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Se pudesse comprar os livros todos que queria, esvaziava uma livraria num instante. 

 

Aliás, provavelmente compraria a própria livraria, que é um negócio apetitoso como poucos.

 

Adiante. 

 

Fui ver de livros ao sítio do costume e andei com dois na mão (aliás, foram mais, mais acabei com estes dois em direcção à caixa). 

 

 

 

 

Mas a carteira dói e acabei por ter de de escolher. 

 

Se calhar até devia ter levado o Magris. Mas 20 euros são 20 euros e fiquei-me com o Taleb (que não vai muito à bola com o Pinker, mas não faz mal). Quando tiver lido alguma coisa dele, digo-vos o que acho.

Pinker na Fnac

04.03.14

Andei a falar de Steven Pinker por aqui — e eis que ele está à venda, bem embrulhado, na Fnac do Colombo.

 

Aproveitem!

 

Já agora, a Visão também achou por bem falar dele e dos palavrões que por aqui já abordámos — mas chamou ao linguista Arthur Pinker. Ele, de facto, também é Arthur, mas ninguém o chama assim...

publicado às 15:08

Já aqui falei de como um livro fica ligado ao sítio onde o lemos. 

 

Aliás, não propriamente um livro inteiro, mas por vezes o episódio ou o parágrafo que lemos em determinado sítio.

 

Anos depois, é possível reler o livro e ser transportado para esse sítio em particular, com os sons e cores da altura — e com as sensações que tínhamos no momento (se estávamos tristes ou alegres ou cansados ou nervosos ou o que quer que seja). 

 

Ora, há uns anos, tive de ir a Madrid em trabalho, com a minha mulher (é uma das vantagens de trabalhar com a legítima esposa...).

 

Escolhemos um hotel barato que ficasse, mesmo assim, no meio de Madrid, para podermos passear um pouco e não ficarmos presos nos arrabaldes onde tínhamos de ir em trabalho.

 

Resultado: uma grande surpresa. O hotel onde ficámos não prima pela modernidade, mas não parece nada o preço que custou — no bom sentido. 

 

 

Só para perceberem: no terraço havia uma piscina, algo que não tínhamos reparado na reserva — tivemos de ir arranjar fatos-de-banho em Madrid para poder aproveitar o calor de Julho com o sol em chapa...

 

Enfim, enquanto aproveitávamos os fins de tarde quentes no terraço do hotel, com o som do trânsito da Gran Vía lá em baixo e a vista do Palácio Real para o outro lado, fui lendo Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares. 

 

O autor andava a intrigar-me. Acabei por pegar num dos livros de capa negra e comprar, para a viagem. O ambiente do livro é aquele que sabem: germânico, metálico, tudo arredondado com as boas palavras portuguesas. Uma espécie de Kafka a escrever directamente em português, e em bom.

 

 

Resultado, nesses fins de tarde de mergulhos, vistas urbanas entre reflexos de piscina e entardeceres quentes de Madrid, fui mastigando esse sabor de metal, sabendo que anos depois haveria de recuperar esses momentos ao reler o livro. 

 

 

Se não fosse um bom livro, pelo menos teria valido por isso — mas ainda por cima é bom.

 

Acho mesmo que Gonçalo M. Tavares anda um pouco mais à frente de nós todos. Daqui a umas décadas será, certamente, o melhor escritor português (já o deve ser, mas ainda não chegámos lá, nós, os portugueses). 

 

 

 

Fonte: http://www.emperadorhotel.com/

publicado às 09:50

Para não andar a chatear os caríssimos leitores deste blog com histórias e teorias sobre línguas e linguística (que ainda afugentava pessoal), criei este outro blog: Entre Línguas. Para já, está por lá uma descrição da situação linguística da Ucrânia. Não me podem acusar de não estar em cima do acontecimento...

publicado às 01:10

Nós, portugueses, habituados a um Estado com uma só língua (com uma excepção, eu sei) ficamos muito baralhados com a situação linguística dos outros países. Por exemplo, na Ucrânia: o que raios se passa num país onde (dizem-nos os jornalistas) uma grande parte da população fala ucraniano, mas há também muita gente a falar russo? Afinal, que línguas se falam na Ucrânia — e porquê?

 

A pergunta assume especial interesse nestes dias em que andamos a ouvir os tambores de guerra.

