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¶ Que dia...

20.01.14

Estas coisas da blogaria têm dias destes.

 

Hoje andei a falar de Séneca, de downloads ilegais, de bibliotecas que se encontram nas ruas de Inglaterra e custam 1 libra, de como a Amazon já me ofereceu, não um, mas dois livros, andei a comentar a bondade ou maldade dos jogos de computador, e ainda vos contei de como perguntei a uns velhos a jogar dominó "o que é a morte"...

 

Tudo num dia em que o vosse humilde blog esteve em destaque nos Blogs do Sapo.

 

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Obrigado!

 

publicado às 17:41

Gostaram de ler Os Maias?

 

[Em breve, conto-vos as minhas aventuras com os ditos cujos.]

A opinião generalizada entre nós, pessoas dos livros, é que os jogos de computador fazem mal às nossas criancinhas. 

 

Olhem que não, olhem que não...

publicado às 17:25

Hoje estamos numa de falar da Amazon...

 

Depois de alguns anos em que a Amazon era uma loja exclusivamente americana, os europeus lá receberam a Amazon.co.uk, que muito veio ajudar quem gosta de livros (e não só...) e não está perto de livrarias (e outras lojas). 

 

Hoje, é possível fazer encomendas da Amazon sem pagar um tostão de portes de envio. Ora, no meu caso, os portes gratuitos começaram mais cedo... Não só os portes, como os próprios livros.

 

Ainda estávamos no velhinho século XX, quando fiz a minha primeira encomenda. 

 

Tudo começou quando recebi um cheque-oferta da Amazon. Ainda poucos conheciam esta loja e devo ter recebido tal generosa oferta por ser assinante da Time. Não me lembro bem, mas recebi mesmo um cheque-oferta de $10. 

 

Ora, eu, do alto dos meus parcos 19 anos, não tinha cartão de crédito e muito menos dinheiro para gastar em muitos livros. Não me apetecia arriscar o cartão do meu pai, nessa altura em que a Internet ainda era coisa misteriosa — e, para um pai de 1999, ver um filho comprar coisas na Internet era quase tão suspeito como ver um filho ir a Marrocos comprar seja o que for.

 

Portanto, não tive opção: andei a vasculhar o site da Amazon (na altura ainda era possível vasculhar o site; hoje teríamos de ter umas dezenas de vidas para conseguir vasculhar uma secção do site...) e encontrei um livro que ficava a menos de 10 dólares, incluindo os portes para Portugal.

 

Fui lá ver o resumo da encomenda, estes anos todos depois, e ainda lá está:

 

 

(Acho fofinho da parte da Amazon deixar-me devolver o livro 15 anos depois...)

 

Fiz a encomenda, desconfiado. Sinceramente, duvidava que me enviassem o livro. Pensava ir receber uma mensagem a dizer: "Lamentamos, mas só pode aplicar o cheque-oferta a encomendas superiores a 125 dólares." — isto, mas em americano, claro.

 

Lá recebi o livro, muitos dias depois, e fiquei maravilhado. Um livro oferecido por uma misteriosa loja dos E.U.A.!

 

Li os poemas (o livro incluia mais do que o poema do título), numa edição pequenina mas muito bonita, com um papel a que não estava habitual. 

 

Naquele momento, senti-me como se tivesse sido transportado para os E.U.A. e estivesse a folhear um livro numa rua de Nova Iorque. O que a imaginação adolescente dum geek dos livros faz...

 

Se aprendi que Abril é o mês mais cruel, também percebi que Setembro era o mês de receber livros como prenda (o que tem lógica, pois faço anos em Setembro). Boa tradição, esta!

 

Curiosamente, poucas semanas depois, andava eu com o livro na mochila que levava para a faculdade, quando uma professora nos fala de T.S. Elliot e The Waste Land, dizendo que, obviamente, nenhum de nós saberia quem era tal pessoa nem que livro era esse. Sorri e tirei o livro da mochila. A professora embatucou.

