Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Acho que nunca contei isto a ninguém...

 

Houve um dia, há muitos anos, quando ainda andava na faculdade e vivia aquela vida de estudante complicada em que durante muitas alturas do mês não tinha dinheiro na conta, em que decidi ir à Fnac. Enfim, é um prazer como outro qualquer, mas a coisa às vezes era doentia. Ficava horas a olhar para os livros, cabeça de esguelha, sem poder comprar todos os que queria. Folheava, lia, folheava outro, sentava-me, dava mais um volta, via uns CD (na altura em que ainda se comprava música física), voltava aos livros, enfim... Muito li eu por essas sessões de solidão no Colombo (era lá que havia a Fnac). 

 

Pois bem, houve um dia em tive um problemazito. Fui para o Colombo, pus-me a ver livros, e perdi noção das horas. De repente, percebi que não tinha dinheiro para pagar o estacionamento! Ou melhor, eu tinha o suficiente na conta para pagar o estacionamento, que seria aí uns dois euros (julgo que já havia euros, mas não tenho a certeza). Só que não podia levantar dinheiro, porque não tinha o suficiente para uma nota que fosse (estes estudantes...). Tinha, se bem me lembro, uns três euros na conta...

 

Tinha um problema muito sério: como sairia dali? Não podia pagar o estacionamento com o Multibanco. Não podia levantar dinheiro. Não tinha dinheiro no bolso.

 

Já estava a imaginar o cenário: uma noite no Colombo... Telefonar a algum amigo para me ir salvar... Ou mesmo telefonar aos meus pais... Lavar pratos para pagar o estacionamento. Ficar eternamente a vaguear pelo Colombo, à espera dum realizador que quisesse fazer o filme da minha vida... Ou, simplesmente, ficar a dormir no carro... Uma série de acontecimentos estratosfericamente embaraçantes que me fariam vaguear como um farrapo inseguro, a tremer, pelo Colombo fora, sem dinheiro para comer, sem cama para dormir. Pânico!

 

Mas, fez-se luz...

 

Na altura, a Fnac oferecia estacionamento grátis a quem comprasse fosse o que fosse. Ora, havia uns livritos muito baratos, que custavam muito pouco... Aliás, havia, e há... A colecção é esta:

 

 

 

Pois, bastou pegar num destes livros, quase escolhido ao calhas, pagar com Multibanco, pegar no talão do estacionamento grátis e ir para casa.

 

(Talvez tenha sido mesmo as Gulliver's Travels, mas não me lembro.)

 

Fiz tudo com calma, mas estava nervoso: a solução era tão simples e calhava tão bem, que era difícil imaginar que não falhasse. Talvez já nem 3 euros tivesse na conta... Talvez os cartões com menos de 5 euros não funcionassem... Se calhar chegava ao carro e não tinha gasóleo para chegar a casa.

 

O que vale é que a casa onde vivia era ali perto (na mítica Buraca) — e o fim do mês estava a chegar.

 

E pronto, foi assim que a Penguin veio em meu socorro. E foi assim também que contei uma coisa neste blog que nunca tinha contado a ninguém.

 

Bom jantar!

publicado às 19:32


1 comentário

Sem imagem de perfil

De Vespinha a 14.01.2014 às 20:51

E que bela história, esta!

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.



Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Janeiro 2014

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031

Pesquisar

  Pesquisar no Blog