 

A situação é tão complexa que não chega um pequeno post para o destrinçar, mas algumas notas poderão ajudar a perceber a situação linguística da Ucrânia com mais clareza:

 

a) As fronteiras europeias são muito mais movediças do que a situação particular portuguesa pode fazer crer. Há territórios que pertenceram a muitos países ao longo dos últimos três séculos (para não irmos mais atrás). No caso da Ucrânia, há territórios que foram do Império Austro-Húngaro, outros que sempre estiveram sob o domínio (mais ou menos intenso) da Rússia — e já estamos a simplificar muito. Mas daqui resulta uma situação linguística complexa, em que partes do território sempre falaram ucraniano e outras sempre falaram russo (por "sempre" estou a querer dizer "nos últimos séculos", claro).

 

b) Durante o século XX, a Ucrânia fez parte da URSS, como sabemos. A União Soviética teve, em termos linguísticos, várias fases: houve alturas de intensa “russificação”, ou seja, de política oficial de imposição duma língua única em toda a união (o russo), outras de tolerância e até promoção das línguas “regionais” (como o ucraniano). Ou seja, alturas houve em que famílias que sempre tinham falado ucraniano começaram a incentivar os filhos a falar apenas a língua oficial da grande nação soviética, outras em que famílias que sempre tinham falado russo não se importaram que os filhos aprendessem ucraniano na escola. Estas vagas de imposições ou tolerâncias linguísticas criou situações complexas — e por isso não convém achar que há duas comunidades absolutamente separadas e opostas nesse que é o segundo maior país da Europa.

 

c) Já nos anos 90, a Ucrânia independente começou a tentar impor o ucraniano como língua nacional e oficial — algo que pode parecer natural a qualquer português. No entanto, esta imposição — que poderíamos chamar, à moda catalã, de normalização linguística — implica sempre alguma imposição às minorias, principalmente à minoria que fala russo. Também neste caso a tolerância para com o russo — que tinha sido a língua do Estado até ao momento da independência, para se tornar em língua minoritária na nova Ucrânia independente — teve fluxos e refluxos. O certo é que a língua oficial é hoje, apenas e só, o ucraniano. 

 

Estas são as três fases (em termos muito gerais) que levaram à complexa situação actual. No fundo, cada Estado — primeiro a União Soviética, depois a Ucrânia — sonha com uma situação em que tem nas suas fronteiras uma comunidade nacional e linguística homogénea. Ora tal situação é raríssima — Portugal é dos poucos países em que tal acontece de forma quase perfeita. Este “sonho” leva a a acções de uniformização e imposição intermeada por períodos de tolerância oficial e a situação acaba por ser muito mais complexa do que pensamos — principalmente num território que passou por fases de uniformização com base em duas línguas diferentes, separadas por poucos anos.

 

Dito tudo isto, sabemos que a Ucrânia se divide em duas zonas de limites pouco claros, mas que podemos identificar no seguinte mapa: 

 

http://edition.cnn.com/interactive/2014/02/world/ukraine-divided/ (mesma fonte abaixo)

 

Este mapa tem uma correspondência muito forte com o sentido de voto nas últimas eleições presidenciais: 

 

 

Esta correspondência começa a ser já um cliché quando falamos da Ucrânia.

"Ou seja, quem fala russo na Ucrânia não são apenas imigrantes?"
Exacto. Os falantes de russo na Ucrânia não são estrangeiros. Haverá muitos que imigraram de outras zonas da antiga URSS — mas uma grande parte são parte da população nativa da Ucrânia.

"Os falantes de russo são todos contra o novo governo e a favor do anterior?"
Obviamente que não. A situação não é assim tão clara. Mas há uma tendência bastante acentuada para quem considera o russo como primeira língua apoiar o governo deposto, como podemos ver no mapa acima.

"Quem fala ucraniano compreende russo e vice-versa?"
A questão da inteligibilidade das duas línguas terá de ficar para outro post. Mas independentemente da compreensão mútua, é importante compreender que os ucranianos aprenderam russo na escola durante a União Soviética — e os falantes de russo têm aprendido ucraniano nas últimas décadas. Só por aí há um grau de compreensão mútua muito elevado. Mas, como veremos noutros posts, a simples facilidade de entendimento linguístico não significa que duas comunidades se comecem a dar bem, digamos assim. Por vezes, a coisa passa-se ao contrário: a antipatia ou hostilidade leva a um maior afastamento linguístico. Veremos isso depois.

publicado às 01:08


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