 

Quase que lhe disse "a culpa não é minha...", mas deixei-me ficar calado.

 

E, pronto, fiquem com o início de The Waste Land:

 

I. THE BURIAL OF THE DEAD

APRIL is the cruellest month, breeding
 
Lilacs out of the dead land, mixing 
Memory and desire, stirring 
Dull roots with spring rain. 
Winter kept us warm, covering         
Earth in forgetful snow, feeding 
A little life with dried tubers. 
Summer surprised us, coming over the Starnbergersee 
With a shower of rain; we stopped in the colonnade, 
And went on in sunlight, into the Hofgarten,  
And drank coffee, and talked for an hour. 
Bin gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch. 
And when we were children, staying at the archduke’s, 
My cousin’s, he took me out on a sled, 
And I was frightened. He said, Marie, 
Marie, hold on tight. And down we went. 
In the mountains, there you feel free. 
I read, much of the night, and go south in the winter.

 

 

publicado às 16:48

Ora, esta sugestão do Sapo é muito curiosa, mas como estou no escritório e não em casa e apetece-me responder agora, que é hora de almoço (para quê comer, quando se pode blogar?), envio uma fotografia de livros de mesa de... escritório.

 

Então, aqui na minha secretária na empresa onde trabalho, tenho estes dois livros:

 

 

Ora, o que está por baixo é a The Cambridge Encyclopedia of Language, de David Crystal. Mandei-o vir da Amazon há uns tempos, e lá vou folheando e consultando. É sempre um bom passatempo. Para quem gosta de línguas e linguagem, é magnífico. Se quer saber porque existem tantas línguas, o que são famílias de línguas, o que quer dizer uma "norma", por que razão as pessoas falam de forma tão diferente de região para região, por que razão não se pode dizer que haja línguas melhores ou piores que outras, etc. — este livro ajuda a responder a (quase) tudo. O autor é um linguista inglês cujas obras são conhecidas por serem divertidas, o que poucos associam à linguística.

 

Já o segundo... Ora bem, confesso a minha ignorância, mas não conhecia a autora (Anna Banti) até um dia ter recebido uma encomenda da Amazon com este livro. Que nunca tinha encomendado.

 

Exacto, a Amazon mandou-me um livro que não encomendei.

 

Depois percebi que veio em substituição duma outra encomenda que tinha feito, e que não chegou. Depois de reclamar, lá me enviaram a encomenda original — e acabei por ficar com este também, por oferta generosa.

 

Posso dizer, a bem da verdade, que de todas as encomendas que fiz na Amazon — e já foram muitas —, esta foi a única falha. E sempre fiquei com um livro a mais...

 

(Hei-de vos contar um dia como foi a minha primeira encomenda na Amazon. Foi uma encomenda feita a 0 euros!... Ah, pois é...)

 

O rato por cima da enciclopédia é só para disfarçar...

Pelo que conta a minha mãe, sempre fui muito perguntador. Perguntava coisas absurdas aos meus pais, incluindo (com uns 5 anos): "o que é a oposição?"; "o que é a esquerda e a direita?" e outros assuntos fáceis de responder.

 

O meu auge de perguntador incómodo foi quando cheguei a um café tipo taberna, onde os senhores, digamos, mais velhos da terra do meu avô materno se juntavam para jogar dominó e damas e outros jogos desse tipo.

 

Portanto, vejam bem o cenário: um conjunto de pessoas já reformadas, já na chamada terceira idade, a distrairem-se da vida, a conversarem sobre tudo, menos o que eu perguntei.

 

E o que perguntei eu?

 

Segundo a minha mãe, perguntei: "O que é a morte?"

 

Imagino o silêncio interrompido por uma pedra de dominó a cair da mão de um dos pobres senhores...

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Toppledominos.jpg

 

Ora, nesta sequência de perguntas que gosto de fazer, este fim-de-semana, para deixar o blog activo enquanto andava por esse santo Portugal, programei 10 perguntas sobre livros, para serem publicadas de sexta à noite a domingo. 

