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Sim, a nossa geração, em geral, gosta desta série como de poucas. Pronto, admito, talvez apenas a nossa geração urbana, o que faz uma grande diferença. Não sei, não fiz nenhuma investigação sociológica, e se calhar devia ter feito se queria comentar isto no Facebook. Adiante.

 

Esta série apresenta a vida atribulada dum grupo de amigos: um geek simpático (o Ted), um cabrão simpático (o Barney), um casal corny simpático (o Marshal e a Lily), uma boazona que é também um bro (a Robin) — que é, obviamente, desejada pelo geek e fica com o cabrão, porque a vida é assim mesmo — e todas as outras personagens que gravitam à volta destes gajos fixes. O final feliz está garantido pela presença dos dois filhos do Ted no início de cada episódio, lindos e interessados na vida de jovem do pai cool que o Ted tem de ser.

 

As situações são reais q.b., por vezes surreais, sempre de partir a rir, tudo numa comédia que tem o ethos da nossa geração, mas com aquela sensação feel good que nos faz dizer: sim, nós somos assim, com muito orgulho.

 

Claro que não somos bem assim... Antes de mais, não somos nova-iorquinos. Vivemos no Cacém, na Bobadela, pronto, talvez alguns de nós em Lisboa, outros no Porto, e para nós até Nova Jersey é algo mítico, terra de filmes e mitos muito nossos. Mas não é por isso. Lisboa também podia ser esta Nova Iorque. A questão é outra. A questão é que nós gostávamos de ser assim, mas nunca poderíamos ser assim. A amizade não é assim, é outra coisa, bem mais dolorosa. Sim, apaixonamo-nos e desapaixonamo-nos, mas custa muito e não há laughing track na nossa vida. Sim, há geeks e há cabrões e há boazonas e casais corny — mas muitas vezes somos todos muito maus uns para os outros, quase nunca nos toleramos assim e quase sempre andamos sem paciência para a geekice, cabronice, boazice e cornyzice dos outros. 

 

Mas depois, sim, queríamos ser assim. E isso já é alguma coisa. E na vida complicada de todos os dias, lá vamos encontrando uma ou outra oportunidade para sermos melhores e, uma vez por outra, em certas noites, numa pista de dança qualquer, até parece que somos personagens do HIMYM e ficamos felizes, porque é disso que esta série trata: da felicidade que encontramos no meio dos nossos amigos.

 

Fiquei a saber que ganhei um livro por causa duma galdéria.

 

É uma notícia verdadeiramente natalícia... 

 

Obrigado aos Blogs do Sapo e aproveito para desejar um Natal cheio de felicidade e tudo o mais que todos merecem!

É sempre assim, começo cheio de força e depois vai-se desvanecendo. Mas este blogue parece-me merecer mais. Vamos continuar...

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publicado às 22:58

Nada tenho contra os ebooks ou, em português de lei, os livros-e (ou seja, "livro Zé"). Tenho muitos desses e as estantes da minha casa agradecem: menos peso e menos pó.

Ah, mas às vezes tenho recaídas. Às vezes quero pegar em livros de papel, que possa snifar como antigamente. São recaídas raras: apenas umas trinta e duas vezes por semana.

Enfim, por isso lá fui eu, como acontece por vezes, passear com a minha mulher e meu pequeno filho para uma livraria. Um casal sossegado, aspecto minimamente respeitável, com um bebé. Eis se não quando——

Antes disso. Uma explicação dos antecedentes: há uns meses, encontrei um livro dum novo autor que não consegui parar de ler até chegar à última página (praticamente antes de chegar à fila para pagar). Chamava-se Maria dos Canos Serrados de Ricardo Adolfo (que nome!). Apesar de ler que nem um perdido, é relativamente raro ter uma reacção tão forte com um autor que não conheço. Isto da leitura também acaba por ir dar aos hábitos: quando sai um livro do Ian McEwan ou do Javier Marías (estou a tratá-los um bocado tu-cá-tu-lá, mas vocês compreendem-me), vou, de facto, a correr comprá-los. Às vezes, vou a correr clicar no site da Amazon... Depois, leio-os como se não houvesse nada para fazer (e há, ó se há). Esta reacção com um autor novo e desconhecido (para mim), isso é raríssimo. Pois o senhor Ricardo Adolfo conseguiu essa proeza. A Maria dos Canos Serrados é uma delícia (perigosa).

Como quem não quer a coisa, comecei à procura do primeiro romance dele, cujo nome não me lembrava, mas que haveria de encontrar. Não foi fácil. Passaram-se semanas. Fui esquecendo o entusiasmo. Não me lembrava já desse meu desejo quando entrei nessa livraria com a minha mulher e com o meu filho, há alguns dias.

Pois vamos muito bem os dois com carrinho de bebé pela livraria fora, quando vejo a capa. Por fim, encontrara o livro de que estava à procura. Aqui está:



Pois, exacto.

Lá fui com esta capa e este título, com mulher e filho, para a caixa. "Era aqui uma Galdéria, se faz favor. Mas não embrulhe, que vai mesmo assim."

