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Estou à espera duma pessoa e apetece escrever qualquer coisa no blog e não tenho nem tempo nem paciência para compor alguma coisa de jeito, e por isso deixo-vos um post de João Miguel Tavares, onde deixei uma colherada comentadeira.
O tema do post e comentários é esta coisa curiosa: vai na volta, os malvados jogos de computador até fazem bem ao cérebro, já viram isto? Quantas conversas sérias e preocupadas, entre pessoas da nossa laia (ou seja, dos livros) não estavam fundadas em pouco mais de nada...
Não tenhais medo, já lá dizia alguém. Jogai — e lede, já agora.
Digo isto sendo uma das pessoas menos jogadoras do meu grupo de amigos.
Costumam ler livros no telemóvel, tableta, kindle e outros que tais?
Sei perfeitamente onde foi o nosso primeiro encontro — não estou a falar da minha mulher nem de nenhum antigo amor (foram poucos, mas não me queixo). Estou a falar, isso sim, dum autor muito especial, que poucos conhecem porque tem aquele defeito que poucos leitores portugueses perdoam: é espanhol.
O autor é Javier Marías e a primeira vez que o vi foi na Fnac do Chiado, já lá vão muitos anos, e tinha este aspecto:
Estes anos todos depois, reparem bem nas manchas na pele, que isto a idade não perdoa:
Pois bem, mal sabia eu em que labirinto ia entrar… Este romance (?) não é exactamente um romance, nem uma crónica, ou talvez seja antes um post dum blog sobre livros um pouco sobre-dimensionado. Aliás, um post sobre livros do próprio autor! <pseudo>Ai, a auto-referencialidade dos autores pós-modernistas!</pseudo>
Pois bem (e já vamos no segundo “pois bem”), o que este livro conta são as peripécias do autor na sequência da publicação dum outro livro seu, anos antes, que relata a vida dum professor espanhol em Oxford, com uma série de personagens curiosas e um pouco ridículas a preencherem essas páginas desse outro romance:
Sim, Todas las almas passa-se em All Souls. O professor espanhol é professor de tradução, como se vê. Adiante. O certo é que vários professores e ex-colegas de Javier Marías — que como já devem ter percebido foi professor (e espanhol) em Oxford — e professor de tradução... — acharam que aquelas personagens eram, vejam só a desfaçatez, eles próprios.
Vêem-se enfiados num romance — e nada é mais literário do que ter personagens de carne e osso a pedir contas ao autor (e ex-colega).
E, assim, Javier Marías, quando volta a Oxford, vê-se envolvido num enredo curioso, enredo esse que, to cut a long story short (em português: “para despachar que isto já são horas”)...
(preparem-se, que desta não estão à espera…)
... termina com a sua coroação como Rei de Redonda, uma ilha nas Caraíbas.
Exacto. E não pensem que é mentira (vejam o artigo wikipédico: http://es.wikipedia.org/wiki/Reino_de_Redonda). Pronto, Javier Marías é apenas um dos pretendentes ao trono, mas é um pretendente com pergaminhos literários impecáveis. E é um rei que aproveita para oferecer condados e títulos de nobreza em geral a pessoas insuspeitas como António Lobo Antunes, Ian McEwan… Desta monarquia, todos nós gostamos...
O livro — Negra espalda del tiempo — é muito bom. Não julguem que vão encontrar literatura levezita, que o Javier Marías está ao nível dum Lobo Antunes. Mas dum Lobo Antunes muito brincalhão e com a mania que é rei.
Nesta misturada toda, claro que a ficção e a realidade ficam um pouco confundidas, e por isso não espanta que o início de Negra espalda del tiempo seja este:
Já não leio este livro há muito tempo. Acho que vai já para a fila (que já vai comprida).
Boas leituras!
(E, se passarem pelas Caraíbas, mandem cumprimentos ao Marías.)
(From Wikipedia, as usual.)
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