 

Para quem estiver interessado em responder, podem encontrá-las aqui.

 

Agora, vou continuar a fazer perguntas de vez em quando, claro... 

publicado às 11:11

Ainda vos hei-de contar mais histórias de como o meu irmão foi para Inglaterra e as peripécias das nossas viagens por lá e as grandes discussões que tinha e tenho com o meu irmão por tudo e por nada, daquelas discussões épicas e deliciosas que davam um blog só por si.

 

Mas vou-vos contar um pequeno episódio sobre, what else?, livros.

 

Nas nossas viagens por Inglaterra, em que ou alugámos carros ou fomos com uma carrinha bem portuguesa até lá, um dos meus prazeres era encontrar aquelas livrarias de segunda mão onde encontrava livros a preços incríveis: £1, £2, 50p, 5p (!) e outros preços que fazem confusão aos olhos de leitor português.

 

Fonte: http://www.theguardian.com/books/2009/aug/04/oxfam-shops-booksellers

 

A minha família já se ria do meu entusiasmo e das sacadas de livros que levava dos vários sítios pelo preço dum livro numa loja portuguesa. 

 

As razões económicas ou fiscais por trás desta predilecção inglesa por vender livros ao preço do ar escapam-me, mas isso agora não interessa nada.

 

O que interessa é que estava eu muito bem numa rua de Newmarket (perto de Cambridge), a passear por entre lojas, com a minha família a rondar aquela rua descontraidamente, quando a minha irmã vem a correr pela rua fora: "Anda cá depressa! Depressa!"

 

http://www.newmarket.org.uk/

 

Ainda pensei que fosse alguma desgraça... Mas, não. 

 

Ela tinha encontrado o negócio do século para qualquer tarado dos livros.

 

Puxou-me pela mão e lá cheguei ao pé duma livraria daquelas tipo Oxfam ou lá o que é e ali estava um móvel, com a indicação absurda: "100 books: 1 pound".

 

Ainda fui perguntar se aquilo seria erro, mas não. Eram mesmo os 100 livros todos pelo preço de 1 só libra. Cada livro ficava a 1p, que para os mais distraídos é para aí 1 cêntimo e meio. 

 

Estava em choque.  

 

A minha irmã, que queria ficar com a honra de me ter encontrado o negócio do milénio em termos de livros, estava contentíssima.

 

Mas, claro, os livros eram todos, como hei-de dizer isto sem ofender? Eram todos uma porcaria. Coisas que nem sei bem o que eram. 

 

Entre eles, alguns livros aproveitáveis, mas que já tinha.

 

E entre eles uma edição portuguesa de A Morgadinha dos Canaviais (!).

 

Enfim, ainda pensei em trazer uns cinco, que mesmo assim seriam baratíssimos, mas o senhor da loja queria vender todos.

 

Por pouco não lhe perguntei: "e não me faz um desconto?..."

 

A minha irmã ficou triste. Mas não havia sequer condições logísticas para trazer a biblioteca mais barata do planeta para Portugal, muito menos só pela graça, que pelos livros não valia mesmo a pena.

 

E pronto, sou viciado em livros, mas não sou o sucateiro dos livros — e assim perdi 100 livros por uma libra.

 

P.S. Já agora, para os interessados nos aspectos económicos do negócio da Oxfam, que não são assim tão meritório, pelo menos vistos pelos olhos da concorrência, pode ser este artigo, donde tirei a foto.

publicado às 08:45

Vou-vos confessar uma coisa. Espero que não me levem a mal. 

 

O que tenho a confessar é isto: houve um dia em que cheguei à conclusão que não devia continuar a fazer downloads ilegais de música e filmes pela Internet. 

 

Como cheguei a essa conclusão (pessoal!), não vale agora vir para aqui descrever. O que posso dizer é que isso me trouxe alguns dissabores. Tentei explicar junto de amigos o porquê dessa decisão, tentei argumentar, mas aquilo que encontrava era apenas irritação perante a minha impertinência.

