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Quando cheguei à faculdade, no velho ano de 1998, finais do século passado, sabia muito pouco daquela música que dá para começar conversas com colegas. Tinha uma pancada muito grande por outros tipos de música, que não vale a pena descrever para já (o blog ainda agora começou, não quero que desistam já dele). Ignorava olimpicamente a música que interessava aos jovenzitos de 18 anos. O que quer dizer que não conhecia os Pearl Jam.


Sim, eu era desses.

A educação teve de ser rápida. Porque por onde me movia, Eddie Vedder era uma espécie de Deus na Terra. Comprávamos DVDs, discutíamos as músicas, andávamos por Lisboa à noite, CD com misturas exclusivas em altos berros e olhos embargados, porque aquela voz dizia tudo. Dizia o que éramos, o que não éramos — como os nossos pais não percebiam nada e ainda como estávamos juntos naquela aventura em que parecia que éramos os primeiros a passar por tudo aquilo. E aquilo era o quê? Não sei bem.

Quantos casais se fizeram e desfizeram ao som dos Pearl Jam. A fome era tanta que alguns de nós achávamos romântica (no sentido kitsch do termo) uma música como Betterman, que é, digamos, muito pouco simpática para o casal da letra — mas queríamos lá saber da letra, chorávamos, e logo a seguir era beijo na certa (não eu, que era um atado, mas adiante).

 

Estes anos todos depois, ficamos a abanar a cabeça perante os mais novos, que acham os Pearl Jam um bocado antigos, a música datada, coisa de cota. Abanamos a cabeça perante pessoas da nossa idade que dizem que nunca gostaram muito deles, mas enfim.

Já serão menos a ouvi-los. Mas ainda há alguns que ficaram aos saltos com o anúncio dum novo CD dos Pearl Jam. Já agora, será que ainda se pode dizer “novo CD”, ou já vai ter de ser “colecção de música a descarregar no iTunes”?

 

Portanto, se a II Guerra Mundial criou a geração dos Babyboomers, há-de haver aí muito puto entre 12 e 18 anos que foi concebido fisicamente pelo pai mas moralmente pela voz do Eddie Vedder. É um dos pais da nossa geração. 

 

(Já agora, tenho 33 anos. Só para saberem.)

 

(E foi mais um post sem livros, só para desenjoar. Eles voltarão. E em força!)

 

 

(Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Eddie_Vedder_and_Pearl_Jam_in_concert_in_Italy_2006.jpg)

 

publicado às 20:36

Bem, este será um dos posts livres de livros. E serve para vos dizer o seguinte: parece-me que a maior parte das pessoas está convencida que o resto do mundo é extraordinariamente estúpido.

Entendamo-nos: que há estupidez no mundo, há e sobra. Mas preocupo-me mais com a minha estupidez (que existe também) do que com a estupidez dos outros. Para mais, a forma como vemos o que os outros fazem e dizem é tão parcial, que teremos sempre muita dificuldade em perceber se somos nós que não os compreendemos ou se são eles que de facto não percebem. Na dúvida, perdoe-se o outro e tente-se ser menos parvo. Não sei se compreendem... Espero que sim, porque vos tenho em muito boa conta. 

Mas se não compreenderem, é bem provável que a culpa seja minha. Por isso, explico de novo: quase toda a gente é estúpida de vez em quando. Todos nós. Sem excepção. Mais vale preocuparmo-nos connosco. Porque, no que toca aos outros, o nosso cérebro está enviesado para generalizar e a nossa mentalidade está mais preparada para sublinhar o mau em detrimento do bom. Junte-se tudo isto e, dando tempo suficiente ao cérebro para mastigar todas as informações obtidas de forma enviesada e negativista (no que toca aos outros), um ser humano normal fica convencido que os outros são estúpidos.

Quando alguém está muito convencido que é muito inteligente, então aí é que a porca torce o rabo. Fica isolado na sensação confortável que o mundo é uma colecção de estúpidos e ele é um dos poucos iluminados.

Não é. Felizmente.

publicado às 16:34

Ora bem, uma das coisas que gostava de fazer com este blog era navegar pela biblioesfera nacional... Ando a tentar fazer uma lista de blogs livrescos nacionais, mas a coisa é difícil e demora tempo. Mas aqui vai uma primeira lista, de blogs sobre livros ou por onde andam livros muitas vezes e que me parecem activos. Conhecem mais algum que queiram partilhar?

 

Mais tarde, hei-de completar a lista e criar o meu primeiro blogroll de livros, para pôr aqui ao lado. (Hei-de ter blogrolls sobre as outras manias, claro.)

 

 

 

(Um dos grandes blogs da biblioesfera nacional.)

 

Sim, confesso: às vezes peço à minha mulher para levar o livro que estou a ler na mala dela quando saímos de casa. E confesso também que raramente saio de casa sem um (ou mais) livros. Assola-me o terror de ficar mais do que cinco minutos parado, à espera de alguém ou numa fila ou em qualquer sítio aborrecido e encontrar-me sem livros — perdendo assim esses cinco minutos de leitura. Sim, isto é uma doença grave.

