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Há bocado, no sítio onde vou cortar o cabelo (barbeiro? cabeleireiro? — não tenho tempo para essas discussões terminológicas) o senhor que estava a cortar o cabelo ao cliente do lado perorava alegremente sobre o Mal Deste País. E, para ele, o Mal Deste País é só um: temos muita teoria e pouca prática.

 

Estava entretido no meu mundo onírico a pensar se seria mesmo assim (os cabelereiros devem achar-me muito mal-educado, pois sem óculos não vejo nada — e não digo quase nada). Talvez sim, talvez não.

 

Vamos então teorizar um pouco (ou seja, na lógica do senhor, vamos enterrar mais este país). 

 

A verdade é que os portugueses são muito bons na prática. A encontrar soluções para urgências desatadas, somos os melhores. A fazer coisas à última hora, ninguém nos bate (talvez os nossos filhos predilectos que vivem lá no Brasil). A desenrascar soluções para problemas bastante intrincados, também somos extremamente bons. A tratar de pôr as coisas a funcionar quando é mesmo preciso, ninguém nos leva a melhor.

 

O Mal Deste País (na minha humildade opinião) é que não teorizamos sobre nada disto, perdemos o que aprendemos na prática — e, pior, somos nós, as mais das vezes, que criamos as urgências desatadas, os prazos a aproximarem-se que nem camiões desgovernados, os problemas bastante intrincados, as avarias no sistema... Ou seja, nós somos mesmo muito bons a resolver os problemas que nós próprios criamos. Porquê? Porque não planeamos, não pensamos antes de agir, gostamos mesmo é de meter as mãos na massa, primeiro para criar problemas onde não existiam e, depois, para os resolver com uma pinta do caraças. É que, nisso, somos mesmo bons!

 

Um amigo meu que trabalhou na Siemens diz que os engenheiros alemães costumam gostar muito dos engenheiros portugueses. Dirão as más línguas que é porque aceitam ganhar menos do que os alemães. Talvez. Mas também somos bons a resolver problemas. Eles planeiam e inovam. Quando as coisas correm bem, maravilhoso. Quando correm mal, chamem lá o português, se faz favor, que o plano já foi ao ar e agora estamos a navegar em águas desconhecidas e nisso os portugas são muito bons.

 

Já o pai do meu cunhado, que criou uma fábrica de fazer máquinas (não vale a pena entrar em pormenores) contou-me (é um episódio, e os episódios às vezes são interessantes) que há uns anos esteve numa espécie de workshop com alemães. Todos tinham de resolver uma série de problemas e criar não sei que mecanismos, em várias fases. Pois, quando surgiu o primeiro problema, as várias equipas ficaram baralhadas e os portugueses lá fizeram um brilharete: resolveram o problema rapidamente. A segunda fase consistia em criar um mecanismo que faria algo parecido à máquina do problema inicial. Pois os alemães criaram um sistema que evitava o problema da primeira fase, integrando a solução dos portugueses. Já os portugueses... Não integraram nada. Para quê evitar um belo problema que podemos resolver tão facilmente quando aparecer?

 

Portanto, amigos, não tenham medo da teoria. Prática já temos nós. Falta-nos saber usá-la em nosso próprio proveito e para evitar a nossa propensão para criar problemas que só os portugueses sabem resolver (ou seja, falta-nos a tal teoria).

 

(Uma advertência: este é um post baseado em episódios desconexos e teorias emanadas dum barbeiro barra cabeleireiro. Aconselho-vos a não confiarem muito nas conclusões que aqui se apresentam. É só um aviso!)

 

publicado às 14:53

Há uns anos, antes de viajar de avião, apeteceu-me comprar este livro. Sempre é melhor do que o outro hábito meu quando se aproxima uma viagem aérea: ver vídeos sobre voos, acidentes incluídos.

 

Há cada maluco.

 

publicado às 10:00


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