Há vergonhas piores. Como, por exemplo, escrever um post num blogue que inclui as palavras "snifar" e "galdéria". Sinceramente.
(E, sim, foi este o melhor de 2013, para mim.)

A coisa começou simples: um blog, uns textos para os amigos. De repente, os amigos começaram a partilhar os posts. Pouco depois, alguns dos posts eram comentados por pessoas que nunca tinha visto ou de quem nunca ouvira falar. As pessoas pareciam gostar. Continuar a postar, a comentar, a sentir-se bem com toda aquela atenção. 

 

Alguns meses depois, arranjou os primeiros ódios de estimação. Alguns amigos mais dados a estas coisas deram-lhe pancadinhas nas costas: passara a um nível superior da blogaria nacional. Nenhum blogger é blogger se não tiver ódios e se não tiver seguidores fiéis que o protegem dos ódios e desencam nesses outros que bem merecem.

 

Continuou a escrever. De repente, já só vivia para o blogue. Um incidente no trânsito? Uma queixa inflamada no blog e os amigos a partilharem, a dizerem "é isso mesmo!", a clicarem no gosto como se não houvesse amanhã.

 

Uma senhora mais antipática a atendê-lo ao pequeno-almoço? Blogue com ela, disfarçada só pela via das dúvidas.

 

Um problema burocrático sem aparente solução? Blog com ele!

 

Um fremitozinho de poder passava-lhe pelos dedos e gostava de escrever cada vez mais e dispor dos outros, sujeitos como estavam à sua opinião inflamada e, acima de tudo, lida e partilhada por tantos e tantos. Sem dúvida, era um blogger especial.

 

Até ao dia em que...

 

Em que o quê? 

 

Cansou-se? 

 

Não foi isso: até ao dia em que teve um acidente na estrada, o outro não se deu por culpado, e decidiu publicar tudo no blog e chamar nomes ao outro e explicar como o outro era uma besta que se atrevera a pôr-se à frente dum blogger de sucesso, com 5000 seguidores no Facebook, trinta comentadores residentes, vários ódios de estimação e um webdesigner a manter o blog. Onde é que já se viu? A verve era tremenda. O blogue tremia de desprezo e indignação pelo atrevimento desse fedenho mal amanhado que não era ninguém neste mundo. As claques gritavam como num estádio. O pobre diabo que se atreveu a fazer não se sabia bem o quê nesse acesso ao IC19 era o bobo da festa e não sabia. 

 

Até que soube, porque o sobrinho era leitor do blog e avisou o tio. Que escreveu uma carta simples, a pedir desculpa, e a solicitar em poucas palavras para que o blogger da moda acabasse com a campanha de ódio, que estava a incomodar a filha de dez anos.

 

O blogger sorriu, sobranceiro. 

 

Mas sentiu um frio, qualquer coisa estranha na espinha. Perdeu nesse dia o seu pequeno poder de blogger e foi de férias uns tempos. 

 

Quando voltou, tinha ainda os 5000 seguidores no Facebook, mas tudo aquilo era uma brincadeira distante, como um jogo muito intenso e viciante que nos envolve durante umas horas até se desligar o computador uns minutos — momento em que vemos o nosso reflexo pálido no ecrã do computador e percebemos que nada daquilo é real. 

 

O problema é o dia em que vemos também a imagem duma miúda de 10 anos a ler mensagens de ódio contra o pai que se tinha esquecido de fazer pisca.

 

Mas nada disto é real, pois não?

publicado às 00:52

Anda sempre tudo muito preocupado com o contraste ou confronto ou lá o que é entre ciência e literatura (mais preocupados, claro, os literatos que os cientistas, mas adiante). Eu que sou da área da literatura mas não passo sem ciência (não praticando, porque não me arrogo ao título de cientista, mas lendo e conhecendo e tendo uma curiosidade que não sei bem donde vem) — dizia: eu que sou da literatura, acho que esta luta é estranha. Nem as duas actividades estão próximas, nem estão propriamente em confronto. Não costumo ler romances para saber mais sobre o universo...

 

Para mim, a ciência serve para saber mais.

 

Já a literatura. serve para viver mais.

 

Acho que é simples, embora, claro, seja uma simplicidade enganadora.

 

Só para dar mais um toque: a ciência serve para conhecer mais sobre o universo e rejeitar o criacionismo (por exemplo). A literatura pode servir, também por exemplo, para saber como é ser um criacionista radical norte-americano, como é viver na pele dele e ver o universo com a mente dele.