Mas, dizia eu, peço muitas vezes à ----- para me levar um livro na mala. E ela aceita, quase sempre. Afinal, conhece bem o bicho com quem casou.

 

Aceita quase sempre.

 

Quando lhe aparece um calhamaço destes à frente, a coisa pia mais fino:



(Ainda por cima em francês, que é língua que ela não gosta nem para carregar na mala.) 

Isto explica que haja livros que leio de forma muito vagarosa, mesmo que tenha vontade de os ler a todo o momento. E este é um caso desses. Tanto assim é que, mesmo depois de ter comprado o dito calhamaço, procurei afincadamente a versão electrónica, pela qual pagaria, se a encontrasse. Mas presumo que o autor seja um ebookofóbico — e se o autor não autoriza, quem sou eu para descarregar uma qualquer versão electrónica dum livro?

E assim se percebe porque que estou ainda no início deste romance policial (La Verité sur l'Affaire Henry Quebert), cujo narrador é um jovem escritor americano, que se vê envolvido num caso de polícia, porque o seu melhor amigo, um escritor consagrado, se vê acusado de assassinar uma menor, 30 anos antes — isto quando o corpo da rapariga é encontrado no quintal do acusado, com o manuscrito da sua obra-prima entre os ossos.

Policial, livros, editores, manuscritos, amores proibidos... Tem tudo para ser um vício para um livrólico como eu. (Ou será bibliólico? Ou anglosaxonicamente bookalólico?)
 
E, sim, armado aos cágados, estou a ler em francês. Há uma tradução em português, mas gosto de, por vezes, treinar o músculo do francês — e, por alguma razão, não me custa nada ler policiais nessa língua (por intercessão de São Simenon, talvez).

Curiosamente, acabo por ter um certo prazer perverso em ler livros franceses com alguma relação com os EUA. É uma perversão intelectual minha, se quiserem. Estes dois povos, parte do trio fundador da democracia como a conhecemos hoje, gostam tanto um do outro como os portugueses gostam dos míticos castelhanos de Aljubarrota. E, no entanto, a relação franco-americana parece ser uma relação de amor-ódio ou talvez de ex-namorados… Afinal, se bem se lembram, no começo de vida dos Estados Unidos, a França era a namoradinha e o Reino Unido era o mau da fita. A França, qual amante enlevada, mandava estátuas da liberdade… Hoje, os franceses acham os americanos a origem de todo o mal cultural e político, uns parolos optimistas que andam aos tiros pelo mundo fora, num massacre cultural chamado de “mondalisation”, enquanto os americanos acham os franceses uns cobardes armados ao intelectual (1), fechados numa cultura decadente e imoral. Ai, que isto são dois simplismos. Mas não somos todos simplistas ao extremo ao olhar para os povos que consideramos estrangeiros? 

 

. . . . . . . . 

 

Alto e pára o baile. Reparo agora que este último parágrafo se baseia num erro de palmatória. Afinal, o autor do romance acima fotografado com amor e carinho não é francês. É suiço. Caraças, o parágrafo estava tão giro, o homem tinha mesmo de ter a nacionalidade errada. Portanto, agora posso apagar o parágrafo, ou continuar para bingo como se nada fosse.

 

Ponho o parágrafo em itálico e adiante.

 

Continuemos, pois. Outro livro em francês sobre os EUA que li há uns tempos (confesso: não o li na totalidade, nem sei se cheguei a metade, mas não interessa) é American Vertigo, de BHL:


 

Sobre este, não vou dizer grande coisa para já. Pode ser que volte um dia, quando já tiver dado outras voltas aqui às minhas estantes e tiver tempo de o ler até ao fim. O que me apetece dizer agora é que estes livros são interessantes e fazem-nos cócegas no cérebro porque nos dão cabo de dois preconceitos. Por um lado, estes franceses parecem compreender a América melhor do que muitos americanos (o que parece ser uma tradição antiga). Assim, ficamos a perceber que os franceses não são todos anti-americanos primários. E, olhando para a América com olhos franceses, lá vemos vendo que a América não é o que anti-americanismo caseiro também acha que é.

A leitura quebra-nos preconceitos e tal: também é para isso que serve...

Todo este arrazoado fez-me lembrar Paris e um livro que folhei num quarto dum primo francês (que nunca vi) nos idos de 1996... Primo francês esse que nunca conheci. O que estava eu a fazer no quarto dum primo francês que nunca vi na vida? Não perca o próximo episódio...

(continua...)

 

 

 

(Fonte aqui.)

 

(1) Já agora, este artigo do The Economist sobre o pessimismo francês é muito interessante. 

 


 

A segunda parte deste post está aqui:

¶ Quando fomos a Paris e encontrámos o mistério do WC (e também falamos de livros)


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