dizer a palavra e, entrentanto, o cérebro mais elevado toma as rédeas da situação e transforma a palavra noutra qualquer, mais aceitável. Por isso dizimos "fo...go" e "cara...ças", por exemplo...
Mais quais são as tais sete palavras que não se podem dizer na televisão americana?
Bem, isto tem a ver com os E.U.A., podia colocá-las aqui pois os palavrões em línguas estrangeiras nunca ofendem tanto como na nossa língua (não sei se já repararam).
Mas fica para amanhã. Afinal, a vida são dois dias e o carnaval são três e hoje tenho mais que fazer.
Já agora, vou explicar-vos como conheci Steven Pinker, de quem vos falei há bocado. Não no sentido de já ter falado com ele, mas no sentido de ter encontrado o primeiro livro dele.
Ora bem, tudo começou quando o meu irmão foi convidado para uma entrevista de emprego em Inglaterra. Isto em 2008…
Antes disso, tinha ido à Inglaterra uma única vez, no ano anterior, na lua-de-mel. Antes que ponham as mãos na cabeça (“mas quem é que vai de lua de mel para a Inglaterra, por amor dos santinhos e da minha rica praia?”), digo-vos já que antes disso fomos de lua-de-mel para outro lado, mais quentinho. Mas disso falo depois. Antes disso, Inglaterra...
Portanto, só lá tinha ido uma vez, o que era estranho, porque sempre fora um apaixonado pelo país (ou países, aliás). Aliás, estudei a cultura e a língua na faculdade — mas ir lá, mesmo, só aos 27 anos (se descontarmos duas idas a Gibraltar, que é uma espécie de Reino Unido concentrado, empacotado e enviado para o sul de Espanha).
Nesse tal ano de 2008 o meu irmão é convidado a ir a uma entrevista numa grande empresa e fica contentíssimo — e algo nervoso. Acabei por ir com ele, não só para ele não ir sozinho, como para servir de treino para uma entrevista em inglês.
A entrevista era em Cambridge. Lá fomos, de avião, campos ingleses a aparecer lá em baixo, aterragem magnífica, comboios para a frente e para trás, telefonemas para a minha mulher, que tinha ficado com o trabalho entre mãos (e, confesso, não estávamos — e não estamos — habituados a estar longe um do outro)——
Espera lá. Eu já vos falei disto. Aqui. Vão lá ler e depois voltem, se faz favor.
Bem, estávamos em Cambridge. A entrevista era à tarde. O meu irmão lá foi, às três da tarde e eu fiquei a vaguear pelas ruas.
Ora bem, o que acontece por volta das três e meia duma tarde de Novembro, em Inglaterra?
Pois, fica de noite.
Tantos anos a estudar o país, e ninguém me tinha dito que ficava de noite às três da tarde! Isso teria explicado tanta coisa…
Bem, lá vaguei por essa noite profunda, apaixonado pela cidade, que se não conhecem deviam conhecer.
Não conhecia quase nada e hoje, que já conheço bastante melhor, depois de várias oportunidades para vaguear, conduzir, correr e andar por lá, sei que nessa tarde percorri aquela vila toda — e quando digo vila, estou a ser irónico, porque a população é comparável à do Porto.
A certa altura vi-me num relvado imenso, à noite, com bicicletas a passar, os edifícios neo-góticos ao fundo, o ar inglês de tudo aquilo a fazer-me crer num livro ou num filme ou na minha imaginação de anos antes. Lembro-me de ter pensado no Clube dos Poetas Mortos — e, sim, eu sei que o filme se passava nos Estados Unidos, mas por algum motivo a região se chama Nova Inglaterra.
Foi uma tarde magnífica, de delicioso frio e chuva bem ingleses. Pois, chuva (isto ainda antes da neve que contei no outro post). Começa a chover. E eu sem guarda-chuva. Na zona da Quay, a olhar para os barcos. Estudantes a passar, em animadas conversas. Eu maravilhado — mas à chuva!
Onde posso abrigar-me?
Obviamente que numa livraria, ou não fosse eu o viciado que sou.