Uma falência é uma pessoa ter uma empresa — uma loja, um café, um escritório… — e as coisas começarem a correr mal, e a pessoa decidir que vai tentar que tudo funcione. Mas para que tudo funcione, era preciso empenho de toda a gente, mas qualquer pessoa (racionalmente), logo que lhe cheira a esturro, começa a pensar em como saltar do barco. A empresa começa mesmo a afundar, e a forma como uma pessoa pensa leva-a a ignorar que as coisas estão mesmo assim tão mal. A empresa afunda ainda mais. Começa a haver salários em atraso. Começam as recriminações. Em vez do entusiasmo matinal, é um martírio levantar-se para ir trabalhar. A mulher começa a dizer que sempre soube que a pessoa não sabia gerir a coisa. Os amigos começam a sussurrar — ou a pessoa começa a imaginar que sussurram. Há um gosto especial nos olhos de muita gente por ver as coisas a correrem mal, porque no fundo nunca gostaram desta ideia de uma empresa funcionar. Há despedimentos. Vende-se tudo. Há penhoras, a casa da pessoa vai ao ar, logo a seguir temos o inevitável divórcio. A auto-estima da pessoa está pelas ruas da amargura. Como estamos em Portugal, começar de novo é levar todo o estigma todos os dias para o trabalho. Mas, mesmo assim, vai para a loja, onde fica a jogar às cartas com o último empregado, que ficou e que se ri de tudo aquilo, sábio e antigo, enquanto não entram os gajos que vão fechar aquela merda toda. Foram vinte anos de sucesso, que em Portugal quer dizer vinte anos com uma empresa aberta, com pessoas empregadas, com problemas diários, com impostos a pagar, com muito trabalho. No final, fica tudo em ruínas, não há subsídio de desemprego, não há indemnização, não há nem o respeito nem a camaradagem que, mesmo assim, os trabalhadores sentem uns pelos outros no final duma desgraça destas. E a pessoa chora, muito, porque teve de despedir aquelas pessoas todas, com quem trabalhava e brincava todos os dias. Na televisão, o país está mal, mas a crise é uma palavra com cinco letras. Na vida desta pessoa, a crise é o vazio no esófago e a falta de vontade de recomeçar. E o vazio de saber que o vazio no esófago daquelas outras pessoas, se calhar, foi culpa dele. Não há noite que aguente, não há sono que venha, não há nada que alivie.

Desculpem lá, mas isto é sobre livros, mas também é sobre outras manias. E uma das minhas outras manias é a ciência. Não sendo, obviamente, um cientista, tenho uma obsessão pela ciência, que julgo ser muito saudável. Mas lá voltarei. Hoje apetece-me dissertar sobre a diferença entre pensamento científico e pensamento mágico.

 

Pensamento científico: é o pensamento que tenta encontrar um método para ultrapassar as limitações da mente humana e para distinguir a verdade da falsidade, tentando combater as tendências ou enviesamentos do ser humano. Para isso, é preciso disciplina e é preciso contrariar, muitas vezes, a nossa própria natureza. É sempre um pensamento precário e incomodado, porque tem de estar sempre vigilante e a desconfiar de si próprio. Tem de perceber a própria racionalidade do ser humano para conseguir chegar ao conhecimento verdadeiramente científico: aquele que sabe o que é falso, porque já testou hipóteses, mas nunca pode dizer com certeza absoluta qual é a verdade (mas consegue chegar muito mais perto dessa mesma verdade do que qualquer outro tipo de pensamento exactamente por admitir que não é possível chegar lá em termos absolutos).

 

Pensamento mágico: um tipo de pensamento que pega na mais vaga alusão, palavra ou pensamento e cria uma ilusão sobre o real que se confunde com o real em si por ser tão confortável e por não estar sujeita a qualquer tipo de crítica ou tentativa de teste ou experiência. Ou seja, pegamos numa metáfora, numa palavra bonita (por exemplo, "energia") e criamos toda uma fantasia confortável, bonita, que não testamos, não contrariamos e usamos para "explicar" o mundo.

 

Exemplos de pensamento mágico: astrologia, homeopatia, teorias da conspiração, muitas das nossas ideias sobre os outros, etc.

 

Já o pensamento científico é uma ferramenta poderosa para qualquer pessoa: basta para isso compreender os seus fundamentos. Não é fácil, mas também não é algo reservado a génios da ciência....

 

Enfim, voltarei a isto. Desculpem lá, mas não consigo evitar.

publicado às 00:23

Vou pela f**c fora a ver livros ingleses, uma espécie de prazer pouco culpado, se bem me entendem a estrutura a dar para o estrangeirado. Adiante. Pois, às vezes, lá encontro alguma coisa que não estava à espera (não vos digo já aquilo de que estou à espera quando procuro livros para não ficarem já com uma visão muito reduzida da minha pessoa, porque já sabemos como somos nós os humanos: com poucas pistas conseguimos criar toda uma imagem duma outra pessoa com uma facilidade assustadora).

 

Pois lá ia eu pela f**c fora, dizia eu, quando encontro um livro que me chamou a atenção, não sei bem porquê:

 

 

Se o título em si e a autora não eram de tom a deixar-me muito curioso, comecei a ler e fiquei logo agarrado. Não é por ser tarado, mas este início é estranhamente hipnótico:

 

 

Vinte vezes! E a senhora passa a descrever detalhadamente o pensamento da personagem principal durante as vinte investidas.

 

Se isto não chama a atenção, o que chamará?

 

O facto de estar muito, mas mesmo muito bem escrito também ajuda. 

 

Estou no início. Não sei se vou chegar ao fim, que tenho outras coisas ali a chamarem-me a atenção, mais livros na pilha de livros, sempre mais livros, cada vez mais livros (isto é uma doença!), mas este início vale por muitos livros. 

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