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Vamos lá ver como se diz "livro" nas várias línguas da Europa.
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(Logo a seguir a seguir este link, 95% dos leitores começa a procurar outras palavras no mesmo mapa, quase todas obscenas...)
Qual o melhor escritor português vivo?
Francisco José Viegas diz que "a leitura [é] cada vez mais uma atividade minoritária".
Este é o discurso habitual dos tipos de Letras, nos quais me incluo, orgulhasamente (tem dias).
No entanto, não consigo dizer que concordo.
Não tenho dados concretos (hei-de os procurar). O que posso fazer é pedir-vos para fazerem uma experiência mental: imaginem o país actual e imaginem ainda que escolhe, aleatoriamente, 100 jovens de 16 anos. Vamos encontrar um número determinado de jovens que gostam de ler.
Agora façam o mesmo exercício para o país há 10, 20, 30, 40, 50 e 60 anos. Em qual destes Portugais imaginam encontrar mais jovens de 16 anos que se considerem leitores?
Não se esqueçam que a escolha dos jovens é aleatória. Não são jovens na escola, não são jovens das cidades, não são jovens do Norte ou do Sul. São 100 jovens portugueses, aleatórios. Das aldeias, das vilas, das cidades, de todas as famílias.
O que me parece, sinceramente, é que a percentagem terá vindo a aumentar ao longo das décadas.
Porque digo isto?
Porque conheço muita gente que gosta de ler cujos pais e avós liam pouco ou nada. Conheço menos gente que não goste de ler e venha de famílias onde isso era uma tradição.
Isto não quer dizer que alguém habituado a falar, por exemplo, com jovens universitários não sinta uma diminuição do interesse pela leitura. Porquê? Porque o grupo dos jovens universitários alargou-se de tal forma que inclui hoje pessoas de origens muito diversas em relação aos jovens quase pré-seleccionados de há alguma décadas.
Mas, mesmo assim, há sempre um núcleo duro de leitores que não tem vindo, quanto a mim, a diminuir.
Como em tudo, temos de ver as coisas concretamente. Hei-de procurar os dados e vamos falando deste assunto.
(Outro assunto será o que se lê. Mas fica para depois.)
Sim, ia eu no carro, a ler António Lobo Antunes, com o meu avô ao lado.
O meu avô é uma pessoa muito curiosa. Julgo mesmo que muita da minha curiosidade insaciável vem dele (não sei se somos montagens dos nossos avós, mas às vezes parece).
Ora, diga-se o que se disser de António Lobo Antunes, do que não podemos acusá-lo é de inventar títulos que não chamam a atenção.
Assim, logo que parei de ler por momentos, o meu avô pega no livro e abre numa página qualquer.
Deve ter encontrado algo assim:
Ora, para quem foi educado pelo sólido ensino primário do Estado Novo, isto só podia ser coisa esquisita
(que nem português parece!)
Mas o meu avô não disse nada, porque respeita os gostos dos netos, mesmo quando são gostos tão degenerados que confundem esta pasta estranha com literatura.
Depois da animação que foi este blog durante o dia de ontem, hoje estou numa de nostalgia, por isso desculpem lá a lamechiche pegada que vai ser este post, mas o que passa é que por algum motivo (talvez a chuva, talvez conversas com colegas que vão ser pais, talvez ter deixado o meu filho no infantário há pouco) estou a pensar nos filhos e no que eles nos trazem para a vida, que é muito mais do que qualquer pessoa prevê antes de se meter nisso, e muito diferente de tudo o que se pensa antes de nos metermos nisso, e o certo é que — se não vêm nos livros — parece que os blogs têm sido uma forma de expressão do que é ser pai e mãe (e tio e tia e amigo e tudo o mais), porque se calhar o blog até será um género literário (?) mais propenso à lamechiche paternal, porque, enfim, algum género teria de haver para isso — e tudo isto para vos dizer que aquilo que mais custa quando se tem um filho é mesmo perceber que de repente aterra em nós um medo difuso e estranho, um medo que também sabe a outra coisa bem melhor, a amor, ou ligação, ou seja lá o que for esta coisa estranha que nos acontece a nós e aos filhos (o raio das palavras servem para muito pouco nestes campos que são muito carnais, no sentido menos comum dessa palavra) — um medo que nos estraga a vida, estraga a vida mas não nos importamos, estraga a vida porque ela tem mesmo de ser estragada, um medo absurdo que começa quando sabemos que estamos grávidos (e digo assim no masculino se não se importarem, mas se se importarem, a caixa de reclamações é mesmo aqui em baixo) e pensamos que vai passar quando nascer o bebé, e depois não passa, pensamos que vai passar quando ele tiver aí uns dois meses, e claro que não passa, talvez passe ao primeiro ano, e não passou, e sinceramente quando vejo o meu avô de 85 anos preocupadíssimo com a minha mãe de 53, acho que se calhar não passa nunca, e isto será para todo o sempre, amen, embora saibamos que não é para todo o sempre e, no fundo, é esse mesmo o medo, um medo que sabemos nunca terá um final feliz, porque isto mais tarde ou mais cedo acaba, mas, enfim, no medo de tudo isto percebemos que já não queremos finais felizes, o que queremos é um princípio feliz, um filho feliz nesse começo de vida, que nunca por nunca será fácil, mas é dele, e no meio disto tudo já me perdi, mas o medo continua cá, e também um aperto qualquer no esófago quando vejo o meu filho a rir-se, feliz, neste começo de vida que será o que ele quiser e o mundo deixar, e o mundo vai ter de deixar, porque estamos cá para o que der e vier. Portanto, tenham medo, mas sejam felizes.
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