 

Afinal, o download ilegal é uma prática tão comum na minha geração que alguém vir argumentar que pode não ser a melhor coisa do mundo só pode ser coisa de lunático ou armado em santinho.

 

Não estou, garanto, armado em santinho. Nem sequer me ponho com grandes moralismos perante quem faz o que eu já fiz. Simplesmente, discuto e argumento — e julgo que ninguém pode recusar-se a um bom debate, mesmo que (ou principalmente se) a conclusão do debate nos possa levar a mudar algum comportamento.

 

Ora, isso sim critico: não o descarregamento ilegal, em relação ao qual continuo com dúvidas, mas sim ao facto de haver pessoas que recusam alterar qualquer tipo de comportamento depois de reflectir. Primeiro faz-se, depois arranja-se os argumentos necessários para justificar o que se fez — e nunca por nunca se considera a vaga hipótese de podermos estar errados.

 

Se pensarem bem, isso é receita para o desastre... Mas o que posso fazer? Não só muita gente se recusa a alterar comportamentos, como se recusam a alterar uma mera opinião. As opiniões, para muitos, são como as jóias: arranjam-se e penduram-se ao pescoço — e nada mais há a dizer.

 

Adiante. Estou a arriscar muito com este post, parece-me. Espero que me perdoem esta impertinência toda.

 

Outra coisa que, nesses (poucos) debates que tive sobre os tais downloads, reparei na argumentação contrária foi o seguinte: como eu já tinha feito downloads ilegais, não podia argumentar contra os mesmos. Mais: certamente continuaria a fazê-los. Aliás, tive um colega que ficou radiante quando reparou que eu usava o YouTube: "isso também é ilegal! Estás a ver? Não tens razão!"

 

Bem. Quanto ao YouTube, a conversa é mais complicada. Mas não é essa a questão. A questão é esta: eu descarregar ou não seja o que for terá pouca relevância para a razão (ou falta dela) dos meus argumentos. Não sei se estão a perceber... Eu podia continuar a descarregar e não deixar de ter razão nos argumentos. Se o fizesse conscientemente, seria certamente hipócrita, mas tal defeito meu não tiraria razão aos argumentos, que são independentes aqui da minha pessoa...

 

Esta questão é subtil, mas enfim... É meia-noite e meia, a cabeça já não pensa como deve ser. O que gostava de vos deixar para este início de semana é isto: 

 

 

 

E é assim que introduzo Séneca aqui no blog. A Vida Feliz, traduzido por João Forte, editado num livrinho cinzento, que veio publicado num jornal há alguns anos, e que me parece ser uma preciosidade que foi quase gratuita. 

 

Quer isto dizer que me julgo virtuoso? Que defendo a virtude, essa coisa tão outré? Nem por isso. Afinal, acabei de copiar um pedaço dum livro para colar aqui no blog. Onde está a virtude disso?

 

No que toca aos downloads, o que me faz impressão é o facto de estarmos a prejudicar quem cria aquilo que queremos: a música, neste caso. É como se estivéssemos a matar a galinha dos ovos de ouro. (E se no caso dos músicos poderíamos sempre argumentar que eles ganham é com os concertos, o argumento já não se pode aplicar no caso dos ebooks, por isso não é mesmo nada bom andarmos a roubar os nossos queridos escritores...)

 

Já agora, aqui está esse livrinho de Séneca ao lado de outro, que comprei numa saborosa livraria londrina, em 2011:

 

 

Quem é este Michael J. Sandel? Podem ouvi-lo no YouTube. É uma celebridade, como poucas haverá no mundo da filosofia:

 

 

O que está a fazer aqui? Bem, tem tudo a ver com o que está escrito acima (mas o homem nem sequer fala de downloads). Leiam e oiçam e vejam, que mal não faz, e só as pessoas aborrecidas acham isto tudo muito aborrecido...

 

Perdoam-me? Perdoam-me toda esta filosofia numa segunda-feira? Espero que sim...


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