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Os meus sobrinhos vêm dormir hoje a minha casa. Têm 5 e 8 anos e são dois rapazes muito animados. O mais velho anda sempre com livros atrás. Já tem um tema preferido: dinossauros. Acho que é típico da geração dele... Seja como for, vê-lo sempre com um livro debaixo do braço derrete-me o coração livresco.
Quando chegou a nossa casa, há uns minutos, a minha cunhada trazia um saco com quatro calhamaços dinossáuricos e a minha mulher, a brincar, diz ao sobrinho mais velho: "mas vais ler isto tudo?"
Lembrei-me de quando ouvia isso quando era mais novo. Para férias, levava uma pequena biblioteca que daria para viagens de carro até Pequim (e talvez ainda desse para chegar a Xangai). Nem era preciso ir de férias. Bastava ir a casa dos meus avós ou ir passear a Lisboa.
Mas, o que querem? O pânico de ficar sem livros é demasiado grande. O pânico de só levar livros que não nos apetece ler também é grande.
Solução? Andar carregado com os ditos cujos.
O Kindle ainda aliviou a coisa, mas o gosto do peso dos livros também bate forte...
Pensei seriamente em escrever uma série de posts, durante o fim-de-semana, para deixar o blog vivo durante a semana, para me concentrar noutras coisas, como o trabalho e isso... Ora, cheguei à conclusão que não consigo. Pelo menos para já, isto tem de ser mais imediato. Vou ter de me concentrar em tudo ao mesmo tempo, mas pronto, não virá mal ao mundo.
Entretanto, gostava de vos dizer que hoje tive uma grande prenda, na forma de 16-dezasseis-16 livros que o meu avô materno me trouxe da antiga loja onde trabalhou e que já fechou há muito tempo. Porquê? A dona da loja lembrava-se de mim e do meu amor pelos livros (há não me vê há uns bons 20 anos) e, como está a "despejar" essa velha loja, mandou-me uma das colecções que tinha por lá.
Ainda não vi bem o que é, mas cá está um pequeno flash... Uma colecção antiga de romances históricos. Não é a minha praia, mas nisto dos livros gosto de experimentar umas praias novas de vez em quando e livros velhos são sempre engraçados.
Hei-de voltar à tal loja do meu avô. Era uma daquelas lojas onde se vendia tudo, com um mobiliário antigo que parece um cenário dum filme de época, com uma campainha à porta, gatos no pátio traseiro, uma série de instrumentos de medida de que não sei o nome, onde chegou a haver uma estação de correios, o telefone da terra — era, enfim, o centro da vila, cujo nome ainda não me apetece dizer. Aliás, à frente da loja temos o pelourinho, ao lado direito a igreja e ao fundo a estrada principal. Só falta o café central, mas a loja do meu avô seria, na época, o café central.
Passei lá muitas horas da minha infância mais remota — tal como passei também na mercearia da minha avó paterna e na papelaria que o meu avô materno abriu depois do fecho dessa loja central. Hei-de voltar a tudo isto, porque há muitas histórias que me apetece contar...
O edifício dessa loja é lindo, com aqueles azulejos rectangulares verdes e uns desenhos muito bonitos no friso e umas águas furtadas. O edifício está mesmo a pedir ser transformado num hostel — e não sei se não será isso que vai acontecer...
Seja como for, hoje ganhei uma colecção — e isso merece um post, claro está!
Costumam ler noutras línguas?
Cá estou eu a acordar cedinho só para vos dizer mais umas coisas sobre livros.
(Mentira: programei isto ontem à noite. Domingo é para dormir, certo?)
Há quem tenha horror a livros de papelaria... Ou seja, àqueles livros que se vendem nas bancas dos jornais ou porque vêm em conjunto com os ditos jornais ou porque são mesmo vendidos, em separado nessas papelarias. Já ouvi dizer que são livros para pôr na estante e esquecer, que são livros para servir de calço de mesa, que são edições a tal preço que desvaloriza o objecto Livro (ajoelhem-se, se faz favor), enfim, no fundo, o que tenho ouvido é dizer, eufemisticamente, que são livros para pobres e os pobres não merecem livros.
Talvez esteja a ser demasiado cruel. É capaz de não ser isto, mas outra coisa qualquer.
Seja como for, confesso-me: como os meus avós maternos tinham uma papelaria, a papelaria foi uma das minhas portas de entrada no mundo dos livros. Nunca teria sido o leitor que sou hoje se não fosse a papelaria... Não se esqueçam que os leitores começam por ser pequenos leitores ou leitores com pouco dinheiro e os descontos, as edições baratas, etc., são tudo menos barreiras à leitura. São chamarizes...
Adiante. Este prolegómeno todo tem uma intenção: falar-vos duma colecção antiga, que era comprada na papelaria, mas que tinha capas lindas e que me permitiu ler grandes obras: A Insustentável Leveza do Ser, A Balada da Praia dos Cães, Cem Anos de Solidão...
Sim, podem ser títulos batidos, mas aos 14 anos, não há títulos batidos. Há muita coisa por ler e um entusiasmo que as idades posteriores não conhecem tão facilmente...
Vejam só a capa:
Sobre este livro em particular, talvez volte e ele. Li-o maravilhado com esse mundo literário, mas li-o cedo de mais, possivelmente. Lembro-me de andar a pensar onde o autor queria chegar com tanta palavra sobre kitsch. Mas alguma coisa ficou. Um chapéu na cabeça duma mulher nua (será que estou a imaginar coisas?), um prazer imenso em avançar pelas páginas... Emprestei-o maravilhado a um amigo, na altura, que mo devolver enojado. Sempre deu para perceber a insustentável leveza do gosto...
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