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(Sim, eu sei, a pergunta é um bocado absurda...)

Ah, pois é...

Uma discussão foi tanto mais proveitosa quanto mais os participantes puderam aprender com ela. Significa isto que, quanto mais interessantes e difíceis tenham sido as questões levantadas, tanto mais eles foram induzidos a pensar em respostas novas, tanto mais terão sido abalados nas suas opiniões, pois foram levados a ver essas questões de forma diferente após a discussão – em resumo, os seus horizontes intelectuais alargaram-se. […]

 

Não devemos esperar que qualquer discussão crítica sobre um assunto sério, qualquer «confronto», alcance logo resultados decisivos. A verdade é difícil de alcançar. […]

 

As discussões sérias e críticas são sempre difíceis. […] Muitos participantes numa discussão racional, ou seja, crítica, consideram particularmente difícil ter de desaprender aquilo que os seus instintos lhe impõem (e aquilo que lhes é ensinado por todas as sociedades que debatem): ou seja, vencer. Pois o que têm de aprender é que uma vitória num debate não significa nada, ao passo que a mínima clarificação de um problema que se tenha – mesmo a mais pequena contribuição para uma compreensão mais clara da sua própria posição ou da de um opositor – constitui um grande sucesso. Uma discussão que se vence, mas que não ajuda na alteração ou na clarificação da vossa mente, nem que seja só um pouco, deverá ser considerada uma perda completa. […]

 

A discussão racional […] é modesta nas expectativas: é suficiente, mais do que suficiente, se sentirmos que conseguimos ver as coisas sob uma nova luz ou que até nos aproximámos um pouco mais da verdade.

 

K. Popper, O Mito do Contexto – Em Defesa da Ciência e da Racionalidade

Ai, o prazer que era folhear dicionários...

 

Sim, exacto. Eu sei que, dito assim, a coisa parece absurda. 

 

Mas era um prazer aprender palavras novas nas outras línguas que tinha na escola — e aprendê-las com os dedos.

 

 

 

publicado às 19:45

Estamos muito bem a ler, quando alguém começa a falar connosco como se não estivéssemos a fazer nada...

publicado às 16:03

Ora, vamos então ver que livros ganhei neste sortido que comprei, por tuta e meia, há muitos muitos anos, na papelaria dos meus avós:

 

A Morte de Carlos Gardel, de António Lobo Antunes. Lembro-me de ter registado o gnomo e o Belenenses, nesses primeiros parágrafos que começava a ler e por ali ficava. Parecia-me uma linguagem um pouco misteriosa, mas já me vibrava ali Lisboa, uma cidade onde queria viver, e uma realidade muito nítida. Sempre achei estranho, por outro lado, aquela forma de começar os parágrafos, a meio da página. Na altura lembro-me de julgar que aquilo devia ser erro de impressão e por isso a D. Quixote quisera despachar aqueles exemplares... Depois percebi que, com António Lobo Antunes, o que parece erro de impressão, nem sempre é... Acabou por ser o primeiro livro que li do autor e ainda hoje é o meu preferido (talvez por isso mesmo).

 

Contos, de Eça de Queirós. O livrinho preto (um pouco frágil, já que se partiu todo pouco tempo depois) foi a minha introdução às maravilhas queirosianas. Foi uma boa introdução, porque Luiz Fagundes Duarte (que viria a ser, alguns anos depois, meu professor!) criou ali uma edição mais completa e bem pensada que os habituais Contos de Eça de Queirós. Ali começou um certo gosto por olhar para os textos de forma mais crítica. Também desse livro me vem o gosto por ler as introduções em que os organizadores das edições contam algumas aventuras que poucos acham interessantes, mas que eu adoro.

 

Revista Inglesa, de Jaime Batalha Reis. Um livro na área muito específica onde acabei por ir parar, durante uns anos: os estudos anglo-portugueses. Mal sabia eu...

 

A Lição de Alemão, de Siegfried Lenz. Este tentei ler ao longo dos anos, mas nunca consegui chegar ao fim. Se calhar, aos 33 anos, está na altura de tentar outra vez.

 

Uma Mulher Interroga a Europa, de Maria Antonietta Macciochi. Neste livro, que nunca teria comprado se não viesse no sortido, li entrevistas com Felipe González, João Paulo II, e muitas outras personages europeias. Comecei a gostar dos ensaios políticos e históricos e dei, mesmo, uma volta pela Europa das ideias.

 

Tenho a impressão que o pacote tinha mais um livro, mas não consigo lembrar-me de qual seria.

 

Hoje, andam espalhados pelas estantes, e juntei-os só para a fotografia. Foi como que um reencontro de velhos amigos, que ali ficaram a conversar durantes uns momentos e, depois, lá voltaram às suas vidinhas, separados por muitos outros livros. 

