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Que blogs sobre livros recomendam?

... que não livros. 

 

Espero que me perdoem esta desfaçatez!

 

Mas andei a comentar em poiso alheio (um poiso que me parece muito bom, já agora).

 

Este problema do falhanço da massificação do ensino é complicado... Não me parece que tenha falhado (pelo menos se entendermos "falhar" como "mais valia não ter acontecido") — e não me parece por razões parecidas com aquelas que explico neste outro post sobre a razão porque acho que se lê mais hoje em dia, apesar do que se diz.

 

Sim, em média, os jovens que estão hoje na escola têm piores notas e são mais mal informados do que os jovens que estavam na escola há 50 anos. Porquê? Principalmente porque havia uma pré-selecção. A motivação para o estudo de quem ia para a escola era outra, porque o ambiente familiar de famílias muito seleccionadas de há 50 anos era melhor do que o ambiente das famílias portuguesas todas de hoje em dia.

 

Mas, nem o número de famílias com "bom ambiente" diminuiu (antes pelo contrário), nem o nível educacional dos portugueses em geral foi por água abaixo (muito pelo contrário). Se fizermos uma experiência mental parecida com a do meu outro post, veremos que, em 100 jovens portugueses escolhidos aleatoriamente (entre quem vai e quem não vai à escola), estamos muito melhor agora do que há 50 anos.

 

Ou seja, os jovens que estão hoje na escola têm formação pior do que os jovens que estavam na escola há 50 anos, mas os jovens em geral de hoje em dia têm uma formação incomparavelmente melhor do que os jovens em geral de há 50 anos

 

Sei que é desesperante perceber que o bom ensino ministrado a umas quantas famílias (principalmente nas cidades) não pode ser espalhado por toda a população sem perder qualidade. Mas mesmo assim estamos melhor do que há 50 anos...

Que livros infantis gostavam de ler?

 

Este livro que tenho nas minhas estantes há uns bons 22 anos não é meu...

 

 

 

Era duma professora de inglês que tive, cujo nome não me lembro, mas que era apaixonada pela ciência. Falávamos muito, e pouco de inglês (para isso serviam as aulas). Eram conversas muito estranhas, em que falávamos de matemática, física e por aí fora. Ganhei, por essa altura, um gosto muito forte pela ciência — e tudo por causa duma professora de inglês (o professor de Ciências da Natureza também ajudou e ainda vos hei-de contar onde o encontrei muito tempo depois). 

 

Tenho pena de ter ficado com o livro, que não é meu. Mas ao mesmo tempo fico contente por ter esta recordação dessa professora que nunca mais esqueci, apesar de não me lembrar do nome.

 

(Outra das paixões da professora de inglês era o alemão, mas nisso não me conseguiu convencer.)

Que livro estão a ler neste momento?

 

Se fosse dado a comparações mais dramáticas, diria que este foi um confronto digno do clássico Onda Choc vs. Ministars. Mas, não. As coisas pelo mundo da literatura infanto-juvenil são mais moderadas e mais civilizadas.

 

O certo é que havia diferenças — mas eu lia isto tudo, fosse lá como fosse.

 

Uma Aventura eram livros mais leves, um pouco estranhos na forma como aqueles miúdos nunca tinham namoradas, amores, desamores ou outros problemas desses — que, como todos sabemos, não são nada típicos das idades. Estou a ser injusto: os livros não podem ser tudo ao mesmo tempo e estes eram livros de aventura — como o título da colecção não se cansa de dizer, já vai para mais de 50 livros... 

 

E acho que houve um olhar mais lascivo da Teresa para um rapazinho qualquer n'Uma Aventura em Paris. Acho.

 

(Depois, a acusação típica: como é que aqueles miúdos têm tantas férias, vão a tantos sítios, acontece-lhes tanta coisa? Se formos literais nas contagens, já devem ter tido umas boas 25 férias de Natal e já deviam ter acabado o doutoramento. Bem, a resposta é: isto são livros de ficção...)

 

Gostei sempre muito de os ler e aprendi muito — viajei a Paris, subi à Torre dos Clérigos, andei pelos moinhos de marés da margem sul, fiz tanta coisa pelas mãos destas gémeas, deste Pedro, deste Chico e deste João. 