Na Waterstone’s, que para um inglês parecerá tão massificada e pouco tradicional como a nós nos parecem as Fnacs, mas para mim era uma livraria inglesa deliciosa, quentinha e cheia de livros.
Entrei e fiquei maravilhado. Nem vou conseguir explicar bem porquê, mas sair duma rua onde passavam guarda-chuvas e bicicletas e estudantes a caminho dos pubs, tudo encharcado de chuva, para entrar numa luminosa livraria com livros em inglês ficou-me marcado como um especial momento de felicidade.
Ora, o primeiro livro que encontrei e que quis levar de imediato foi este:
Peguei nele, vaguei durante muito tempo, sem pressas nem ninguém à minha espera, pelos quatro ou cinco andares daquele monstro de livraria, fui beber um chocolate quente ao Costa Caffé do último andar...
...e acabei a comprar o livro, numa dessas interacções sem grandes palavras, em que o rapaz da caixa, num inglês muito sumido, me pergunta se quero o cartão de fidelização da Waterstone’s e eu por pouco não digo que sim, só para sentir que iria ali muito mais vezes.
E a verdade é que fui, mas isso são outras histórias.
Lembro-me de estar a ler o livro no resto da viagem, de estar a ler no avião para cá, de estar a ler em casa e de estar a ler em casa dos meus sogros. Não parei até acabar. E o livro é divertidíssimo, principalmente a parte em que Steven Pinker explica porque existem palavrões e quais os mecanismos cerebrais que estão por trás dessas palavras malandras.
Já agora, querem saber se o meu irmão ficou por lá? Hei-de vos contar, mas é fácil de adivinhar, se vos disser que hão-de aparecer mais posts sobre Inglaterra, muito em breve.
(Continua, portanto...)
Fontes das fotos:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Magdalene_College_Cambridge_night.JPG
http://www.jesus.cam.ac.uk/about-jesus-college/college-images/
http://www.librarything.com/venue/25853/Waterstones-Cambridge
Bem, já que andamos numa de línguas por este blog, proponho-vos este livro de Steven Pinker. Para quem tem das línguas e da linguagem humana uma visão convencional, este livro dá uma volta à cabeça parecida com a volta à cabeça de quem achava, há uns séculos, que a Terra era o centro do universo e, depois, vai-se a ver e descobre que não é bem assim.
A linguística — disciplina de que gosto especialmente, para horror de muitos meus amigos, que acham que mais valia dedicar-me às drogas duras — é encarada por muitos como uma heresia no espaço sagrado das Letras e muitos intelectuais acham-na tão perigosa como essa coisa da ciência no tempo da Inquisição. Mas vemos isso depois.
Pinker mostra como a linguística é uma ciência muito interessante. Ele próprio explica o seu estilo de escrita:
O que o livro faz é mostrar como muitas das ideias que as pessoas com educação avançada têm sobre a linguagem humana estão, simplesmente, erradas:
(...)
Já agora, se quiserem, tenham uma "pequena" aula sobre todos estes assuntos. Se não tiverem tempo, ficam pelo menos a saber qual o aspecto de Steven Pinker:
[Fui buscar a foto ao mais apetitoso blog destas bandas: o blog do casal mistério. Espero que o casal não se importe!]
Há dias e dias e ontem foi um dia um pouco para o complicado — e o que me melhor para animar as hostes do que ir passar os dedos pelos livros?
A vantagem de viver perto duma livraria como a Fnac é que podemos dar lá um saltinho para ver as novidades.
Fiquei a saber que a Fnac do Vasco da Gama tem mais livros do Julian Barnes do que é costume. Por exemplo, este, que li no primeiro ano da faculdade:
(Não é esta a edição que está na Fnac, mas foi esta que li na altura.)
Também lá estava este, que li em versão electrónica aí há uns dois anos...
só porque levei este outro para férias (e acabei-o nessas mesmas férias, e não pude deixar de ler de imediato a sequela):
Pronto, ontem, nessa ida à Fnac, acabei por comprar (ah, vício!) este outro:
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