 

publicado às 16:00

 

 

Há muitos, muitos anos, não me lembro bem quantos, encontrei na tal papelaria dos meus avós maternos (de que já vos falei — e hei-de voltar a falar, até por razões bem menos alegres do que os livros) um pacote de livros a um preço espectacular, que me parece ter sido uma forma de a D. Quixote dessa altura (muito muito longe de ser parte da tão badalada Leya) despachar alguns livros que tinha para lá encafuados nos armazéns.

 

Os livros estavam um pouco acima dos interesses da minha idade (devia ter uns 14 anos), mas foram uma das primeiras pedras da minha biblioteca, que hoje está já relativamente composta, para horror das estantes da sala...

 

Este pacote tinha um verdadeiro sortido de livros. A lógica da selecção é a chamada lógica inexistente. Parece que alguém pegou em si e andou a pescar livros num amontoado de títulos avulsos. E isso, estranhamente, deixou-me encantado. É como receber um pacote de gomas diferentes umas das outras: prazeres todos diferentes, mas prazeres nonetheless.

 

Num post já a seguir, irei falar um pouco de cada um destes livros...

publicado às 14:15

 

Stuart   Bolas, já não bastava tudo o resto, ainda tínhamos de ser chamados a participar nesta coisa dum blog? 

 

Oliver   Já agora, escreve-se blogue, não blog, mas tudo bem. Já percebi que a culpa é aqui do autor deste blogue!...

 

Stuart   Já vi que és um pedantinho de primeira tanto em inglês como em português.

 

Oliver   Ó, meu caro, sempre às suas ordens, em qualquer língua. Mas, já agora, fazes ideia do que estamos os dois aqui a fazer?

 

Stuart   Nem por isso...

 

Oliver   Este é um blog sobre livros (não sei se estás recordado desses objectos)...

 

Stuart   Não sejas estúpido.

 

Oliver   E o autor, cujo nome não me quero lembrar, convidou-nos para este post para apresentarmos o livro que está ali em cima, porque, enfim, somos as personagens principais.

 

Stuart   Falta ela...

 

Oliver   Sim, falta, mas depois do que lhe fizeste na sequela (Love, etc.), achas que ela queria vir a Portugal?

 

Stuart   Mas que fiz eu?

 

Oliver   O que fizeste tu?... Por amor de Deus, meu querido, o menino ou é parvo ou faz-se.

 

Stuart   Bem, mas vamos ficar aqui o dia todo a falar?

 

Oliver   Não, o dito cujo (o autor) encarregou-me de explicar o livro. E o que posso dizer é que o nosso autorizinho, o Julinho Barnes, é um génio.

 

Stuart   Por acaso não gosto muito dele. Um bocado afrancesado.

 

Oliver   E tu que gostasses. Não te esqueças que ele me fez à sua imagem e semelhança. Não é suposto gostares dele.

 

Stuart   "É suposto" é um anglicismo, é toino.

 

Oliver   Olha, olha... Mas nós até somos ingleses, meu caro.

 

Stuart   Mas, continua. Tu e os teu deus Barnes, que te criou à imagem e semelhança.

 

Oliver   Sim, pois. Bem, então o autor deste blogue (blogue! blogue!) pede-me para explicar por que razão este livro é simplesmente genial. E não consigo. Porque é impossível. Só lendo. E como não consigo ler, porque estou lá enfiado dentro, o que posso fazer é aconselhar os nossos caros amigos portugueses a lerem. No fundo, o livro é um diálogo entre as personagens e o leitor. É aparentemente simples, mas de repente o leitor já não está onde pensava que estava.

 

Stuart   É isso que tens para dizer?

 

Oliver   Sim.

 

Stuart   De facto, vocês, intelectuais, falam muito, mas dizer está quieto.

 

Oliver   Mas não concordas?

 

Stuart   Com o quê? 

 

Oliver   Com o facto de ser um livro que todos devem ler?

 

Stuart   Bem, gosto que o leiam, porque gosto que me leiam. Mas é tudo. Agora vamos lá embora.

 

Oliver   Ó homem, descontrai e vamos lá dar uma volta por Lisboa. Ouviste dizer que a CNN considerou a cidade a mais cool da Europa?

 

Stuart   A sério?

 

Oliver   Sim, sim. Embora, enfim, sendo uma cidade cool, não é muito o teu estilo...

 

Stuart   Pronto, tinha de vir...

publicado às 11:50

 

A Caderneta de Cromos... Este é um dos já muitos livros de Nuno Markl (será que podemos dizer do Nuno Markl?). E esta foto está aqui só como desculpa para falar do autor...

A minha geração (seja lá o que isso for) ouve o Nuno Markl desde que nos conhecemos como gente crescida (aí por volta de 1998). Para nós, ele é "o Markl" e este apelido esquisito tornou-se uma palavra comum, de tal forma que já nem parece esquisito.