 

Ainda por cima, na altura em que comecei a ler estes livros, tinha duas grandes amigas (isto lá pelo ciclo preparatório) que eram gémeas e tinham nomes parecidos com as gémeas dos livros. Depois, tinha na minha turma outro par de gémeas, com outros nomes, mas fisicamente indistinguíveis das gémeas que apareciam na parte de trás dos livros: louras, com o cabelo exactamente assim. E havia as típicas discussões no meio de turmas de adolescentes. Portanto, quanto a enredos de faca e alguidar, tinha a minha turma, com as personagens lá inseridas. Para as aventuras, tinha os livros. E eu era, claro, o Pedro. Aliás, acho que sofria o síndroma "para-Pedro-só-me-falta-o-nome", porque tanto Uma Aventura como o Clube das Chaves tinham Pedros assim a dar para o intelectual. Só me faltava o despacho dos ditos cujos, mas se calhar eu, enquanto personagem, fosse um pouco mais realista como representante dos Pedros deste país. 

 

Muitos anos depois, entrei num elevador duma faculdade de Lisboa e quem tinha à frente? A ministra da Educação. Mas não me lembrei que era a ministra da Educação, porque o que interessa isso quando se é uma das autoras dos livros da nossa infância?

 

 

Já o Clube das Chaves era uma colecção bem mais adulta, se quiserem. E mais real. Os miúdos cresciam. Tinham amores, andavam pelas ruas de Lisboa, zangavam-se, tinham opositores que não eram "maus" (eram o Vasco)... Houve um momento qualquer em que tinha uma verdadeira pancada por aquela trupe. Um dia estava a chegar a Lisboa, vindo do Algarve (e estava a chegar para continuar, porque não vivia em Lisboa) e olhei para a cidade e pensei: "esta é a cidade destes livros" e nesse momento tornou-se, um pouco mais, a minha cidade — que já sabia ser, nessa altura, apesar de ainda não viver por cá. Lembro-me especialmente bem de ver o Pedro a descer uma rua perto do Aqueduto, de mãos dadas com a primeira namorada. Vivia aquilo como se fosse eu.

 

O Clube das Chaves não tem personagens tão conhecidas, se quiserem, mas dá-nos um sabor bem mais nítido do que é a literatura. Nunca mais me esqueci das chaves do avô Cosme...

 

Se um dia as personagens destes livros se encontrassem todos, é provável que as gémeas, o João, o Chico e o Pedro Aventura fossem famosos, mas o Clube das Chaves seríamos nós, anónimos lisboetas que gostam de sonhar com aventuras, mas têm os pés bem assentes na terra.

 

(Ora muito bem, acho que vou começar a ter este hábito de preparar os posts no dia anterior. Sempre fico mais descansado durante o dia, que isto de actualizar um blog tem que se lhe diga.)

 

Hoje, logo de manhãzinha, vou falar-vos dum problema que tenho com os livros... O problema é este: custa-me muito escrever nos livros. Eles são meus, eu sei, mas mesmo quando tenho de os estudar, para escrever (como já escrevi) uma tese, não gosto de escrever seja o que for, de sublinhar, de fazer as famosas marginalia que tanto prazer nos dão ao olharmos para elas muitos anos depois.

 

Mesmo para pôr a cidade e a data onde os comprei (o que faço com alguns livros), só com lápis e muito levemente.

 

Não sei bem donde vem esta minha mania — tento deixar os livros imaculados, não dobrar a lombada, não deixar marcas dos dedos nas páginas. E, no entanto, anos depois, quando olho para os meus livros, gosto de ver as (poucas) marcas dos dedos nas páginas, das lombadas dobradas, dos livros escritos ou sublinhados. 

 

Não (me) percebo.

 

Por outro lado, se por algum motivo começo a sublinhar ou a escrever num livro, nunca mais paro. O livro quase que se destrói nos meus dedos. Por exemplo, a minha Alexandra Alpha, de José Cardoso Pires, está quase desfeita...

 

Sou um bocado esquisito, de facto.

 

 

Marginalia by Cat Sidh, on Flickr

http://en.wikipedia.org/wiki/File:American_Village_1912_Edward_Hopper.jpg

publicado às 00:01


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