Ele é o geek simpático que, com uma auto-ironia desarmante, nos põe a rir, a todos, ex-gozados e ex-gozadores. É uma voz que não assusta, não se arroga deter a verdade do seu lado, gosta de música (como nós), gosta de filmes (como nós), tem sucesso (como nós gostávamos de ter) e não fica arrogante com o sucesso que tem (como nós gostávamos de conseguir não ficar). 

Se é uma personagem, se ele é mesmo assim, não sei e não quero saber. Ele é o nosso Markl, a figura mais representativa da nossa geração, mesmo que seja um pouco mais velho do que nós. É, no fundo, o nosso irmão mais velho, que percebe de muita coisa, e partilha connosco os gostos e as manias, mas com aquele ar de quem sabe que tudo é meio a brincar e que a vida a sério é complicada, mas também pode ser divertida.

O facto de os nossos pais e os nossos avós não compreenderem completamente a nossa obsessão com este "cromo" só prova que é mesmo uma questão geracional, como há poucas. 

Não sei bem o que dizer mais quanto a isto, mas sei que somos, um pouco, a Geração Markl, e posso dizer que há figuras piores para serem o nome duma geração.

 

Este post sai à hora do Homem Que Mordeu o Cão, em honra dessa histórica rubrica radiofónica. 

Este blog é novo, novíssimo. A sua história começou no início deste mês, ou seja, no início deste ano. Mas, pelos vistos, um mês é uma eternidade nesta história de bloguices e, tendo em conta que, há um mês, ninguém lia este blog, talvez seja engraçado recordar, nos próximos dias, onde andávamos quando este ano começou (até parece que estamos em Dezembro!...).

 

Mas, enfim, antes disso, convém vermos a pré-história do blog, porque ele, na realidade, começou em Agosto (ui, quando foi isso?...). 

 

¶ 1, 2, 3... (21 de Agosto) — era uma expécie de arranque dum blog que, nessa altura, se chamava Pilha de Livros. Depois, mudou de nome, que eu tenho muitas manias...

 

¶ Para a Sábado, a ciência não sabe o que anda a fazer (23 de Agosto) — um post irritado com uma reportagem que a Sábado publicou. E nem me viram a cara quando a Visão publicou uma reportagem sobre previsões económicas baseadas em astrologia...

 

¶ Não é fácil um blogue assim (23 de Agosto) — tentava encontrar um pé seguro nesta coisa dos blogs...

 

¶ Qual a pergunta mais irritante que se pode fazer a um leitor? (23 de Agosto) — mais tarde, estas perguntas teriam número.

 

¶ Borges num centro comercial (24 de Agosto) — fui buscar este texto a um blog anterior. Centros comerciais e livros. Há coisas que parece que não combinam mas, depois, vai-se a ver e até combinam.

 

Agosto passou. 

 

Setembro... Houve umas eleições.

 

Outubro... O meu filho celebrou o primeiro aniversário.

 

Novembro...

 

E em Dezembro, volto à carga, devagarinho, como quem não quer a coisa, com um post um bocado atrevido, no dia 3 de Dezembro:

 

¶ "Francisco Solano López pôs o pénis dentro de Eliza Lynch num belo dia de Primavera..."

 

E depois, dois pequeníssimos posts: ¶ Então e qual é o autor? e ¶ Círculo vicioso

 

No dia 4, tive um dos meus ataques científicos: ¶ Literatura e ciência e ainda ¶ Pensamento mágico vs. pensamento científico

 

Ainda nesse dia, publiquei aquilo que pode ser considerado um pequeno conto, que mereceu o primeiro destaque do Sapo, o que muito me encheu de alegria: ¶ Vocês sabem o que é uma falência?

 

No dia seguinte, publiquei uma participação no desafio de Natal do blogue, que me fez ganhar um livrinho (ai, alegria!): ¶ O melhor livro de 2013 é uma Galdéria. Para compor o dia, mais uma espécie de conto: ¶ O poder dum blog.

 

Dia 11, um pequeno comentário à força desvanecida do blog: ¶ Blogs blogs e mais blogs

 

Dia 24, desejei ¶ Uma feliz consoada, amigos!

 

Dia de Natal... Fiz uma experiência blogueira...

 

E, por fim, o último post da pré-história deste blog: ¶ How I Met Your Mother

 

No dia seguinte, último dia do ano, não publiquei nada, porque, enfim, era o dia de fim de ano e tinha muita coisa a tratar.

 

No dia 1, arrancou o ano e arrancou também, em força, este blog.

 

Espero que gostem! Para mim, que por aqui escrevo, é um prazer — mais do que perder tempo, ganho alguma energia para os dias, algum descanso para a cabeça, que nunca pára...

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Le_d%C3%A9jeuner_sur_l'herbe

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publicado às 00:41

Oiço pessoas inteligentes e desempoeiradas a falar de astral limpeza de energias, e coisas dessas, e pergunto-me: será que acreditam mesmo nisto?

 

A cura é, claro, uns bons livros...

 

Por exemplo, este:

 

 

publicado às 00:01


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